sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Ninguém nasce homofóbico


Recentemente, um vídeo com a reação de crianças ao verem dois pedidos de casamento entre pessoas do mesmo sexo tornou-se viral e comoveu vári@s usuári@s nas redes:


O programa 'Encontro Com Fátima Bernardes' desta quinta, 14, debateu a diversidade sexual no ambiente familiar e exibiu para um grupo de crianças de uma escola e seus pais/mães/responsáveis um flashmob realizado em Maringá com um pedido de  entre um casal gay. Confiram suas reações aqui.

"O legal foi que eles se casaram, ficaram felizes e pronto!", disse uma das crianças. Simples assim!

Ninguém nasce preconceituoso, ninguém nasce odiando o diferente. Se, infelizmente, ensina-se crianças a serem preconceituosas, também podemos ensinar o respeito e a igualdade para que tenhamos uma geração de adultos que respeite a diversidade.

A Educação é o melhor caminho para desconstruirmos o preconceito sócio-cultural contra pessoas LGBTs.

Assista na íntegra o debate sobre diversidade sexual no ambiente familiar no programa Encontro aqui.

Fonte: Eu sou a favor do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo no Brasil

Em Nome De...


Foi exibido no dia 20/11/2013 na Laura Alvim, às 22h, como parte da programação do 21º Festival MixBrasil de Cinema, o filme "Em Nome De..."
Polônia | 2013 | 102
Diretor | Malgorzata Szumowska


O padre Adam cuida de uma pequena paróquia no meio do nada. Organiza um centro comunitário para garotos que tiveram um passado problemático. Sua energia é apreciada, os moradores o aceitam como um deles. Todos querem estar próximos a ele, contagiando-se com sua vitalidade e poder, mas ninguém sabe que ele guarda um segredo. Depois de conhecer um jovem excêntrico e silencioso, um pária local, o padre Adam é obrigado a encarar um peso e uma paixão esquecidos há muito tempo. Conforme as piores suspeitas dos moradores são confirmadas, o padre Adam se torna um inimigo evidente.

Todos são bem-vindos


Quase a metade dos templos nos EUA aceitam casais homossexuais como membros, enquanto aproximadamente um em três, agora aceitam que gays e lésbicas ocupem lugares de liderança de acordo com os dados de uma pesquisa realizada pela Duke University em 2012 com 1.331 congregações:National Congregations Study.
Ocorreu um aumento de 10% em relação à pesquisa realizada entre 2006 e 2007.
Tradução e adaptação: Hugo Nogueira

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A história de Agar é a nossa história também


Existem muitas histórias na Bíblia sobre chamamentos, sobre “nomear” ou dar um nome. São histórias poderosas que nos falam da jornada espiritual de alguém ou sobre uma decisão tomada por pessoas ou grupos. Uma dessas histórias é a de Agar. Em meio à adversidade, a escrava Agar encontra a Deus, vê Deus, confronta a divindade com valentia. Às vezes não há outra saída a não ser confrontar Deus ou a noção de Deus que recebemos de terceiros. Como escrava, Agar não detém o controle de seu corpo e Sarai a oferece a Abraão como corpo e matriz para gerar um herdeiro. Quando Agar engravida, Sarai a trata com crueldade e Agar foge da casa de seus senhores. Deus a encontra em frente a um manancial e pede a ela que volte à casa de sua patroa e se submeta à sua vontade. Por que Deus lhe pede tamanho sacrifício? Talvez porque a história é narrada do ponto de vista dos senhores. Não há dúvida de que a coragem de Agar não desaparece da história: Agar confronta Deus, recebe uma benção e oferece um novo nome a Deus: “o Deus que vê”, pois Agar diz: ”Deus tem me visto e eu ainda estou viva”. Agar descobre um novo Deus, que se comunica diretamente com ela, uma escrava. Um Deus que não pertence aos poderosos.
  
De certa forma, a história de Agar é também a nossa história. Todos e todas nós, enquanto grupo marginalizado, necessitamos encontrar um Deus diferente; também confrontamos Deus, ou certa noção de Deus que recebemos de dogmas, tradições e igrejas. Chamamos Deus de diferentes maneiras: amigo, queer, amante, mãe, arco-íris. E ao fazê-lo, descobrimos que ninguém é dono de Deus; Deus é nosso também. Nós somos queer hispânico-latinos e aliados. Somos hispânicos ou latinos/latinas?  Somos porto-riquenhos, mexicanos, salvadorenhos, dominicanos, argentinos, guatemaltecos e outros? Sim, somos tudo isto e também somos a Raça, o Sangue e a Aliança.


Muitos e muitas de nós viemos a esta terra como uma opção, em busca de possibilidades, outros estão aqui como resultado da falta de opção, Sem dúvida, como Agar, encontramos Deus em meio à adversidade, recebemos bênçãos e agora somos chamados por Deus para sermos fortes na ICM, para construir uma igreja com muitos rostos, muitas cores, muitas línguas, orientações sexuais diferentes, sexos e idades diferentes. Somos chamados a construir a nova igreja com muitos nomes e com diferentes formas de nomear a Deus. 

Rev. Carmen Margarita Sánchez De León

Tradução: Priscila Galvão

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Solidariedade

O papa Francisco decidiu nesta segunda-feira [11/11/2013] fazer uma primeira contribuição de US$ 150.000 de ajuda à população filipina vítima do tufão Haiyan, que causou a morte de milhares de pessoas.
"Depois da passagem do tufão Haiyan, que atingiu com uma inacreditável violência o território das Filipinas, em particular as ilhas de Leyte e Samar, causando, segundo cifras por ora provisórias, mais de 10.000 mortos, o Santo Padre Francisco decidiu enviar, através do Pontifício Conselho Cor Unum e como primeira contribuição US$ 150.000", indica um comunicado do Vaticano.
O Pontifício Conselho Cor Unum financia as iniciativas humanitárias especiais do Papa por ocasião de catástrofes naturais em todo o mundo.

Documento de preparação do Sínodo da Família com o questionário em Português


Documento de preparação - Vaticano, 2013

I – O Sínodo: família e evangelização
A missão de pregar o Evangelho a cada criatura foi confiada diretamente pelo Senhor aos seus discípulos, e dela a Igreja é portadora na história. Na época em que vivemos, a evidente crise social e espiritual torna-se um desafio pastoral, que interpela a missão evangelizadora da Igreja para a família, núcleo vital da sociedade e da comunidade eclesial.
Propor o Evangelho sobre a família neste contexto é mais urgente e necessário do que nunca. A importância deste tema sobressai do facto que o Santo Padre decidiu estabelecer para o Sínodo dos Bispos um itinerário de trabalho em duas etapas: a primeira, a Assembleia Geral Extraordinária de 2014, destinada a especificar o “status quaestionis” e a recolher testemunhos e propostas dos Bispos para anunciar e viver de maneira fidedigna o Evangelho para a família; a segunda, a Assembleia Geral Ordinária de 2015, em ordem a procurar linhas de ação para a pastoral da pessoa humana e da família. Hoje perfilam-se problemáticas até há poucos anos inéditas, desde a difusão dos casais de facto, que não acedem ao matrimónio e às vezes excluem esta própria ideia, até às uniões entre pessoas do mesmo sexo, às quais não raro é permitida a adoção de filhos. Entre as numerosas novas situações que exigem a atenção e o compromisso pastoral da Igreja, será suficiente recordar: os matrimónios mistos ou inter-religiosos; a família monoparental; a poligamia; os matrimónios combinados, com a consequente problemática do dote, por vezes entendido como preço de compra da mulher; o sistema das castas; a cultura do não-comprometimento e da presumível instabilidade do vínculo; as formas de feminismo hostis à Igreja; os fenómenos migratórios e reformulação da própria ideia de família; o pluralismo relativista na noção de matrimónio; a influência dos meios de comunicação sobre a cultura popular na compreensão do matrimónio e da vida familiar; as tendências de pensamento subjacentes a propostas legislativas que desvalorizam a permanência e a fidelidade do pacto matrimonial; o difundir-se do fenómeno das mães de substituição (“barriga de aluguel”); e as novas interpretações dos direitos humanos. Mas sobretudo no âmbito mais estritamente eclesial, o enfraquecimento ou abandono da fé na sacramentalidade do matrimónio e no poder terapêutico da penitência sacramental.
A partir de tudo isto compreende-se como é urgente que a atenção do episcopado mundial, “cum et sub Petro”, enfrente estes desafios. Se, por exemplo, pensarmos unicamente no facto de que no contexto atual muitos adolescentes e jovens, nascidos de matrimónios irregulares, poderão nunca ver os seus pais aproximar-se dos sacramentos, compreenderemos como são urgentes os desafios apresentados à evangelização pela situação atual, de resto difundida em todas as partes da “aldeia global”. Esta realidade encontra uma correspondência singular no vasto acolhimento que tem, nos nossos dias, o ensinamento sobre a misericórdia divina e sobre a ternura em relação às pessoas feridas, nas periferias geográficas e existenciais: as expectativas que disto derivam, a propósito das escolhas pastorais relativas à família, são extremamente amplas. Por isso, uma reflexão do Sínodo dos Bispos a respeito destes temas parece tanto necessária e urgente quanto indispensável, como expressão de caridade dos Pastores em relação a quantos lhes são confiados e a toda a família humana.
II – A Igreja e o Evangelho sobre a família
A boa nova do amor divino deve ser proclamada a quantos vivem esta fundamental experiência humana pessoal, de casal e de comunhão aberta ao dom dos filhos, que é a comunidade familiar. A doutrina da fé sobre o matrimónio deve ser apresentada de modo comunicativo e eficaz, para ser capaz de alcançar os corações e de os transformar segundo a vontade de Deus manifestada em Cristo Jesus.
A propósito das fontes bíblicas sobre o matrimónio e a família, nesta circunstância apresentamos somente as referências essenciais. Também no que se refere aos documentos do Magistério, parece oportuno limitar-se aos documentos do Magistério universal da Igreja, integrando-os com alguns textos emanados pelo Pontifício Conselho para a Família e atribuindo aos Bispos participantes no Sínodo a tarefa de dar voz aos documentos dos seus respectivos organismos episcopais. Em todas as épocas e nas culturas mais diversificadas nunca faltou o ensinamento claro dos Pastores, nem o testemunho concreto dos fiéis, homens e mulheres que, em circunstâncias muito diversas, viveram o Evangelho sobre a família como uma dádiva incomensurável para a sua própria vida e para a vida dos sues filhos. O compromisso a favor do próximo Sínodo Extraordinário é assumido e sustentado pelo desejo de comunicar esta mensagem a todos, com maior incisividade, esperando assim que «o tesouro da revelação confiado à Igreja encha cada vez mais os corações dos homens» (DV 26).

O projeto de Deus Criador e Redentor
A beleza da mensagem bíblica sobre a família tem a sua raiz na criação do homem e da mulher, ambos criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 24-31; 2, 4b-25). Ligados por uma vínculo sacramental indissolúvel, os esposos vivem a beleza do amor, da paternidade, da maternidade e da dignidade suprema de participar deste modo na obra criadora de Deus.No dom do fruto da sua união, eles assumem a responsabilidade do crescimento e da educação de outras pessoas, para o futuro do género humano. Através da procriação, o homem e a mulher realizam na fé a vocação de ser colaboradores de Deus na preservação da criação e no desenvolvimento da família humana.
O Beato João Paulo II comentou este aspecto na Familiaris consortio: «Deus criou o homem à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26 s.): chamando-o à existência por amor, chamou-o ao mesmo tempo ao amor. Deus é amor (1 Jo 4, 8) e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem e conservando-a continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão (cf. “Gaudium et spes”, 12). O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação de cada ser humano» (FC 11). Este projeto de Deus Criador, que o pecado original deturpou (cf. Gn 3, 1-24), manifestou-se na história através das vicissitudes do povo eleito, até à plenitude dos tempos, pois mediante a encarnação o Filho de Deus não apenas confirmou a vontade divina de salvação, mas com a redenção ofereceu a graça de obedecer a esta mesma vontade.
O Filho de Deus, Palavra que se fez carne (cf. Jo 1, 14) no seio da Virgem Mãe, viveu e cresceu na família de Nazaré, e participou nas bodas de Caná, cuja festa foi por Ele enriquecida com o primeiro dos seus “sinais” (cf. Jo 2, 1-11). Ele aceitou com alegria o acolhimento familiar dos seus primeiros discípulos (cf. Mc 1, 29-31; 2, 13-17) e consolou o luto da família dos seus amigos em Betânia (cf. Lc 10, 38-42; Jo 11, 1-44). Jesus Cristo restabeleceu a beleza do matrimónio, voltando a propor o projeto unitário de Deus, que tinha sido abandonado devido à dureza do coração humano, até mesmo no interior da tradição do povo de Israel (cf. Mt 5, 31-32; 19.3-12; Mc 10, 1-12; Lc 16, 18). Voltando à origem, Jesus ensinou a unidade e a fidelidade dos esposos, recusando o repúdio e o adultério.
Precisamente através da beleza extraordinária do amor humano – já celebrada com contornos inspirados no Cântico dos Cânticos, e do vínculo esponsal exigido e defendido por Profetas como Oseias (cf. Os 1, 2-3,3) e Malaquias (cf. Ml 2, 13-16) – Jesus confirmou a dignidade originária do amor entre o homem e a mulher.
O ensinamento da Igreja sobre a família
Também na comunidade cristã primitiva a família se manifestava como “Igreja doméstica” (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1655): nos chamados “códigos familiares” das Cartas apostólicas neotestamentárias, a grande família do mundo antigo é identificada como o lugar da solidariedade mais profunda entre esposas e maridos, entre pais e filhos, entre ricos e pobres (cf. Ef 5, 21-6, 9; Cl 3, 18-4, 1; 1 Tm 2, 8-15; Tt 2, 1-10; 1 Pd 2, 13-3, 7; cf., além disso, também a Carta a Filémon). Em particular, a Carta aos Efésios identificou no amor nupcial entre o homem e a mulher «o grande mistério», que torna presente no mundo o amor de Cristo e da Igreja (cf. Ef 5, 31-32).
Ao longo dos séculos, sobretudo na época moderna até aos nossos dias, a Igreja não fez faltar um seu ensinamento constante e crescente sobre a família e sobre o matrimónio que a fundamenta. Uma das expressões mais excelsas foi a proposta do Concílio Ecuménico Vaticano II, na Constituição pastoral Gaudium et spes que, abordando algumas problemáticas mais urgentes, dedica um capítulo inteiro à promoção da dignidade do matrimónio e da família, como sobressai na descrição do seu valor para a constituição da sociedade: «A família – na qual se congregam as diferentes gerações que reciprocamente se ajudam a alcançar uma sabedoria mais plena e a conciliar os direitos pessoais com as outras exigências da vida social – constitui assim o fundamento da sociedade» (GS 52). Particularmente intenso é o apelo a uma espiritualidade cristocêntrica dirigida aos esposos crentes: «Os próprios esposos, feitos à imagem de Deus e estabelecidos numa ordem verdadeiramente pessoal, estejam unidos em comunhão de afeto e de pensamento e com mútua santidade, de modo que, seguindo a Cristo, princípio da vida, se tornem pela fidelidade do seu amor, através das alegrias e dos sacrifícios da sua vocação, testemunhas daquele mistério de amor que Deus revelou ao mundo com a sua morte e a sua ressurreição» (GS 52). Também os Sucessores de Pedro, depois do Concílio Vaticano II, enriqueceram mediante o seu Magistério a doutrina sobre o matrimónio e a família, de modo especial Paulo VI com a Encíclica Humanae vitae, que oferece ensinamentos específicos a níveis de princípio e de prática. Sucessivamente, o Papa João Paulo II, na Exortação Apostólica Familiaris consortio, quis insistir na proposta do desígnio divino acerca da verdade originária do amor esponsal e familiar: «O “lugar” único, que torna possível esta doação segundo a sua verdade total, é o matrimónio, ou seja o pacto de amor conjugal ou escolha consciente e livre, com a qual o homem e a mulher recebem a comunidade íntima de vida e de amor, querida pelo próprio Deus (cfr. Gaudium et spes, 48), que só a esta luz manifesta o seu verdadeiro significado. A instituição matrimonial não é uma ingerência indevida da sociedade ou da autoridade, nem a imposição extrínseca de uma forma, mas uma exigência interior do pacto de amor conjugal que publicamente se afirma como único e exclusivo, para que seja vivida assim a plena fidelidade ao desígnio de Deus Criador. Longe de mortificar a liberdade da pessoa, esta fidelidade põe-na em segurança em relação ao subjetivismo e relativismo, tornando-a participante da Sabedoria criadora» (FC 11).
O Catecismo da Igreja Católica reúne estes dados fundamentais: «A aliança matrimonial, pela qual um homem e uma mulher constituem entre si uma comunidade íntima de vida e de amor; foi fundada e dotada das suas leis próprias pelo Criador: Pela sua natureza, ordena-se ao bem dos cônjuges, bem como à procriação e educação dos filhos. Entre os baptizados, foi elevada por Cristo Senhor à dignidade de sacramento [cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Gaudium et spes, 48; Código de Direito Canónico, cân. 1055 § 1]» (CCC, n. 1660). A doutrina exposta no Catecismo refere-se tanto aos princípios teológicos como aos comportamentos morais, abordados sob dois títulos distintos: O sacramento do matrimónio (nn. 1601-1658) e O sexto mandamento (nn. 2331-2391). Uma leitura atenta destas partes do Catecismo oferece uma compreensão atualizada da doutrina da fé, em benefício da atividade da Igreja diante dos desafios contemporâneos. A sua pastoral encontra inspiração na verdade do matrimónio visto no desígnio de Deus, que criou varão e mulher, e na plenitude dos tempos revelou em Jesus também a plenitude do amor esponsal, elevado a sacramento. O matrimónio cristão, fundamentado sobre o consenso, é dotado também de efeitos próprios, e no entanto a tarefa dos cônjuges não é subtraída ao regime do pecado (cf. Gn 3, 1-24), que pode provocar feridas profundas e até ofensas contra a própria dignidade do sacramento.
«O primeiro âmbito da cidade dos homens iluminado pela fé é a família; penso, antes de mais nada, na união estável do homem e da mulher no matrimónio. Tal união nasce do seu amor, sinal e presença do amor de Deus, nasce do reconhecimento e aceitação do bem que é a diferença sexual, em virtude da qual os cônjuges se podem unir numa só carne (cf. Gn 2, 24) e são capazes de gerar uma nova vida, manifestação da bondade do Criador, da sua sabedoria e do seu desígnio de amor. Fundados sobre este amor, homem e mulher podem prometer-se amor mútuo com um gesto que compromete a vida inteira e que lembra muitos traços da fé: prometer um amor que dure para sempre é possível quando se descobre um desígnio maior que os próprios projetos, que nos sustenta e permite doar o futuro inteiro à pessoa amada» (LF 52). «A fé não é um refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação da vida: faz descobrir uma grande chamada — a vocação ao amor — e assegura que este amor é fiável, que vale a pena entregar-se a ele, porque o seu fundamento se encontra na fidelidade de Deus, que é mais forte do que toda a nossa fragilidade» (LF 53).
III – Questionário
As seguintes perguntas permitem às Igrejas particulares participar ativamente na preparação do Sínodo Extraordinário, que tem a finalidade de anunciar o Evangelho nos atuais desafios pastorais a respeito da família.
1 - Sobre a difusão da Sagrada Escritura e do Magistério da Igreja a propósito da família
a) Qual é o conhecimento real dos ensinamentos da Bíblia, da “Gaudium et spes”, da “Familiaris consortio” e de outros documentos do Magistério pós-conciliar sobre o valor da família segundo a Igreja católica? Como os nossos fiéis são formados para a vida familiar, em conformidade com o ensinamento da Igreja?
b) Onde é conhecido, o ensinamento da Igreja é aceite integralmente. Verificam-se dificuldades na hora de o pôr em prática? Se sim, quais?
c) Como o ensinamento da Igreja é difundido no contexto dos programas pastorais nos planos nacional, diocesano e paroquial? Que tipo de catequese sobre a família é promovida?
d) Em que medida – e em particular sob que aspectos – este ensinamento é realmente conhecido, aceite, rejeitado e/ou criticado nos ambientes extra-eclesiais? Quais são os fatores culturais que impedem a plena aceitação do ensinamento da Igreja sobre a família?
2 - Sobre o matrimónio segundo a lei natural
a) Que lugar ocupa o conceito de lei natural na cultura civil, quer nos planos institucional, educativo e académico, quer a nível popular? Que visões da antropologia estão subjacentes a este debate sobre o fundamento natural da família?
b) O conceito de lei natural em relação à união entre o homem e a mulher é geralmente aceite, enquanto tal, por parte dos batizados?
c) Como é contestada, na prática e na teoria, a lei natural sobre a união entre o homem e a mulher, em vista da formação de uma família? Como é proposta e aprofundada nos organismos civis e eclesiais?
d) Quando a celebração do matrimónio é pedida por batizados não praticantes, ou que se declaram não-crentes, como enfrentar os desafios pastorais que disto derivam?
3 – A pastoral da família no contexto da evangelização
    Quais foram as experiências que surgiram nas últimas décadas em ordem à preparação para o matrimónio? Como se procurou estimular a tarefa de evangelização dos esposos e da família? De que modo promover a consciência da família como “Igreja doméstica”?

    Conseguiu-se propor estilos de oração em família, capazes de resistir à complexidade da vida e da cultural contemporânea?

    Na atual situação de crise entre as gerações, como as famílias cristãs souberam realizar a própria vocação de transmissão da fé?

    De que modo as Igrejas locais e os movimentos de espiritualidade familiar souberam criar percursos exemplares?

    Qual é a contribuição específica que casais e famílias conseguiram oferecer, em ordem à difusão de uma visão integral do casal e da família cristã, hoje credível?

    Que atenção pastoral a Igreja mostrou para sustentar o caminho dos casais em formação e dos casais em crise?


4 – Sobre a pastoral para enfrentar algumas situações matrimoniais difíceis
a) A convivência ad experimentum é uma realidade pastoral relevante na Igreja particular? Em que percentagem se poderia calculá-la numericamente?
b) Existem uniões livres de facto, sem o reconhecimento religioso nem civil? Dispõem-se de dados estatísticos fiáveis?
c) Os separados e os divorciados recasados constituem uma realidade pastoral relevante na Igreja particular? Em que percentagem se poderia calculá-los numericamente? Como se enfrenta esta realidade, através de programas pastorais adequados?
d) Em todos estes casos: como vivem os batizados a sua irregularidade? Estão conscientes da mesma? Simplesmente manifestam indiferença? Sentem-se marginalizados e vivem com sofrimento a impossibilidade de receber os sacramentos?
e) Quais são os pedidos que as pessoas separadas e divorciadas dirigem à Igreja, a propósito dos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação? Entre as pessoas que se encontram em tais situações, quantas pedem estes sacramentos?
f) A simplificação da praxe canónica em ordem ao reconhecimento da declaração de nulidade do vínculo matrimonial poderia oferecer uma contribuição positiva real para a solução das problemáticas das pessoas interessadas? Se sim, de que forma?
g) Existe uma pastoral para ir ao encontro destes casos? Como se realiza esta atividade pastoral? Existem programas a este propósito, nos planos nacional e diocesano? Como a misericórdia de Deus é anunciada a separados e divorciados recasados e como se põe em prática a ajuda da Igreja para o seu caminho de fé?
5 - Sobre as uniões de pessoas do mesmo sexo
a) Existe no vosso país uma lei civil de reconhecimento das uniões de pessoas do mesmo sexo, equiparadas de alguma forma ao matrimónio?
b) Qual é a atitude das Igrejas particulares e locais, quer diante do Estado civil promotor de uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, quer perante as pessoas envolvidas neste tipo de união?
c) Que atenção pastoral é possível prestar às pessoas que escolheram viver em conformidade com este tipo de união?
d) No caso de uniões de pessoas do mesmo sexo que adotaram crianças, como é necessário comportar-se pastoralmente, em vista da transmissão da fé?
6 - Sobre a educação dos filhos no contexto das situações de matrimónios irregulares
a) Qual é nestes casos a proporção aproximativa de crianças e adolescentes, em relação às crianças nascidas e educadas em famílias regularmente constituídas?
b) Com que atitude os pais se dirigem à Igreja? O que pedem? Somente os sacramentos, ou inclusive a catequese e o ensinamento da religião em geral?
c) Como as Igrejas particulares vão ao encontro da necessidade dos pais destas crianças, de oferecer uma educação cristã aos próprios filhos?
d) Como se realiza a prática sacramental em tais casos: a preparação, a administração do sacramento e o acompanhamento?
7 - Sobre a abertura dos esposos à vida
a) Qual é o conhecimento real que os cristãos têm da doutrina da Humanae vitae a respeito da paternidade responsável? Que consciência têm da avaliação moral dos diferentes métodos de regulação dos nascimentos? Que aprofundamentos poderiam ser sugeridos a respeito desta matéria, sob o ponto de vista pastoral?
b) Esta doutrina moral é aceite? Quais são os aspectos mais problemáticos que tornam difícil a sua aceitação para a grande maioria dos casais?
c) Que métodos naturais são promovidos por parte das Igrejas particulares, para ajudar os cônjuges a pôr em prática a doutrina da Humanae vitae?
d) Qual é a experiência relativa a este tema na prática do sacramento da penitência e na participação na Eucaristia?
e) Quais são, a este propósito, os contrastes que se salientam entre a doutrina da Igreja e a educação civil?
f) Como promover uma mentalidade mais aberta à natalidade? Como favorecer o aumento dos nascimentos?
8 - Sobre a relação entre a família e a pessoa
a) Jesus Cristo revela o mistério e a vocação do homem: a família é um lugar privilegiado para que isto aconteça?
b) Que situações críticas da família no mundo contemporâneo podem tornar-se um obstáculo para o encontro da pessoa com Cristo?
c) Em que medida as crises de fé, pelas quais as pessoas podem atravessar, incidem sobre a vida familiar?
9 - Outros desafios e propostas
Existem outros desafios e propostas a respeito dos temas abordados neste questionário, sentidos como urgentes ou úteis por parte dos destinatários?

NEWS.VA

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A Igreja caminhando no meio da noite com o seu povo


As 38 perguntas recebidas pelos episcopados do mundo (saiba mais aqui e aqui) foram colocadas repentinamente em rede por intermédio de uma pesquisa anônima e aberta a todos. Leia na reportagem de Piero Schavazzi, publicada no jornal L’Huffington Post, 05-11-2013, com tradução de Anete Amorim Pezzini, aqui reproduzida via IHU.

Atualização em 9-12-13: você já leu a carta de alguns grupos católicos LGBT brasileiros para os bispos? O texto, com o link para a petição (pra quem quiser assinar e apoiar), está aqui.
:-)

Projetada com a intenção de filtro para bispos e para paróquias, a sondagem promovida por Francisco tornou-se, assim, patrimônio de todos, “regulares” e especialmente “irregulares”, a começar pelos interessados diretos, ou seja, os casais protagonistas das novas realidades, ou “Rerum Novarum”, com alusão à mais famosa das encíclicas, a respeito da qual as palavras do documento apresentado mostra uma afinidade sugestiva.

“Delineiam-se hoje problemáticas inéditas até a alguns anos”, começa o texto que introduz o questionário, “a propagação dos casais de fato, que não procuram o matrimônio, e, às vezes, não excluem a ideia da união entre pessoas do mesmo sexo, a quem, não raro, é consentida a adoção de filhos”.

"Nós não podemos mais fazer o papel de avestruz”, sintetizou com cuidado explícitou o bispo Bruno Forte, teólogo progressista de renome mundial, que Francisco tirou de sua década de exílio na província como arcebispo de Chieti e nomeado Secretário Especial da Assembleia Extraordinária, programada para 5 a 19 de outubro de 2014, sobre “Desafios Pastorais da Família”, reunindo, em Roma, os presidentes de todas as conferências episcopais.

O seu convite para não enterrar a cabeça na areia e para não virar o olhar encontra nítido eco no preâmbulo: “Se, por exemplo, pensa-se no simples fato de que, no atual contexto, muitas crianças e jovens, nascidos de matrimônios irregulares, possam não ver jamais os seus genitores aproximarem-se dos sacramentos, compreende-se o quanto urgente são os desafios para a evangelização na situação atual, no entanto, espalhou-se para todas as partes da aldeia global”.

É o próprio Papa que presidirá as reuniões preparatórias de 7 e 8 de outubro, contribuindo com a individuação e redação das perguntas, incluindo a mais espinhosa: “No caso das uniões de pessoas do mesmo sexo, como comportar-se pastoralmente em vista da transmissão da fé?”.

Bergoglio não inovou somente o método, mas a estrutura do Sínodo, que, até agora, contradizendo a própria etimologia e natureza, parecia estático, não dinâmico, condescendente a priori, e independência plebiscitária contra os Pontífices.

Ao contrário, para a sua Igreja, Francisco tem em mente um “sistema bicameral” verdadeiro que se distinga pela vivacidade do debate e pela capacidade de mobilização.

Os jornalistas tiveram a prova na conferência de imprensa do bispo Lorenzo Baldisseri, toscano de Garfagnana e embaixador versátil, habituado aos países continentes do Brasil à Índia, hoje secretário da assembleia sinodal ou, se quisermos, em analogia com a linguagem parlamentar, porta-voz da “câmara baixa”, por definição, a mais próxima das pessoas.

De resto, Bergoglio não tinha deixado dúvidas acerca de seu entendimento na entrevista de setembro para a Civiltà Cattolica: “Os consistórios, os sínodos são lugares importantes para tornar a consulta verdadeira e ativa. Necessita, no entanto, torná-los menos rígidos na forma. Quero consultas reais, não formais”.

Provando que está falando sério sobre a experiência de partida, o Papa que, na juventude diplomou-se em química, escolheu o reagente mais explosivo – a moral familiar –, e a fórmula mais arriscada – um questionário de trinta e oito perguntas sobre os problemas em aberto e temas que queimam, suscetíveis de provocar uma reação em cadeia com consequências imprevistas: “Pode acontecer o que pode acontecer a todos aqueles que saem de casa e vão às ruas: um incidente”, tinha dito há seis meses durante a vigília de Pentecostes. “Mas eu lhes digo: prefiro mil vezes uma Igreja machucada, por causa de um acidente a uma Igreja doente porque fechada em si mesma!”.

Se Bergoglio dispõe do diploma em Química, Baldisseri possui um de piano: papa Ratzinger executava Mozart, Baldisseri, ao contrário, o genial compositor carioca Villa-Lobos, que inseriu no classicismo europeu os ritmos populares da América do Sul.

Para ler atentamente a partitura e escutar o papel de relator geral, bem como o primeiro tenor do Sínodo, o arcebispo de Budapeste, Peter Erdö, adverte que, de fato, a configuração que permanece por enquanto é a tradicional, mas mudou a interpretação, menos rigorosa e mais generosa, empreendedora e com traços aparentemente inacabados, com acentos suspensos e liberdade de expressão, e claramente estendeu firmemente a mão para conquistar um público diferente e mais amplo.

O documento confirma a mensagem das Sagradas Escrituras e o magistério do Concílio sobre os valores da família e sobre a lei natural, reiterando-o com as palavras do catecismo: “A aliança matrimonial, mediante a qual um homem e uma mulher constituem entre si uma comunhão íntima de vida e de amor foi fundada e dotada de suas próprias leis pelo Criador”.

Ao mesmo tempo, no entanto, perguntou desde a primeira indagação do questionário, se e até que ponto esse ensinamento é “conhecido e integralmente aceito” pelos fiéis: “O conceito de lei natural na relação da união entre homem e mulher é comumente aceito enquanto tal por parte dos batizados em geral?”.

Como na tradição dos verdadeiros parlamentos, a “câmara” reunir-se-á em duas sessões, com uma distância de um ano entre elas: uma assembleia extraordinária em outubro de 2014, para obter respostas e testemunhos, definindo o “status quaestionis” e medindo a extensão dos “desafios” que afetam e ameaçam perturbar a pastoral da família. Uma outra assembleia, ordinária, ocorrerá no outono de 2015, para assimilar os novos conceitos e desenvolver uma sensibilidade coletiva, ao longo de um caminho que envolve um bilhão de católicos, e desenvolve-se sob os olhos do mundo, confiando em Deus e confiando no instinto das pessoas.

“Os bispos, particularmente, devem ser homens capazes não somente de acompanhar com paciência o seu povo, de modo que nenhum fique para trás, mas também acompanhar o rebanho que tem um instinto para encontrar novos caminhos”, explicou Francisco no colóquio com Padre Spadaro.

Na ânsia de reformar o executivo com a incorporação dos ministérios, em que o concílio “constituinte” dos oito cardeais está trabalhando, Bergoglio transmitiu, portanto, um choque de adrenalina nas duas assembleias “legislativas”: a câmera alta dos cardeais e a baixa do Sínodo dos Bispos.

No papel, tratam-se dos órgãos consultivos, que não legislam, visto que o Pontífice Romano é ainda um monarca absoluto, mesmo na era de Francisco: ambos, porém, tornam-se legais, se o soberano reinante ratifica suas deliberações, no sentido de um exercício colegial do ministério de Pedro, que, sem afetar a constituição formal da Igreja, inova-a, todavia, a material.

A câmara alta de imediato virá reequilibrada geograficamente, já no consistório de fevereiro, redimensionando o componente italiano e europeu, para dar espaço aos países excluídos do último conclave. Mas, mais tarde, poderia ser modificada geneticamente, com o ingresso de uma mulher cardeal ou, pelo menos, uma reavaliação e reorganização do colégio que elege o Papa, integrando a linhagem divina dos purpurados com os representantes laicos do povo de Deus.

Há dois domingos, enquanto caía o pano na festa das famílias, a última quermesse no tema do Ano da fé, escrevemos que, no Vaticano, tinha aparecido o sinal “trabalho em curso”.

Francisco de manhã, nos seus discursos tinha voado alto, como os balões que alçam no céu de São Pedro, metáfora colorida de uma realidade mais variada, e “irregular”, dos preceitos que a retratam em preto e branco.

Um dia depois, no entanto, com os dias que se encurtavam, voltou celeremente ao hospital de campanha e aos corredores de emergência, que conduzem o caminho do Sínodo em direção à zona de sombra, em que a tarefa da Igreja e de seu questionário, em primeiro lugar, não é a clareza da doutrina, mas sentir a carícia divina sobre as feridas da vida: “Os ministros do Evangelho devem ser pessoas capazes de reaquecer o coração das pessoas, de caminhar no meio da noite com elas, de saber dialogar, e também de descer na noite delas, na sua escuridão sem perder-se”.

domingo, 10 de novembro de 2013

Humildade


Semana passada, a igreja católica romana de Papa Francisco, fez algo inesperado: procurou a opinião dos leigos. Ao invés de enunciar mais um comunicado, o líder de uma instituição de dois mil anos a quem é atribuído um mandato divino, escolheu fazer uma consulta.

Se Francisco pode lidar com o fato de que seus seguidores não são ovelhas, mas seres humanos dotados de consciência, aqueles que não ocupam o trono de Pedro podem aprender com sua humildade. Nenhum de nós tem todas as respostas.

Richard J. Rosendall

(Trad. Hugo Nogueira)

Histórico da luta pelos direitos civis da população LGBT


Linha do tempo publicada na Revista Time com um histórico da luta pelos direitos civis da população LGBT nos EUA, inclui vídeos com depoimentos do Presidente Obama e da senadora Hillary Clinton a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Linha do Tempo (em Inglês)

Foto: 
Michael Knaapen e seu marido John Becker comemoram em frente da Suprema Corte em Washington.

O Papa Francisco e o Diversidade Católica nas Revistas Veja e IstoÉ desta semana

Matéria "O Papa quer ouvir seu rebanho".
Revista IstoÉ (nº 2295, 13/nov 2013)
Clique nas imagens para ampliar.

Chegaram ontem às bancas as revistas Veja (ed. 2347) e IstoÉ (nº 2295) com matérias sobre a consulta pública às paróquias solicitada pelo Vaticano em preparação para o Sínodo dos bispos em 2014, que noticiamos aqui. Duas integrantes do Diversidade Católica e colaboradoras do blog, Cristiana e Juliana, foram entrevistadas para ambas as reportagens. Para nós, é motivo de alegria e gratidão ver a mensagem de inclusão do nosso grupo ganhar essa oportunidade de multiplicação.

Atualização em 9-12-13: você já leu a carta de alguns grupos católicos LGBT brasileiros para os bispos? O texto, com o link para a petição (pra quem quiser assinar e apoiar), está aqui. :-)

Matéria "O Pastor vai ao rebanho".
Revista Veja (nº 2347, 13/nov 2013)
Clique nas imagens para ampliar.

Ontem, na reunião do nosso grupo, refletimos sobre um trecho da entrevista do Papa Francisco à revista jesuíta Civiltà Católica (leia na íntegra aqui), em que ele afirma:
«Neste procurar e encontrar Deus em todas as coisas fica sempre uma zona de incertezas. Tem que ser assim. Se uma pessoa diz que encontrou Deus com certeza total e não aflora uma margem de incerteza, então não está bem. Para mim, esta é uma chave importante. Se alguém tem a resposta a todas as perguntas, esta é a prova de que Deus não está com ela. Quer dizer que é um falso profeta, que usa a religião para si próprio. Os grandes guias do povo de Deus, como Moisés, sempre deixaram espaço para a dúvida. Devemos deixar espaço ao Senhor, não às nossas certezas. É necessário ser humilde. (...) 
«O risco no procurar e encontrar Deus em todas as coisas é, pois, a vontade de explicar demasiado, de dizer com certeza humana e arrogância: “Deus está aqui”. [Assim,] encontraremos somente um deus à nossa medida. (...) A nossa vida não nos é dada como um libreto de ópera onde está tudo escrito, mas é ir, caminhar, fazer, procurar, ver… Deve-se entrar na aventura da procura do encontro e do deixar-se procurar e deixar-se encontrar por Deus. (...) 
«Portanto, encontra-se Deus caminhando, no caminho. E neste ponto alguém poderia dizer que isto é relativismo. É relativismo? Sim, se é mal interpretado, como espécie de panteísmo indistinto. Não, se é interpretado em sentido bíblico, onde Deus é sempre uma surpresa e, portanto, não sabes nunca onde e como O encontras, não és tu a fixar os tempos e os lugares do encontro com Ele. É necessário, portanto, discernir o encontro. Por isso, o discernimento é fundamental. 
«Se o cristão é restauracionista, legalista, se quer tudo claro e seguro, então não encontra nada. A tradição e a memória do passado devem ajudar-nos a ter a coragem de abrir novos espaços para Deus. Quem hoje procura sempre soluções disciplinares, quem tende de modo exagerado à “segurança” doutrinal, quem procura obstinadamente recuperar o passado perdido, tem uma visão estática e involutiva. E deste modo a fé torna-se uma ideologia entre tantas. Tenho uma certeza dogmática: Deus está na vida de cada pessoa. Deus está na vida de cada um. Mesmo se a vida de uma pessoa foi um desastre, se se encontra destruída pelos vícios, pela droga ou por qualquer outra coisa, Deus está na sua vida. Pode-se e deve-se procurar na vida humana. Mesmo se a vida de uma pessoa é um terreno cheio de espinhos e ervas daninhas, há sempre um espaço onde a semente boa pode crescer. É preciso confiar em Deus».
Nesse sentido, nestes tempos que correm é com fé e esperança renovadas que nós, do Diversidade Católica, persistimos em nosso trabalho de testemunho dentro da Igreja Católica Romana. Buscamos ser, uns para os outros, a Igreja que queremos ver no mundo: uma Igreja, como diz o Papa Francisco, de braços abertos para acolher a todos e cuidar das feridas, e colocar-se a serviço. Acreditamos firmemente na força inspiradora do Espírito Santo, que sopra como a brisa suave nos ouvidos do Povo de Deus. E rogamos ao Pai que, em seu amor irrestrito e incondicional por cada um de seus filhos, faça de nós instrumentos para a construção de um mundo em que sejamos todos irmãos, um mundo que seja verdadeiramente o Reino de Deus aqui e agora, para todos.

Que assim seja!

Equipe Diversidade Católica

PS: Você encontra os depoimentos da Cris e da Ju sobre a história de cada uma como gay e católica aqui no nosso blog, junto com depoimentos de outros membros e amigos do Diversidade Católica, sob a tag gay e cristão.

Alegria


No âmago do Cristianismo encontra-se um convite para o banquete do Senhor. Esta foi a mensagem do Papa Francisco na Missa desta manhã (5 de novembro) na Casa de Santa Marta. O papa disse que a Igreja “não é somente para pessoas boas”, pois o convite para ser parte dela diz respeito a toda a gente. Acrescentou que devemos “participar integralmente” no banquete do Senhor e com toda a gente. Não podemos tirar e escolher. Os cristãos, disse o Papa, não se podem contentar em constar simplesmente da lista de convidados: não participar integralmente é o mesmo que lá não estar.
As leituras do dia, disse o Papa, são a identidade do cristão e destacou que “antes de mais, a essência cristã é um convite: somente nos tornamos cristãos se formos convidados.” É um “convite grátis” à participação que Deus nos faz. Não podemos pagar para entrar no banquete, avisou ainda: “ou se é convidado ou não podemos entrar,” Se “na nossa consciência”, disse, “não tivermos esta certeza de sermos convidados” então “não compreendemos o que é ser cristão”: “Um cristão é alguém que é convidado. Convidado para quê? Para uma loja? Para ir dar um passeio? O Senhor pretende dizer-nos algo mais: És convidado a juntar-te ao banquete, à alegria de seres salvo, à alegria de seres perdoado, à alegria de partilhar a vida com Cristo. Isto é uma alegria! És convocado para uma festa! Um banquete é uma reunião de pessoas que caminham, riem, celebram, estão felizes juntas. Nunca vi ninguém fazer uma festa sozinho. Isso seria muito aborrecido, não é verdade? Abrir a garrafa de vinho… Isso não é uma festa, é outra coisa qualquer. Temos de festejar com outros, com a família, com os amigos, com aqueles que foram convidados, tal como eu fui convidado. Ser cristão significa pertencer, pertencer a este corpo, às pessoas que foram convidadas para o banquete: isto é a pertença cristã.”

Voltando-se para a carta aos romanos, o Papa afirmou então que este banquete é um “banquete de unidade”, tendo sublinhado o facto de todos terem sido convidados, “os bons e os maus”. E os primeiros a serem convidados são os marginalizados: “A Igreja não é somente a Igreja para as pessoas boas. Será que queremos descrever quem pertence à Igreja, a este banquete? Os pecadores. Todos nós pecadores estamos convidados. Neste momento há uma comunidade que tem diversos dons: um tem o dom da profecia, outro o do ministério… Todos temos qualidades e forças. Porém, cada um de nós traz para o banquete um dom comum. Cada um de nós é chamado a participar integralmente no banquete. A existência cristã não pode ser compreendida sem esta participação. “Eu vou ao banquete, mas não passo da antecâmara porque somente quero estar com as três ou quatro pessoas com as quais estou mais familiarizado…”. Não podemos fazer isto na Igreja! Ou se participa integralmente ou ficamos no exterior. Não podemos selecionar e escolher: a Igreja é para todas as pessoas, a começar por aquelas que já referi: as mais marginalizadas. É a Igreja de toda a gente!”

Falando acerca da parábola na qual Jesus disse que alguns dos que foram convidados começaram a encontrar desculpas, o Papa Francisco disse: “Eles não aceitam o convite! Dizem ‘sim’, porém as suas ações dizem ‘não’.” Estas pessoas, disse o Papa, “são cristãos que se contentam em estar na lista de convidados: cristãos escolhidos.” Porém, avisou, isto não é suficiente, porque se não participamos não somos cristãos. “Estávamos na lista,” disse, mas isto não é suficiente para a salvação! Isto é a Igreja: entrar na igreja é uma graça; entrar na Igreja é um convite.” E este direito, acrescentou, não pode ser comprado. “Entrar na Igreja”, disse, “é tornar-se parte duma comunidade, a comunidade da Igreja. Entrar na Igreja é participar em todas as virtudes, as qualidades que o Senhor nos deu no nosso serviço de uns pelos outros.” O Papa Francisco continuou, “Entrar na Igreja significa ser responsável por aquelas coisas que o Senhor nos pede.” Finalmente, acrescentou, “entrar na Igreja é entrar neste povo de Deus, na sua caminhada em direção à eternidade.” Ninguém, avisou, é o protagonista da Igreja: mas temos UM,” que fez todas as coisas. Deus “é o protagonista!” Nós somos os seus seguidores… e “aquele que não O segue é aquele que se exclui a si próprio” e não vai ao banquete.

O Senhor é muito generoso. O Senhor abre todas as portas. O Senhor compreende igualmente aqueles que Lhe dizem, “Não, Senhor, eu não quero ir contigo.” Ele compreende e espera-os, porque é misericordioso. Porém, o Senhor não gosta daqueles que dizem ‘sim’ e fazem o contrário; que pretende agradecer-Lhe por todas as coisas boas; que têm bons modos, mas que seguem o seu próprio caminho e não o caminho do Senhor: aqueles que sempre apresentam desculpas, aqueles que não conhecem a alegria, que não experimentam a alegria da pertença. Peçamos ao Senhor esta graça da compreensão: o quão maravilhoso é ser-se convidado para o banquete, o quão maravilhoso é tomar parte nele e partilhar as nossas qualidades, o quão maravilhoso é estar-se com Ele e o quão errado é oscilar entre o ‘sim’ e o ‘não’, para dizer ‘sim’, mas contentar-se em ser simplesmente um cristão de fachada.


Artigo original: NEWS.VA
Tradução: José Leote (Rumos Novos)
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