sábado, 13 de agosto de 2011

Essa manga é rosa?


Um belo texto do nosso amigo Eduardo da Amazônia, datado de 29 de novembro de 2008:

Curiosidade de heteros, desconfiança de lésbicas e gays de análises apuradas e sentidos antenados. É assim geralmente o caminho que um homem perpassa quando está sendo descoberto ou descobrindo-se homossexual. Pode ou não ter se relacionado com uma pessoa do mesmo sexo: com o vizinho, o primo, o colega do irmão... ou pode simplesmente ter segurado o fôlego ao ser atendido por um belo garçom num barzinho a beira do ver-o-rio ou suspirado ao ver o sarado rapaz que tradicionalmente corre todas as tardes na Praça Batista Campos. Pode até dar uma disfarçada tomando um tacacá, flertando-o por cima da cuia, mas por todo corpo começa a circular uma gostosa energia.

Essa energia começa a fazer bater o coração mais forte, vibrante como a multidão de pessoas que nos dias de Remo e Paysandu no mangueirão balançam a arquibancada do estádio ou dos/as “pavuleiros/as” nos domingos de junho dançam, pulam e cantam na Praça da República. E por falar nisso, me lembrei com o Teatro da Paz que também tem certa semelhança com os gays: alguns têm o privilégio de conhecer por dentro, outros não e até mesmo tem alguns que não fazem questão de ver e já se contentam com o que viram por fora. Os porquês são outras histórias que não nos cabe no momento.

E se na missa das 18hs na Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, logo na entrada você recebe aquele olhar... e no abraço da paz, recebe um toque no ombro e ao virar ganha um gostoso e apertado abraço! Fica confuso com medo de estar a pecar, mas logo se lembra das palavras de Jesus dizendo: “Eu vim para que todos tenham vida em abundância” (Jo 10,10); e alivia quando se lembra: “Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres...” (Gl 5,1). E no final da celebração, um cumprimento e um escondido papel passado pelas mãos contendo número de telefones, MSN, orkut e uma frase: “te espero terça-feira às 19hs na Casa das Onze Janelas”.
Chega em casa fica com medo, confuso, bebe um pouco de suco de cupuaçu e rever o bilhete que estava em seu bolso. Esconde rapidamente antes que alguém veja e corre para o quarto, cobrindo-se do frio que a chuvinha lá fora traz e fica pensativo: flertes, o garçom, o abraço, o bilhete...

Atrasado e correndo atravessa frente à Igreja da Sé, onde logo avista aquele que o espera e logo caminha em sua direção. Num abraço forte e pedindo desculpas pelo atraso, inicia a conversa de apresentação. Olhar sério, sorrisos e a água da Baia do Guajará batendo na margem embala a noite. A hora avança e as pessoas já começam a se dispersar e apesar de morar em Icoaraci, quer permanecer, parecendo não estar preocupado com o horário ou não. Olha para um lado e outro e não vê mais ninguém e mal vira a cabeça em direção ao garoto e é surpreendido com um beijo roubado. Facilita até para o assaltante atravessando seus braços sobre suas costas num abraço, acariciando-o com suas mãos. Sobre o céu da Amazônia, carícias proibidas trocadas no desejo de viver intensamente este momento como se fosse o último.

Se esta manga é rosa? Isto eu não sei, só sei que em Belém do Pará “a medida do AMOR é AMAR sem medidas”. Escondido ou não: experimente! Descubra-se como alguém que merece e deve ser feliz. Quem sabe não irá descobrir que a chuva das duas pode ser diferente...

- Eduardo da Amazônia (@EduAmazonia)
Reproduzido via blog do autor.

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