Foto: Tuane Eggers
Será que a homossexualidade é uma coisa errada? Essa é uma questão controversa há séculos - muito embora apenas 150 anos atrás a pergunta talvez fosse "Será que a escravidão é uma coisa errada?". As duas questões são alvo de disputas há centenas de anos, mas só há cerca de 150 anos a questão da escravidão foi resolvida para a maioria dos cristãos - e, ainda assim, nem todos. O que aconteceu? O que aconteceu foi que maneiras muito tradicionais de ver a sexualidade humana e a Bíblia mudaram, graças ao que sabemos agora (e não sabíamos antes) sobre os seres humanos. Por exemplo, o fato de que os seres humanos são criaturas de Deus, feitas à sua imagem e semelhança, e que a escravidão constitui um abuso em relação ao fato de que Deus está presente em cada um de nós. Não é estranho que tenhamos demorado tanto tempo para reconhecer isso?
Com relação à homossexualidade, verifica-se também uma mudança de mentalidade entre muitos cristãos em todo o mundo, com base nem tanto no que a Bíblia diz - pois lembremos que ela tolera, e não condena, a escravidão, bem como afirma que as mulheres devem ser vistas, mas não ouvidas, na igreja... e sabemos que isso deixou de ser verdade, sobretudo na Comunhão Anglicana, onde há bispas, e, nos EUA, até uma arcebispa! O que mudou, então? O que mudou foi nosso entendimento da pessoa humana, como aconteceu no caso da escravidão. A maioria dos "pensadores modernos", mesmo os cristãos, acredita que a homossexualidade não é uma escolha, mas uma característica - para uns, fruto do ambiente; para outros, herança genética. De todo modo, ser homossexual não é uma escolha; trata-se, isso sim, de aceitar uma parte de quem você é, pessoa que Deus criou à sua imagem. Essa é a mudança fundamental de mentalidade. Se homens e mulheres são homossexuais por natureza e tudo o que Deus faz é bom, inclusive a expressão sexual tal como ele a criou, isso nos torna capazes de compartilhar nossa sexualidade a partir do Amor e da Responsabilidade.
Tendo chegado a essa conclusão, e ao mesmo tempo em que cada vez mais gente em todo o mundo chega a essa mesma conclusão porque conhece homens e mulheres homossexuais que são saudáveis e levam vidas e relacionamentos ordenados, a ponto de constituírem exemplos para os outros, eu gostaria de mencionar dois bispos da Comunhão Anglicana: Mary Glasspool, Bispa Sufragânea de Los Angeles, e Gene Robinson, Bispo da Diocese de New Hampshire [assista a um depoimento seu aqui]. Cito-os porque, embora não seja nada fácil tornar-se bispo anglicano/episcopal, essas pessoas amorosas e honestas são líderes em suas congregações e exemplos de santidade. Conheço ambos pessoalmente. A eles se junta um sem-número de ministros, sacerdotes, rabinos e outros líderes religiosos do mundo que são homossexuais. As Igrejas Presbiteriana e Luterana nos EUA afirmam que a homossexualidade deixou de ser um impedimento à ordenação. Lembremo-nos de que outrora, em determinado momento de suas histórias, essas mesmas igrejas deixaram de ordenar pessoas por serem "negras" ou "asiáticas".
Em conclusão, um número cada vez maior de líderes religiosos vem aceitando o fato de que a homossexualidade não é um pecado nem é algo errado; pelo contrário, os homossexuais, como os heterossexuais, têm a oportunidade de viver sua sexualidade de forma integral e íntegra, com transparência e abertura, como parte que são da maravilhosa diversidade da humanidade: homens, mulheres, pessoas das mais diversas raças, idades e estilos de vida.
É um orgulho para mim dizer que pertenço a uma Igreja que aceita plenamente as pessoas gays, lésbicas, transgêneras e bissexuais por acreditar que Deus ama todas as pessoas, qualquer que seja o seu estilo de vida. Claro que há quem condene os homossexuais e os acuse de serem imorais. Também existem ainda os racistas, os fanáticos, os que têm preconceito de classe social e os que odeiam aqueles que julgam diferentes de si mesmos. O fato de existirem faz com que estejam certos? Só a própria pessoa pode julgar. Ou talvez Deus deva ser o Juiz. O que foi mesmo que Jesus disse a respeito?
- Pastor Vincent C. Schwahn
Vincent C. Schwahn é um sacerdote ordenado da Igreja Episcopal desde 1991, canonicamente residente na Diocese de Los Angeles. Tendo exercido o sacerdócio na Igreja Anglicana do México por cerca de 15 anos, agora é reitor interino em St. Clements by the Sea, sul da Califórnia. É abertamente gay e um ativista pelos direitos humanos e sexuais.
(Traduzido daqui. Grifos nossos. Dica do querido Hugo Nogueira, como sempre. ;-)) Tweet
2 comentários:
Quero somente fazer uma correção: Mary Glasspool, Bispa Sufragânea de Los Angeles e não Sufragista, como foi traduzido.
Obrigado pela correção, Frei James! Já alteramos o texto original.
Receba nosso mais fraterno e caloroso abraço!
Equipe Diversidade Católica
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