sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O "Novo Pentecostes" da Igreja


"A Igreja Católica se descobriu, segundo a análise do grande teólogo alemão Karl Rahner, como Igreja no mundo, verdadeira “Igreja mundial”, afirma Dr. Margit Eckholt, professora da Universidade Osnabrück e painelista no Congresso Continental de Teologia, a ser realizado nos dias 7 a 11 de outubro, em São Leopoldo, RS.

Eis o artigo, aqui reproduzido via IHU.


O Concílio Vaticano II tem sido chamado um "Novo Pentecostes" para a Igreja Católica, e necessitamos hoje do aggiornamento [atualização] e da memória viva desse "Novo Pentecostes".

O aggiornamento do Concílio se realiza acima de tudo mediante a Constituição Pastoral Gaudium et Spes. Ao compenetrar-se com a situação da humanidade atual, a Igreja se converte numa instância presente no “hoje”.

Em consequência de sua redescoberta da essencial estrutura encarnatória da fé, descobre a presença divina na luta dos humanos, homens e mulheres, no sentido de desenvolver sua humanidade. Isso se condensa em ler os “sinais do tempo” e nos desafia: a paz que está em perigo, o desequilíbrio norte-sul, os problemas da pobreza cada vez mais agudos, o diálogo, necessário mas também desafiador com os demais: as igrejas cristãs e as outras religiões, e também a questão feminina.

A Igreja define sua nova identidade como Igreja no mundo, opondo-se com a força do Evangelho a tudo aquilo que signifique desamor, morte e lesa-humanidade.

A recepção desse aggiornamento se concretizou, na América Latina, sobretudo na Igreja e na teologia: as conferências gerais do Celam a partir de Medellín, o nascimento da Teologia da Libertação, uma igreja que levou a sério a “opção pelos pobres”, também inscrita na constituição Lumen Gentium do Concílio.

A Igreja católica se descobriu, segundo a análise do grande teólogo alemão Karl Rahner, como Igreja no mundo, verdadeira “Igreja mundial”. Ainda hoje a Igreja está no processo desse descobrimento e, por isso, faz falta a memória viva dos caminhos percorridos na América Latina: o tema do Congresso que ocorrerá na Unisinos não somente toca as Igrejas latino-americanas, mas também a Igreja alemã.

Faz falta desenvolver em comum o que significa hoje em dia ser igreja “encarnada” no mundo, signo de reconciliação e respeito ao outro, o que significa ser cristão, ser cristã num mundo fragmentado, pluricultural, onde estão em diálogo, mas onde também se confrontam as diferentes religiões.

Auditora do Concílio, irmã Mary Luke Tobin escreveu: “the council was a door opened wide – too wide to be closed. Renewal has no end. If it is to continue to be life-giving, it must go on and on” [“o concílio foi uma porta amplamente aberta, demasiado aberta para ser fechada. A renovação não tem fim. Se é para continuar a fim de ser doadora de vida, ela deve ir sempre em frente”]. Este também é meu desejo para nosso tempo: uma análise aprofundada dos textos e novos impulsos do Concílio Vaticano II, o que vai ajudar a deixar abertas as portas da Igreja, em seu serviço ao Evangelho, à humanidade e a toda a criação.

A Igreja ganhará reconhecimento numa sociedade global, muito fragmentada e polarizada, abre fronteiras, constrói pontes e está comprometida na luta pela dignidade dos homens e mulheres, pela paz e cuidado de toda a criação.

Novo Pentecostes significa não perder a esperança que o Espírito e a Sabedoria de Deus vão acompanhar a Igreja também hoje, e conduzi-la para o “novo” que nos falta para ser verdadeiramente testemunhos do Reino de Deus em nossa atualidade.

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