segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Só a bondade é digna de fé


As pessoas “interessam-se mais pelo que disse uma figura eclesiástica, do que por aquilo que disse Jesus”, escreve José María Castillo, teólogo espanhol, em artigo publicado em seu blog “Teologia sin Censura”, 14-09-2012. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

A crise econômica, a incompetência dos políticos para resolver essa crise e tantas outras, a independência da Catalunha, o caso Bolinaga, os problemas da educação e da saúde, o desconforto geral sentido na Espanha, todos estes assuntos e muitos outros, que preocupa a todos nós, nos angustiam, nos irritam..., não se resolvem – nem irão se resolver - apenas por modificar o sistema político ou tentar corrigir as mil dores de cabeça que a situação econômica está nos dando.

Para ver se, de uma vez por todas, colocamos na cabeça que esta incrível confusão, de dificuldades e problemas, não é corrigida mudando normas ou retirando alguns governantes para colocar outros. É claro que essas mudanças, se é que são feitas com acerto, poderiam melhorar algumas coisas.

Porém, que fique claro, como solução de fundo, que o decisivo não é a mudança das normas ou de quem administra o cumprimento de tais normas. O que é verdadeiramente decisivo é a mudança das pessoas. Enquanto não mudarmos nossa mentalidade, nossas convicções, nossa forma de ver e valorizar a vida e, sobretudo, a atitude que cada qual adota diante dos demais, podemos ficar seguros de que isto não muda, não saímos da crise e nem encontramos solução.

Compreendo que algumas pessoas, ao ler o que estou dizendo, irão pensar que isto não passa da sabida solução da ingênua “bondade”, que não passa disso: uma ingenuidade bem intencionada, com a qual não se vai a lugar nenhum. E é verdade - e já disse isso - que precisamos de leis justas e de governantes capazes de colocá-las em prática, fazendo-as realizar-se. Isso todos nós sabemos.

Porém, o que não acabamos aceitando é que o principal problema está no coração de cada um de nós. Quando escrevo isto (no dia 13 de setembro de 2012), li e pensei por um bom tempo no texto fundamental do evangelho de Lucas (6, 27-38), que é o centro do sermão da planície, o equivalente ao sermão da montanha no evangelho de Mateus (5, 7). E confesso que senti uma profunda tristeza. Por dois motivos:

1) Quando escrevo algo sobre o Evangelho, dou-me conta de que isso apenas interessa a grande maioria dos leitores.

2) Quando publico algo relativo à Igreja, sua liturgia, suas normas, seus bispos..., os comentários são, não apenas mais abundantes, mas sobretudo (e com certa frequência) de uma acidez e, às vezes, até de má educação, que chego ao fato de que, durante muito tempo, resisti aceitar, mas que percebo que é como é: muitas pessoas se importam mais com a Igreja do que com o Evangelho.

E, portanto, interessam-se mais pelo que disse uma figura eclesiástica, do que por aquilo que disse Jesus. Isto é realmente assim? E se é, não valeria apena analisar a fundo?

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