quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A história de Agar é a nossa história também


Existem muitas histórias na Bíblia sobre chamamentos, sobre “nomear” ou dar um nome. São histórias poderosas que nos falam da jornada espiritual de alguém ou sobre uma decisão tomada por pessoas ou grupos. Uma dessas histórias é a de Agar. Em meio à adversidade, a escrava Agar encontra a Deus, vê Deus, confronta a divindade com valentia. Às vezes não há outra saída a não ser confrontar Deus ou a noção de Deus que recebemos de terceiros. Como escrava, Agar não detém o controle de seu corpo e Sarai a oferece a Abraão como corpo e matriz para gerar um herdeiro. Quando Agar engravida, Sarai a trata com crueldade e Agar foge da casa de seus senhores. Deus a encontra em frente a um manancial e pede a ela que volte à casa de sua patroa e se submeta à sua vontade. Por que Deus lhe pede tamanho sacrifício? Talvez porque a história é narrada do ponto de vista dos senhores. Não há dúvida de que a coragem de Agar não desaparece da história: Agar confronta Deus, recebe uma benção e oferece um novo nome a Deus: “o Deus que vê”, pois Agar diz: ”Deus tem me visto e eu ainda estou viva”. Agar descobre um novo Deus, que se comunica diretamente com ela, uma escrava. Um Deus que não pertence aos poderosos.
  
De certa forma, a história de Agar é também a nossa história. Todos e todas nós, enquanto grupo marginalizado, necessitamos encontrar um Deus diferente; também confrontamos Deus, ou certa noção de Deus que recebemos de dogmas, tradições e igrejas. Chamamos Deus de diferentes maneiras: amigo, queer, amante, mãe, arco-íris. E ao fazê-lo, descobrimos que ninguém é dono de Deus; Deus é nosso também. Nós somos queer hispânico-latinos e aliados. Somos hispânicos ou latinos/latinas?  Somos porto-riquenhos, mexicanos, salvadorenhos, dominicanos, argentinos, guatemaltecos e outros? Sim, somos tudo isto e também somos a Raça, o Sangue e a Aliança.


Muitos e muitas de nós viemos a esta terra como uma opção, em busca de possibilidades, outros estão aqui como resultado da falta de opção, Sem dúvida, como Agar, encontramos Deus em meio à adversidade, recebemos bênçãos e agora somos chamados por Deus para sermos fortes na ICM, para construir uma igreja com muitos rostos, muitas cores, muitas línguas, orientações sexuais diferentes, sexos e idades diferentes. Somos chamados a construir a nova igreja com muitos nomes e com diferentes formas de nomear a Deus. 

Rev. Carmen Margarita Sánchez De León

Tradução: Priscila Galvão

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