sábado, 25 de junho de 2011

Dá-me sonhos teus, para eu brincar



Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espirito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez com que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E porque toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando agente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espirito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."

E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É a minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

- Alberto Caeiro

Rembrandt e a figura de Cristo

Rembrandt, "Cabeça de Cristo", c. 1648-54
(clique na imagem para vê-la ampliada)

Até o dia 18 de julho, o Museu de Louvre, na França, oferece uma excepcional viagem artística e espiritual na exposição “Rembrandt e a figura de Cristo”.

O texto é de Isabelle Francq, publicado pela revista francesa La Vie, 21-04-2011, e reproduzido via IHU.

Em 1629, aos 23 anos, Rembrandt pintou “A refeição de Emaús". Um pequeno quadro a óleo (conservado no Museu Jacquemard-André, em Paris), em que, em um primeiro plano, vê-se uma silhueta posicionada em frente ao brilho de uma vela que ilumina aquele que está diante dela e a perscruta. Assim, Cristo aparece irradiando a luz, mas permanece totalmente na sombra, em todo o seu mistério e sem que se possa distinguir seus traços.

Em 1648, o mestre flamengo pintou “Os peregrinos de Emaús" (conservado no Museu do Louvre). Desta vez, Cristo aparece de frente, mostrando um rosto sem beleza alguma, mas cheio de humanidade. Entre os tempos e ao longo de sua vida, a exposição do Louvre demonstra a figura de Cristo pintada por Rembrandt. Além de cenas de pregação, de milagres e crucificação, ele pintou uma série de sete faces de Cristo dos quais não se conhece a cronologia e sem que se saiba se se trata de estudos preparatórios ou de obras definitivas.

De toda forma, Rembrandt compôs esses retratos de Cristo na época em que se representavam sobretudo cenas bíblicas. Pela primeira vez, esses sete quadros são reunidos, (...) [permitindo] penetrar na trajetória artística desse gênio da pintura e desse leitor questionador da Bíblia em busca da verdade de Jesus. Voltando as costas para o academicismo da sua época e às representações de um Cristo de uma beleza ideal, vê-se nas figuras de Rembrandt uma paleta de emoções cheias de humildade, de doçura e de fragilidade. Em resumo, encontramos um homem.

E é nessa sua humanidade que Rembrandt busca nos dizer Deus. Para chegar lá, ele se inspirou em modelos vivos. Por uma questão de autenticidade, ele pode tê-los escolhido na comunidade judaica de Amsterdam…

* * *

Publicaremos aqui no blog, uma por dia, as sete telas de Rembrandt. É nossa forma de, nesta semana de celebração de Corpus Christi, propor uma reflexão a respeito da humanidade desse Cristo que nos alimenta.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A pintora


Hoje de tarde
pus uma cadeira no sol pra chupar tangerinas
e comecei a chorar,
até me lembrar de que podia
falar sem mediação com o próprio Deus
daquela coisa vermelho-sangue, roxo-frio, cinza.
Me agarrei aos seus pés:
Vós sabeis, Vós sabeis,
só Vós sabeis, só Vós.
O bagaço da laranja, suas sementes
me olhavam da casca em concha
na mão seca.
Não queria palavras pra rezar,
bastava-me ser um quadro
bem na frente de Deus
para Ele olhar.

- Adélia Prado
(In A Duração do Dia, Ed. Record)

“Amai-vos uns aos outros - basta de homofobia”: a feiticeira, o guarda-roupa e o leão

Escultura: Paige Bradley

No próximo domingo (26/06/11) São Paulo se tornará palco de mais um episódio da guerra religiosa travada entre os homossexuais e as Igrejas. O lema da 15ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, considerada uma das maiores do mundo, já começa a render polêmica. A relação entre religião e preconceito apimenta o tema deste ano: “Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia”! Pela primeira vez, o evento se apropria de uma citação bíblica – e contará com representantes de grupos religiosos desfilando na Avenida Paulista (religiosos das igrejas Anglicana, Católica e Presbiteriana, além do Candomblé, Umbanda e Judaísmo confirmaram presença, segundo a organização). Um dos carros trará como tema: “Nem os santos te protegem”. O carro adornado com releitura de imagens de santos protagonizará crítica efetiva e pertinente ao veto do uso da camisinha, proposto por determinadas Igrejas. Durante uma coletiva de lançamento do tema da parada gay desse ano, a carta preparada pela organização do evento explicou a apropriação da citação bíblica, típica do universo cristão: “Respeitosamente nos apropriamos dela para pedir fim à guerra travada entre religião e direitos humanos”, dizia o manifesto.

Recentemente o admirável Congresso Nacional utilizou o veto à distribuição do denominado kit anti-homofobia como moeda de troca para a obtenção de apoio ao digníssimo Antônio Palocci, então ministro-Chefe da Casa Civil. Em nome de preservá-lo da prestação pública de sua contabilidade pessoal, a bancada evangélica contentou-se com a retirada de circulação do referido kit destinado aos alunos e educadores das escolas públicas. Votos de cidadãos que representam o Estado que os elegeu postos a serviço de interesses particulares e preconceituosos. Para esse grupo, vitória das vitórias, sobretudo se se considera o cenário desfavorável anterior, desenhado pelo reconhecimento de direitos dos casais homoafetivos que vivem união estável. Mais um capítulo desse embate crescente ao longo dos últimos anos.

Subjaz a todas essas notícias a crise de referenciais e a confusão dos espíritos que paira sobre a sociedade. Tal crise nutre-se, de um lado, pelo saudosismo da posse da verdade e da palavra última (Igrejas e instituições); de outro, pela experiência da liberdade proporcionada pelo enfraquecimento das estruturas estáveis da moralidade de outrora a assegurar a realidade. O conflito hermenêutico em questão traduz no campo da afetividade/sexualidade, crise que perpassa a política, o Estado, as religiões e escoa pelas diversas dimensões da vida social.

A feiticeira de toda essa selva pode ser classificada como a vontade de poder das Instituições a insistir legitimar ordem vigente para todos e violentar as liberdades dos indivíduos. Gustavo Botandini, filósofo italiano, sustenta que a Igreja quando minoria, fala de liberdade; quando maioria, advoga a verdade. A verdade em jogo não quer ser apenas mera normatividade direcionada aos fiéis “ad intra”. Exercita a vocação violenta ao impor seus próprios princípios aos não fiéis e fiéis de outras denominações “ad extra”. Cabe a pergunta: o que há de evangélico em pressionar o Estado a fim de se proibir nacionalmente o casamento gay, a criminalização da homofobia...? A feiticeira revela sua face mais perversa no ataque constante àqueles que já lutam e sofrem cotidianamente exclusão, intolerância e marginalização. Reconhece-se como evangélica a atitude missionária de se anunciar a mensagem cristã a todos os povos e apresentar-lhes horizonte de sentido. Na mesma perspectiva, catequizar e instruir os convertidos. À luz das reprováveis violências já praticadas ao longo da História, há de imperar a máxima do respeito às diferenças. Modelar e impor padrões comportamentais, por vezes não vividos por parcela significativa dos próprios representantes das Igrejas, soa bastante hipócrita e anti-evangélico. Talvez um dos carros da parada gay do próximo domingo pudesse explorar a metáfora bíblica dos sepulcros caiados. Ironias à parte, a guerra santa sofrida pelas minorias GLBT inspira paradas como as do próximo domingo, comprometidas não com o ataque aos dogmas das Igrejas (problema de seus adeptos), mas com a defesa dos direitos humanos.

Os meios de comunicação manipulam as informações e propagam os germes do acirramento dos ânimos entre as partes. Não possibilitam a existência de uma vida mais autêntica, provida de transparência e propícia à discussão pró-ativa. Antes confundem mediante o simulacro de imagens distorcidas e ruídos desafinados. Festival de luzes, cores e formas a ludibriar os sujeitos sociais. Os feitiços dos meios de comunicação propagam-se com voracidade: ocultamento e ou distorção de temas primordiais, difusão da racionalidade do consumo, legitimação de egoísmos e individualismos... Na interatividade da leitura, compete ao leitor ampliar essa vasta lista.

A imagem do guarda-roupa apresenta grande ambiguidade. Negativamente, remete ao aprisionamento dos desejos e da identidade, evoca sufocamento e escuridão. Metáfora pejorativa sobre a atitude de se assumir as pulsões sexuais e “sair do armário”. Entretanto, há de se ir além dessa simples representação, já desgastada e carente de sentido, e na acuidade perceber a imagem do guarda-roupa sob ocular positiva. Enquanto tal, o guarda-roupa expressa apelo à criatividade, abertura às diferenças, possibilidade de conquista da autonomia. Representa, como intuído da obra de C. S. Lewis, o convite a se passar à outra margem. As portas do guarda-roupa pós-moderno conduzem a novos mundos e abrem-se a um sem fim de possibilidades tolhidas anteriormente pelo império arbitrário da verdade objetiva. Traduzem-se no horizonte possível de exercício da relacionalidade e da convivência pacífica. Portas talhadas pela escuta da filosofia hermenêutica e da crítica à interpretação única da realidade, bem como da verdade já dada e esgotada historicamente de uma vez por todas. Guarda-roupa a abrigar diversidade de estilos, modelagens, tendências e muito mais propício à coexistência do múltiplo. Para alguns críticos, pobre pecador relativista; para outros, via possível de integração das diferenças e convivialidade no respeito ao uso da autonomia e da liberdade pessoal do sujeito.

Para alem da feiticeira e do guarda-roupa, ruge o leão da vitalidade, do dinamismo e do vigor da concretização da instauração de ordem existencial mais humana e fraterna. O desafio de vislumbrar os raios do Sol a incidir sobre a juba do leão permanece tarefa atual e mundo possível. Forte não pela proclamação do unívoco e incontestável, mas pela abertura dialógica e acolhedora das mudanças históricas em curso. O leão se nos apresenta tanto mais cristão e autêntico, quanto mais liberto do império metafísico da verdade, for capaz de interpelar o sujeito a aventurar-se pelas brechas do guarda-roupa, criticamente se posicionar perante os decretos da feiticeira e se tornar capaz de eleger conscientemente suas opções fundamentais de vida.

- Omar Lucas Perrout Fortes de Sales
Doutorando em Teologia Sistemática na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Belo Horizonte, MG
Reproduzido via IHU, com grifos nossos

Viva João, o batista

Foto: aqui

"Senhor São João, venha receber
Essa coisa linda que fizemos prá você.

Senhor São João, venha receber
Essa coisa linda que fizemos prá você.

Com a Santa Luz Divina
Ilumine o meu batalhão.

É humilde esta oferenda, 
Mas é de bom coração!

(Mundaréu)

* * *

“Eis que envio à tua frente o meu mensageiro, e ele preparará teu caminho. Voz de quem clama no deserto: Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as veredas para ele.” (Mc 1,1-3). As palavras do profeta Isaías que dão início ao Evangelho narrado por São Marcos nos dão uma pequena mostra da grandeza do homem João.

Filho de Isabel e Zacarias, judeus piedosos que, sem filhos e já idosos, viram manifestar a graça de Deus, através da chegada de João. Seu nascimento é cercado de episódios reveladores da especialidade daquele que seria o precursor do Messias. Sua mãe, já avançada em idade, era considerada estéril; seu pai, também entrado em anos, era sacerdote e duvidou da mensagem do anjo que anunciava a gravidez da esposa e, por duvidar, ficou mudo até o nascimento do menino. Por fim, o nome dado à criança surpreendeu a todos, por ser um nome não usual na família, mas Zacarias insiste no mesmo e, assim, volta a falar.

Ainda no ventre da mãe, João reconhece a presença do Messias quando Isabel recebe a visita de Maria. Este primeiro encontro, ainda no útero materno, foi um transbordamento de alegria e louvor. Suas mães eram portadoras de um mistério e, cúmplices, fizeram de seus corpos instrumentos da revelação de Deus à humanidade. A gestação de ambas seguiu um ritmo paralelo, próximo. E, juntas, foram descobrindo, aos poucos, a grandeza da maternidade, a entrega de suas vidas ao Senhor. Maria, já portadora do Filho de Deus, foi visitar sua prima Isabel e, conta a história, a serviu durante sua gravidez. Manifestava-se na Mãe, o serviço do Filho aos homens e mulheres. Isabel, portadora do Precursor, no primeiro momento daquele reencontro entre as duas primas, anunciou – como mais tarde seu filho o faria – que naquela jovem que chegava estava sendo gerado o Messias: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre!” (Lc 1, 42). Desde sempre os destinos dos dois meninos estarão ligados: se os laços de sangue os uniam na família terrena, o batista e o cordeiro de Deus serão companheiros de uma mesma missão.

Certamente outros encontros familiares se seguiram àquele primeiro. Brincadeiras de infância, cerimônias, descobertas... Anos se passaram até que nas águas do rio Jordão os primos voltaram a se encontrar, já adultos. João vivia com austeridade, pregando uma vida de conversão: era necessário que os caminhos fossem preparados para a chegada do Senhor. Era preciso que cada homem renascesse, se fizesse novo, para encontrar a Novidade. Após longo período de isolamento, João iniciou sua vida pública, anunciando que o Messias estava próximo. E foi nas margens do rio Jordão onde João exercia seu ministério, que aconteceu um novo encontro com seu primo Jesus. O Mestre, a quem João se referia como “aquele de quem não sou digno de desatar as correias de suas sandálias” (Mc 1, 7), pediu o Batismo a João. O homem Jesus que chegou às margens do rio queria ser batizado por João porque estava prestes a abraçar aquele mesmo caminho que o primo anunciava. E, cúmplices do Mistério tal como suas mães, vêem o céu se abrir e o Espírito do Senhor se manifestar na forma de uma pomba e escutam o próprio Deus falar: “Tu és meu Filho amado, em ti está o meu agrado” (Mc 1, 11).

João batizava na água e, até hoje, seguimos seu exemplo nos rituais cristãos do Batismo. O elemento da vida é usado pelo Batista como o símbolo da nova vida em Cristo. Contemporâneo do Messias, homem intrigante e instigante, figura forte no tempo litúrgico do Advento, João nos convida a permanecermos em constante atitude de conversão.

Água e Espírito se apresentam como sinais de conversão. Um lava, o outro restaura. A água tem sua natureza ligada à geração e à manutenção da vida humana. Simboliza a purificação, o renascimento. O Espírito salva, redime, fortalece, torna divino o que é humano. João batizava com a água. Era o batismo simbólico do Precursor, cuja liturgia até hoje celebramos. Dizia que depois dele viria um outro – Jesus – que nos batizaria no Espírito. Era o anúncio do maior dos profetas, de que a salvação era chegada através do Espírito de Deus manifestado em Jesus Cristo, que revelaria com sua vida o caminho para Deus: conversão – misericórdia – amor – serviço. O mesmo caminho anunciado por João Batista. Era Deus revelado àqueles homens que a própria vida uniu por laços familiares e por ideais.

O culto a São João Batista é celebrado desde os primórdios do Cristianismo e, é o único santo da Igreja para o qual se celebram duas solenidades: uma que marca o seu nascimento (24/06) e, a outra, em que se comemora o seu martírio (29/08). No Brasil, é costume celebrá-lo com a tradicional festa de São João, com danças, músicas e comidas típicas, e que reúne milhares de pessoas em todo o país.

Que João possa continuar a nos apontar o Mestre que passa, como outrora apontou aos seus discípulos e, através do precursor possamos também reconhecer no Homem de Nazaré o Cordeiro de Deus. Que possamos também nós seguir este caminho que João Batista e Jesus de Nazaré nos anunciaram. Só assim estaremos vivendo em plenitude nossa condição de batizados e batizadas, membros do povo de Deus.

Texto para oração:
Lc 1, 27-66.80

- Gilda Carvalho
Reproduzido via Amai-vos, com grifos nossos.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Corpus Christi: A festa do corpo de Deus


Estamos celebrando a festa de Corpus Christi, a festa do Corpo e Sangue de Deus que se fez pão para se fazer memória na história humana e assim tornar-se alimento de nossos espíritos e nossas vidas.

Relembramos, pois, os acontecimentos daquela última ceia que Jesus fez com seus amigos, quando nos deixou como sua memória seu corpo e seu sangue, expressos na forma de pão e de vinho. Depois desse dia, incontáveis foram as vezes que tornou presente na humanidade. Se pudéssemos ter a compreensão plena do mistério do Deus que se torna pão diariamente, a cada hora, em cada canto do mundo, a cada Missa que se celebra, poderíamos contar quantas vezes Deus se faz presente, vivo, junto ao homem, chegando-Se a ele pelo mistério da consagração. Mistério insondável de misericórdia e amor...

Muitas vezes, diante de grandes tragédias, perguntamo-nos: onde está Deus? onde está o Senhor que permite o sofrimento e a dor? Retomemos o dito acima: está ali, presente diariamente em cada celebração Eucarística, dando-se ao homem, desejando fundir-se com ele para ser levado aos outros. Resta, então, perguntarmo-nos: o que estamos fazendo com o Cristo que colocamos em nossos corações a cada vez que comungamos? Está sendo realmente alimento para a nossa fé ou estamos apenas cumprimos preceitos?

Se acreditamos no mistério Eucarístico, temos que fazer da hóstia tomada a cada Missa de que participamos um verdadeiro alimento de nossa fé, o que significa um apuro de nossa visão sobre os fatos que nos cercam para ver além dos acontecimentos e, desta forma, ver o próprio Deus caminhando entre os homens.

A Eucaristia nos conforma aos sentimentos de Jesus. Ao aproximarmo-nos da mesa da comunhão, estamos demonstrando a adesão e o desejo de nos fazermos iguais ao Mestre, assim como devemos deixá-la convictos de que somos capazes de viver em comum união com todos aqueles que nos cercam.

Jesus deu-Se em comida e bebida para estar sempre conosco. Tornou-se, portanto, sacramento, sinal, de Sua presença salvadora entre nós. Seríamos capazes de viver nossa condição de cristãos de tal forma plena que nos transformássemos sacramento para os outros? Pelo sacramento da Eucaristia, recebemos o Cristo vivo, que cura, perdoa, acolhe, envia e impulsiona. Por isso, viver este sacramento é nos transformar em um perigo para aqueles que não desejam ver o rosto de Deus atuando no mundo, tal como também dizia a antiga canção: "comungar é tornar-se um perigo, viemos para incomodar..."

Jesus-Pão, Jesus-Alimento, Jesus-Infinitamente Amor. Saibamos fazer de nosso coração uma verdadeira morada para o Senhor que nos é dado em forma de pão e de vinho. Saibamos ser merecedores desse mistério de comunhão entre Deus e homem. A hóstia se desfaz em nosso corpo, o Espírito invade nossa alma e a quer transformar nossas vidas, dando-nos um novo ardor. E que seja esse verdadeiro Amor nosso verdadeiro impulso para ir ao encontro do outro. E que seja cada celebração o verdadeiro encontro do coração humano com o coração de Deus. E que seja, enfim, o Pão da Vida a nossa comunhão, que nos une a Cristo e aos nossos irmãos e nos ensina, continuamente, a continuarmos repartindo o pão, traduzido em tudo o que somos e temos.

- Gilda Carvalho
Reproduzido via Amai-vos, com grifos nossos

Corpus Christi: nosso Deus é comida e bebida para todos

Imagem: Amai-vos

Houve uma grande seca naquele país e as sementes foram incapazes de brotar. A fome chegou de uma vez invadindo as casas, principalmente dos mais pobres. Aos poucos os poços também foram secando e a sede fazia sofrer mais ainda o povo. Naquela calamidade as crianças e os idosos eram os mais prejudicados. Os sacerdotes consultaram os oráculos e concluíram que seu deus ardia de raiva deles e por isto mandara aquela seca enorme. Depressa organizaram mil sacrifícios de animais, no intuito de aplacar a ira da divindade. Bem distante dali outro povo sofria com enchentes terríveis. Não parava de chover e tudo estava inundado. As plantações morreram e veio grande fome. A água suja provocava doenças e essas agravavam ainda mais o estado daqueles debilitados, de novo os velhos e as crianças. Os religiosos logo se reuniram e constataram que a enchente tinha sido enviada pelo deus deles que, da mesma maneira, estava com muita raiva do que tinham feito ou deixado de fazer, não sabiam ao certo. Por causa disto é que os punia. Juntaram todo o povo para propiciar ao deus raivoso um número imenso de sacrifícios. Dentre esses obrigaram os pais de família a lançarem na fogueira expiatória o restinho das sementes que ainda guardavam para comer e o plantio logo que chegasse o tempo bom.

Esses povos sentiam que precisavam conquistar seus deuses com oferendas, para que os amasse, não os punindo e nem os abandonando à própria sorte. Fosse só isso, mas sabemos que em várias civilizações os sacrifícios não se restringiam aos animais, vegetais e nem aos flagelos físicos. Os deuses deles eram mais implacáveis e exigiam sangue humano. Vem Jesus a nos mostrar exatamente o contrário. Deus não precisa ser conquistado. Ao contrário, é Ele que, constantemente, quer nos conquistar. Cativa-nos fazendo-se comida e bebida disponível para todo aquele que quiser se aproximar dele.

Nosso Deus é Amor e o Amor só pode desejar a felicidade do amado. Por isto Ele se dá, livre e totalmente, a nós seus filhos queridos. Faz isto, através do Filho, da forma mais simples e humana possível: como alimento. Quem é que não vai entender o sentido da comida? Eucaristia é Deus se dando como alimentação para o sustento na fé, esperança e caridade de todos nós. Até uma criança entende que sem comida e sem bebida não é possível que se mantenha vivo.

Infelizmente ainda há muita gente que tem uma visão muito intimista da comunhão. Compreendem-na e tomam-na somente numa dimensão vertical: ela e Deus. Esquecem-se de que a Eucaristia se faz em comunidade. A Eucaristia faz a comunidade da Igreja e a comunidade da Igreja faz a Eucaristia, no dizer tão simples e ao mesmo tempo tão profundo do Concílio Vaticano II. Não existe Igreja solitária. Ela, em outro dizer do Concílio, é “povo de Deus” reunido e então podemos afirmar que comer do corpo e do sangue do Cristo sem estar unido aos irmãos, na ilusão de que se está ligado a Deus, é tomá-lo em vão.

Eucaristia não é devoção. É muito mais do que isto. Por isto, não basta comungar como preceito ou mandamento. Isto é muito pouco para o cristão do século XXI. Algo bastante pobre para quem está comprometido com o seguimento. Comungar assim dá a impressão de que se toma algo pesado e que se está cumprindo uma obrigação. Nada mais equivocado, pois o Corpo de Cristo é leve e sempre traz a alegria e a paz (mesmo em meio aos sofrimentos e tribulações).

Eucaristia também não pode ser confundida com mágica e que num piscar de olhos será capaz de transformar a realidade. Ela não protege contra ladrões, mal olhados e nem gera empregos, ou traz namorada. O que ela oferece é a força e a coragem necessária para o trabalho e a luta na criação de um mundo mais solidário, pacífico e humano, onde não mais seja preciso se proteger dos outros.

Viver a Eucaristia é viver em comunidade cuidando para que não haja ninguém descuidado ou mesmo abandonado em volta. É adquirir ânimo para a missão de fazer com que as estruturas do pecado possam ir se desintegrando e em seu lugar haja espaço e condições para que nasçam e se desenvolvam as estruturas do Reino: de serviço e bondade.

Acostumados com a Eucaristia acabamos por não nos dar conta do quão grande e poderosa ela é. Fôssemos mais conscientes da transformação que a comunhão é capaz de nos fazer, teríamos condições de criar um mundo bem mais humano, com muito mais justiça e paz. No auge de uma discussão com um ateu um padre ouviu dele algo que o faz refletir há vários anos: “Caso os cristãos acreditassem realmente que o Deus de vocês está nesse sacrário, já teriam deixado, há muito tempo, o mundo à feição do que Ele lhes delegou”.

Perguntas para refletirmos durante a semana:
- Creio no Deus que vem até mim?
- Que significado tem a Eucaristia na minha vida?
- Em que aspectos ela tem me transformado?

- Fernando Cyrino
Reproduzido via Amai-vos, com grifos nossos.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Oração

Foto: daqui

“Livrai-me de tudo aquilo que for vazio de amor.”

- Caio Fernando de Abreu

Parada Gay de SP comemora 15 anos e convoca todos os participantes para dançar a valsa de debutante



Foi divulgado nesta segunda-feira (20) um convite através de vídeo, convocando os participantes da Parada do Orgulho LGBT a dançarem a tradicional valsa de debutantes ao som de Danúbio Azul em comemoração aos 15 anos do evento.

A idéia é dançar com quem estiver ao lado quando a música tocar, no que pode ser o maior flash mob do gênero. A música será reproduzida pelos 17 trios elétricos da festa, mas em uma versão remixada assinada pela DJ Ana John.

“Não queremos nada muito longo, só registrar esse momento importante”, fala Ideraldo Luiz Beltrame, presidente da APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo).

O filme Valsa pela Diversidade, gravado no cruzamento da Avenida Paulista com a Rua Augusta, mostra os atores Ricardo Ramory e Rodrigo Feldman se encontrando no meio da faixa de pedestres e valsando solenemente.

“Queríamos um vídeo que não agredisse ninguém, mas que tivesse o espírito da parada, de lutar contra a homofobia”, explica Regina Campos, sócia da Na Laje Filmes, responsável pelo filme encomendado pela Artheventos.

Os produtores esperam entrar para o Guinness com o maior número de casais dançando valsa em público.

A valsa acontece neste domingo, dia 26, a partir das 13h30. Confira o vídeo e participe.

- Fonte: Do lado

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo


Quando enviou os discípulos em missão, Jesus os aconselha a ir às nações ensinando-as a Boa Nova e batizando os convertidos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Este é o sinal do cristão e significa a presença da Santíssima Trindade desde sempre unida à humanidade.

Em nome do Pai, Deus de amor e de misericórdia, criador de todas as criaturas que nos fez semelhantes a Ele e nos criou para a vida em abundância. Em nome do Filho, Jesus Cristo, irmão nosso, que se tornou humano para que, experimentando a humanidade, demonstrasse a divindade que Nele habitava. Em nome do Espírito Santo, espírito de amor que a todos resgata e impulsiona a dar continuidade ao projeto de Deus.

O texto do evangelho de São Marcos (Mc 12, 38-44) que relata o envio dos apóstolos termina com a promessa: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mc 12,44). Poder experimentar essa presença de Jesus em nossa vida é testemunhar a marca da Trindade em nossa alma. É poder todos os dias louvar a Deus, reverenciando-O por seu eterno amor. É ter em Jesus Cristo o exemplo de vida e missão. É deixar o Espírito soprar como quer, levando-nos ao encontro do outro, conduzindo-nos por caminhos inimagináveis e orientando-nos naqueles momentos confusos onde a razão humana não encontra explicação.

Jesus Cristo nos revela a Trindade, convidando-nos a amá-la. Esse convite estende-se a outro que nos exorta a vivermos unidos como irmãos e irmãs para que também sejamos um único povo amado por Deus, que vive a plenitude da comunhão experimentada pelas três pessoas divinas onde nada é separação ou dúvida ou injustiça. Quando nos propõe a Solenidade da Santíssima Trindade, a Igreja nos convida a refletir sobre esse mistério de nossa fé sobre a contribuição que devemos dar para viver em comunhão com nossos próximos, para sermos um mesmo sendo bilhões e para experimentarmos já nesta vida a vida plena, prometida por Deus aos seus filhos.

Possamos, pois, sentirmo-nos unidos irremediavelmente à Trindade Santa, de onde emanam o amor, a harmonia e o exemplo perfeito da vida em comunidade. Lembremo-nos que ao fazer o Sinal da Cruz em nossos rostos, estamos testemunhando com um sinal vivo que somos Filhos de Deus e chamados a viver em comunhão. Que a cada dia nos sintamos abençoados por Ela e, ao evocarmos seu Santo Nome, possamos nos sentir realmente reunidos, enviados e amados.

Que assim seja, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.


Texto para oração:
Mc 12, 38-44, Mt 28, 16-20 e Jo 3, 16-18

- Gilda Carvalho
Reproduzido via Amai-vos, com grifos nossos.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Pai, Filho e Espírito: comunhão de amor


Compreender o mistério da Santíssima Trindade é uma das grandes questões do Cristianismo. O Deus Uno e Trino surpreende a humanidade revelando suas três faces distintas e ao mesmo tempo uma só. Pai, Filho e Espírito Santo unidos comunitariamente mostram-se únicos, com características próprias e intransferíveis.

Deus-Pai, o Amante, o Criador supremo do universo e de todas as suas criaturas. Deus-Filho, o Amado, aquele em quem o Pai pôs sua complacência, aquele que revela para a humanidade a face do Pai. Deus-Espírito, o Amor, aquele que comunica e permite ao homem compreender ainda que limitadamente a grandeza desse mistério. Nos três, a figura característica de cada um.

Jesus Cristo, o Filho e a Segunda Pessoa, a expressão maior do Amante e do Amor: é aquele que se faz homem para revelar à humanidade o amor do Pai por sua criação e abrir caminho para que pudéssemos um dia experimentar a plenitude do Espírito que nos envolve e ilumina. É Jesus quem vai nos dizer por diversas vezes que quem O vê, vê o Pai ou ainda que para conhecer o Pai basta que O conheçamos. Também é Jesus quem vai nos prometer o Espírito Revelador que advogará nossas causas e nos inspirará a grandes obras e a nos fazer constantemente semelhantes ao Criador.

A Trindade revela em Jesus Cristo a sua plenitude e nos convida a amá-la e a nos unir enquanto irmãos e irmãs para também sermos um único povo amado por Deus, vivendo entre nós a comunhão experimentada pelas três pessoas divinas onde nada é separação ou dúvida ou injustiça. Refletir sobre a Trindade é refletir sobre o que podemos fazer para viver em comunhão com nossos próximos, para sermos um mesmo sendo bilhões, para experimentarmos já nesta vida a vida plena, prometida por Deus aos seus filhos.

Texto para sua reflexão:
Jo 16, 12-15

- Gilda Carvalho
Reproduzido via Amai-vos, com grifos nossos.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O essencial do credo


Ao longo dos séculos, os teólogos cristãos têm elaborado profundos estudos sobre a Trindade. No entanto, bastantes cristãos de nossos dias não conseguem entender o que essas admiráveis doutrinas têm que ver com suas vidas.

Ao que parece, hoje precisamos de ouvir falar de Deus com palavras humildes e simples, que toquem nosso pobre coração, confundido e desanimado, e revigorem nossa fé vacilante. Nós precisamos, talvez, recuperar o essencial do nosso credo e aprender a vivê-lo com uma nova alegria.

“Creio em Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra”. Não estamos sós ante os nossos problemas e conflitos. Não somos esquecidos. Deus é o nosso “Pai” querido. Desse modo era chamado por Jesus e assim é chamado por nós. Ele é a origem e o objetivo da nossa vida. Todos fomos criados por amor e seu coração de Pai nos espera no final da nossa peregrinação por esse mundo.

Hoje, seu nome é esquecido e negado por muitos. Os nossos filhos vão se afastando dele, e nós que acreditamos não sabemos lhes contagiar a nossa fé, mas Deus continua nos olhando com amor. Embora vivamos cheios de dúvidas, não temos que perder a fé em um Deus criador e Pai porque iríamos perder a nossa ultima esperança.

“Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor”. É o grande presente que Deus fez ao mundo. Ele nos contou como é o Pai. Para nós, Jesus nunca será mais um homem. Ao olhá-lo, vemos o Pai: nos seus gestos captamos a sua ternura e a sua compreensão. Nele podemos sentir ao Deus humano, próximo, amigo.

Este Jesus, o Filho amado de Deus, nos animou para a construção de uma vida mais fraterna e feliz para todos. É o que o Pai mais deseja. Além disso, ele nos indicou o caminho a ser percorrido. “sede vós compassivos como compassivo é o vosso Pai celeste”. Se esquecermos de Jesus, quem irá ocupar o seu vazio? Quem poderá nos oferecer a sua luz e a sua esperança?

“Creio no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida”. Este mistério de Deus não é algo distante. Está presente no profundo de cada um de nós. Podemos entendê-lo como o Espírito que alenta as nossas vidas, como o Amor que nos leva para aqueles que sofrem. Este Espírito é a melhor coisa que temos dentro de nós.

- José Antonio Pagola
Reproduzido via Amai-vos, com grifos nossos.

domingo, 19 de junho de 2011

Somente o amor nos torna felizes


Do pronunciamento do papa Bento XVI na solenidade da Santíssima Trindade de 2009 (que você encontra na íntegra aqui):

Em tudo o que existe está num certo sentido gravado o "nome" da Santíssima Trindade, porque todo o ser, até às últimas partículas, é um ser em relação, e assim transparece o Deus-relação, transparece por fim o Amor criador. Tudo deriva do amor, tende para o amor e se move impelido pelo amor, naturalmente com diferentes graus de consciência e de liberdade. (...) A prova mais forte de que fomos criados à imagem da Trindade é esta: somente o amor nos torna felizes, porque vivemos em relação, e vivemos para amar e ser amados. Utilizando uma analogia sugerida pela biologia, diríamos que o ser humano traz no seu "genoma" o vestígio profundo da Trindade, de Deus-Amor.

(Dica do sempre amigo Teleny)
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