sábado, 28 de abril de 2012

A metáfora da semente. Gérmens de ressurreição na Igreja


Declarar que a Igreja é uma semente implica indicar duas dinâmicas complementares: a disponibilidade de se esvaziar das suas aquisições para enriquecer-se através da comunhão vital com os outros, ou seja, "a disponibilidade de morrer para que a vida possa florescer".

A opinião é do teólogo italiano Carlo Molari, ex-professor das universidades Urbaniana, Lateranense e Gregoriana de Roma, em artigo publicado na revista Oreundici, de abril de 2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.


O Concílio Vaticano II, descrevendo a forma ideal de Igreja na Constituição Lumen Gentium, afirma que deve "constituir o germe e o princípio do Reino de Cristo e de Deus na terra" (LG n. 5), e que constitui para toda a humanidade "um germe mais firme de unidade, de esperança e de salvação" (n. 9). A metáfora do germe deve ser explicada. O germe ou semente não é autossuficiente, tem alguns componentes essenciais da realidade futura, mas, para desenvolvê-los, precisa ser completado pela água, pelos sais da terra, pelo calor e pela luz do sol. Esse completamento ocorre através de uma decomposição. Para desenvolver as potencialidades, ele deve, acima de tudo, se desfazer, se perder, se decompor.

Jesus insistiu sobre esse processo de aniquilação, porque é indicativo de atitudes e de dinâmicas essenciais da Igreja. "Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto" (Jo 12, 24). Paulo retoma a mensagem a propósito da ressurreição, indicando a morte como condição para a vida nova: "Aquilo que você semeia não volta à vida, a não ser que morra" (1Cor 15, 36).

Concretamente, declarar que a Igreja é uma semente implica indicar duas dinâmicas complementares: a disponibilidade de se esvaziar das suas aquisições para enriquecer-se através da comunhão vital com os outros, ou seja, "a disponibilidade de morrer para que a vida possa florescer".

Esse processo nunca é apenas individual, mas pressupõe e envolve ambientes vitais. O primeiro problema, por isso, é comunitário: que ambiente vital a comunidade é capaz de criar, de modo a fazer florescer e amadurecer os gérmens de ressurreição? É preciso um ambiente de vida teologal, de acolhida, de oração, de atenção aos sinais dos tempos. Neste tempo, existem muitos gérmens de ressurreição na Igreja, mas exigem o ambiente adequado para se expressar como sinais do Reino e para florescer como novidades de vida.

Se quisermos examinar alguns deles podemos lembrar: os muitos lugares de diálogo inter-religioso no mundo, as comunidades ecumênicas, as formas de voluntariado, os grupos de solidariedade. As comunidades de diálogo inter-religioso são pequenos lugares de fraternidade entre as pessoas de culturas e religiões diversas. O documento Diálogo e Anúncio (1991) os descreve de modo exato: "... pessoas radicadas nas próprias tradições religiosas compartilham as suas riquezas espirituais, por exemplo, no que se refere à oração e à contemplação, à fé e aos caminhos da busca de Deus e do Absoluto" (n. 42).

Esses centros modificam a partir de dentro a interioridade, oferecem uma contribuição notável no campo da teologia das religiões e acompanham o caminho da reflexão católica com intuições originais e com uma base experiencial muito ampla. O conhecimento a partir de dentro das respectivas religiões permite que se forneçam elementos que dificilmente podem ser encontrado nesse nível em outros autores.

O valor da teologia do diálogo entre as religiões está na sua base experiencial. Não partimos de categorias pré-constituídas, mas sim das experiências realizadas e do seu caminho espiritual, que certamente nem todos podem fazer, mas que amanhã se tornará obrigatório. Não haverá futuro se ficarmos fechados nas nossas pequenas experiências religiosas. O futuro pertence àqueles que serão capazes de falar mais linguagens e de entrar nos diferentes mundos religiosos. Os sinais estão nas inúmeras pessoas que praticam o diálogo e alimentam as relações.

A principal dificuldade está no fato de que não fomos educados para reconhecer as riquezas das outras culturas e das outras religiões. Ao contrário, era proibido pensar que houvesse, era proibido dialogar. Nos anos 1950, quando eu estudava teologia, os livros dos protestantes na biblioteca eram mantidos sob chave e, para lê-los, era necessária a autorização do Santo Ofício. Foram os modernistas que começaram a refletir sobre os elementos comuns das diversas religiões, mas o fizeram com uma atitude sincretista que depreciava o valor da religião cristã. Habitualmente, todas as culturas tendem a se considerar como únicas e a subestimar os outros. O pluralismo dá medo, porque implica a ideia de que toda tradição religiosa não é tudo, precisa ser confrontada, deve acolher os outros.

Por outro lado, as afirmações da unicidade da salvação em Jesus expressam, sem dúvida, a riqueza da experiência que os primeiros cristãos fizeram, mas pesaram notavelmente sobre a teologia das religiões em âmbito cristão. Aqueles que se dedicavam a ela eram logo postos em suspeita. Só depois do Concílio Vaticano II é que se rompeu o muro de separação, e o diálogo se tornou um componente essencial da missão. O relativismo ou o sincretismo são um risco, mas podem ser evitados, e é justamente esse aspecto que constitui um sinal de ressurreição: viver o diálogo como reconhecimento mútuo e aprofundamento da riqueza adquirida.

A humanidade mediante homens e mulheres espirituais está dando um passo à frente na acolhida recíproca. Como bem observa o missionário comboniano Giuseppe Scattolin, especialista em diálogo com o Islã: "Deve-se dizer que é justamente ao assumir a alteridade do outro com toda a seriedade e sem álibis que chegamos a compreender a própria identidade de modo cada vez mais profundo e verdadeiro. Alteridade e identidade não se excluem nem se anulam necessariamente, ao contrário, elas se requerem e se reforçam mutuamente. A compreensão de si mesmo não é cancelada, ao contrário, é amplificada e aprofundada através da abertura ao outro, ao diferente. É preciso, portanto, ter um olhar mais holístico da experiência religiosa, e não um preconceito relativista e reducionista dela" (Spiritualità in dialogo).

Um outro gérmen de ressurreição é constituído pelo voluntariado. Em um mundo em que as relações são cada vez mais condicionadas pelo interesse econômico, ganham espaço formas de atividade desinteressada e gratuita. São inúmeras iniciativas de fraternidade e de solidariedade que modificam desde a raiz as dinâmicas de relação.

Bento XVI, na encíclica Deus caritas est, escreve: "Nasceram e desenvolveram-se numerosas formas de colaboração entre as estruturas estatais e as eclesiais"; "um fenômeno importante do nosso tempo é a aparição e difusão de diversas formas de voluntariado, que se ocupam duma pluralidade de serviços. Desejo aqui deixar uma palavra de particular apreço e gratidão a todos aqueles que participam, de diversas formas, nestas atividades. Tal empenho generalizado constitui, para os jovens, uma escola de vida que educa para a solidariedade e a disponibilidade a darem não simplesmente qualquer coisa, mas darem-se a si próprios. À anticultura da morte, que se exprime por exemplo na droga, contrapõe-se deste modo o amor que não procura o próprio interesse, mas que, precisamente na disponibilidade a 'perder-se a si mesmo' pelo outro, se revela como cultura da vida" (n. 30).

Ligado a isso está o terceiro gérmen de ressurreição na Igreja: a difusão do espírito de misericórdia e a atenção pelos mais fracos da sociedade. Difunde-se cada vez mais a sensibilidade pelos marginalizados e as intervenções pela defesa das crianças, das mulheres solteiras, dos idosos abandonados.

Um quarto gérmen de ressurreição na Igreja é constituído pelo crescente interesse de muitos pela renovação da teologia. O teólogo é aquele que acompanha o caminho da comunidade eclesial estimulando a reflexão crítica sobre a experiência de fé de modo a saber traduzi-la em formas corretas e eficientes. O teólogo não é capaz por si só de formular a experiência de fé da Igreja, ele precisa da contribuição de todos: "A teologia cristã sempre existiu como elemento de um todo" (G. Ruggieri, Prima lezione di teologia, Ed. Laterza, 2011 p. 44).

A esse propósito, deve-se observar que, em certos ambientes eclesiais, dá-se excessiva importância à doutrina, enquanto que "a intenção principal da narrativa fundacional não está na determinação objetiva dos elementos, mas sim no alimento espiritual da experiência de fé, na sua legitimação profunda, além da preocupação apologética. A 'doutrina' continua sendo, portanto, elemento orgânico de um 'todo', isto é, de uma ordem entre diversas instâncias da vida da comunidade" (Ibid., p. 43).

De acordo com as fases da história e de acordo com o caminho da comunidade eclesial, a função do teólogo adquire maior ou menor importância, mas nos períodos de reviravolta cultural ele precisa da contribuição contínua da comunidade. A estrutura difusa e capilar do ensino teológica no Itália favoreceu o interesse pelos problemas da renovação do método e das pesquisas de teologia entre os fiéis. Espera-se que as respostas das estruturas oficiais também respondam a essa demanda de base.

Próxima missa da Pastoral da Diversidade, em São Paulo: 29/04


Próxima missa da Pastoral da Diversidade em São Paulo: dia 15 de abril, às 17h. Divulguem e compareçam!

Mais informações aqui e no www.pastoraldadiversidade.com.br :-)

O amor de Jesus às pessoas não tem limites


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 10, 11-18 que corresponde ao Domingo 4º da Páscoa, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto, aqui reproduzido via IHU.


O símbolo de Jesus como Bom Pastor produz hoje, em alguns cristãos, certo aborrecimento. Não queremos ser tratados como ovelhas de um rebanho. Não necessitamos de ninguém que governe e controle nossa vida. Queremos ser respeitados. Não necessitamos de nenhum pastor.

Não sentiam assim os primeiros cristãos. A figura de Jesus Bom Pastor converteu-se muito rapidamente na imagem mais querida de Jesus. Já nas catacumbas de Roma, ele é representado carregando sobre os seus ombros a ovelha perdida. Ninguém pensa em Jesus como um pastor autoritário dedicado a vigiar e controlar os seus seguidores, mas como um bom pastor que cuida delas.

O “Bom Pastor” preocupa-se com as suas ovelhas. É o seu primeiro traço. Nunca as abandona. Não as esquece. Vive pendente delas. Está sempre atento às mais débeis ou doentes. Não é como o pastor mercenário que, quando vê algum perigo, foge para salvar a sua vida abandonando o rebanho. Não quer saber das ovelhas.

Jesus tinha deixado uma recordação inesquecível. Os relatos evangélicos descrevem-no bem, preocupado com os doentes, os marginalizados, os pequenos, os mais indefesos e esquecidos, os mais perdidos. Não parece preocupar-se por si mesmo. Sempre se vê pensando nos outros. Preocupam-no sobretudo os mais desvalidos.

Mas há algo mais. “O Bom Pastor dá a vida pelas Suas ovelhas”. É o segundo traço. Até cinco vezes repete o evangelho de João esta linguagem. O amor de Jesus às pessoas não tem limites. Ama os outros mais do que a si mesmo. Ama a todos com amor de Bom Pastor que não foge perante o perigo, mas que dá a sua vida para salvar o rebanho.

Por isso a imagem de Jesus, Bom Pastor, converteu-se rapidamente numa mensagem de consolo e confiança para seus seguidores. Os cristãos aprenderam a dirigir-se a Jesus com palavras recolhidas do salmo 22: “O Senhor é o meu Pastor, nada me falta... mesmo que caminhe por vales profundos, nada temo, porque Tu vais comigo... A Tua bondade e a Tua misericórdia acompanham-me todos os dias da minha vida”.

Nós, cristãos, vivemos com frequência uma relação bastante pobre com Jesus. Necessitamos conhecer uma experiência mais viva e profunda. Não acreditamos que ele cuida de nós. Esquecemo-nos que podemos acudir a ele quando nos sentimos cansados e sem forças ou perdidos e desorientados.

Uma igreja formada por cristãos que se relacionam com um Jesus mal conhecido, apresentado apenas de forma doutrinal, um Jesus longínquo cuja voz não se escuta bem nas comunidades..., corre o risco de esquecer o seu Pastor. Mas quem cuidará da Igreja se não for o seu Pastor?

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Dar razão da esperança em nós


Para fechar com chave de ouro esta semana iniciada com a celebração do dia de S. Jorge:

“Onipotente Deus, que deste ao teu servo São Jorge a ousadia de confessar o Nome de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo diante dos poderosos deste mundo e a coragem de morrer por nossa fé. Concede que sempre estejamos prontos a dar razão da esperança que está em nós e a sofrer alegremente por amor de nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.” (Mártir, LOC, 146)

(Linda imagem e bela oração compartilhadas no Facebook pela Rev. Josi Saldanha)

A igualdade de direitos civis fortalece o Estado de direito e faz bem a todos

Foto: I Parada do Orgulho Gay do Reino Unido | Hall-Carpenter Archives

Reproduzimos o manifesto divulgado esta semana por Sergio Viula em seu blog.

Felizmente, um número cada vez maior de líderes religiosos desperta para o fato de que o avanço dos direitos da população LGBTI [1] é uma questão de direitos humanos e de preservação e amadurecimento da democracia. Isso é alentador, especialmente quando se leva em consideração o arrefecimento da homofobia [2] em alguns círculos dominados por fundamentalismos reacionários, baseados em projetos mesquinhos de segregação e dominação.

O uso dos meios de comunicação para reforçar o preconceito e promover a discriminação, seja ela qual for, especialmente contra uma minoria que se encontra socialmente vulnerável em muitos ambientes do território nacional, contraria os preceitos constitucionais expressos nos artigos 3º e 19 da Carta Magna:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (...):IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.
Com isso em mente, e levando em consideração o uso difamatório das concessões públicas de mídia por parte de religiosos fundamentalistas, consideramos absolutamente apropriado que a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais – no uso de suas prerrogativas estatutárias – solicite às autoridades competentes a tomada de medidas juridicamente cabíveis quando a organizações midiáticas que veiculem conteúdo de ódio, seja por meio de produção própria ou de horário/espaço vendido a terceiros, desde que frustradas quaisquer tentativas de diálogo com os responsáveis.

Ateus e agnósticos, bem como religiosos de todas as possíveis denominações, devem primar pela manutenção da liberdade de expressão e da liberdade de crer ou não crer. Estes são princípios essenciais à manutenção da democracia porque constituem direitos fundamentais. Todavia, tais princípios estão subordinados a outro: o da dignidade humana. Por isso, não podemos aceitar manifestações notadamente discriminatórias contra indivíduos ou grupos auto-determinados, sejam eles sexuais, identitários, culturais, étnicos, ou outros quaisquer. Pronunciamentos que induzem ou legitimam o ódio, ou que igualam a homossexualidade à doença não estão sintonizados com os pensamentos ou sentimentos mais nobres de líderes civis ou religiosos que se prezem. Uma frase atribuída a Jesus Cristo – modelo máximo de virtude para os cristãos – diz: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” (Mateus 7:12). Portanto, se os cristãos querem ter liberdade e respeito, precisam fazer o mesmo, para início de conversa.

Ademais, levando em consideração que o Brasil é signatário da Declaração Universal de Direitos Humanos (DDH), promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU), após a 2ª Guerra Mundial, e que nossa Constituição está em consonância com a mesma em seus princípios, vale relembrar que DDH claramente estabelece que:
Artigo I Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
Este artigo, por si só, já ordena o fim de qualquer tipo de discriminação. Ele também apresenta um dever do qual ninguém está isento: agir com espírito de fraternidade para com todos. Isso vale para todo e qualquer grupo ou indivíduo e, obviamente, inclui tanto as igrejas como os homossexuais, seja no direito de serem respeitados como no dever de respeitarem. Os homossexuais, de per si, geralmente respeitam os heterossexuais como tais. Nenhum heterossexual jamais foi morto por discriminação sexual. Enquanto isso, 250 pessoas das minorias homoafetivas foram assassinadas em 2010, segundo informou o Grupo Gay da Bahia (GGB) em seu relatório anual. Portanto, uma lei que tipifique o crime de homofobia faz-se absolutamente necessária no Brasil, assim como já foi promulgada em vários outros países, inclusive no Chile recentemente (abril/2012), depois que um jovem gay foi assassinado por neonazistas. Enquanto isso, no Brasil, uma bancada evangélica viciada em preconceito por orientação sexual e identidade de gênero continua tentando impedir o avanço de legislação que demonstre, na prática, que o Brasil é um Estado de direito realmente e que, por isso mesmo, não compactua com essa crueldade.
Artigo II Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
Este artigo deixa muito claro que os direitos humanos são aplicáveis a todos os seres humanos, independe de qualquer condição. Uma pessoa não pode ser privada de nenhum direito por qualquer característica aparentemente distintiva – o que inclui a sua orientação sexual e identidade de gênero. Todavia, para que isso se efetive na prática, é necessário que haja legislação específica que efetive juridicamente os direitos desses seres humanos, indesculpavelmente ignorados pelo Estado. Isso não é privilégio; é justiça.
Artigo III Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
De acordo com as mais recentes estatísticas, os casos de homossexuais assassinados no Brasil são quase seis vezes mais numerosos que no México e quase oito vezes mais que nos EUA. No mês de outubro de 2011, um cidadão homoafetivo foi morto a cada dia no Brasil, pura e simplesmente por homofobia. Logicamente, não estão computados aqui crimes com outras motivações.

Não há dúvida de que as pessoas LGBTI – como quaisquer outras – têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Portanto, não há razão justificável para se tolerar a promoção de ódio, uma vez que este gera a violência que vemos computada em estatísticas. É necessário lembrar que a biografia de cada LGBTI que é vítima de violência é afetada permanentemente, mesmo quando não resulta em morte. Violência verbal fere profundamente o indivíduo LGBTI, especialmente quando é muito jovem ou muito idoso, e estimula outros tipos de agressão por parte de pessoas que já carregam algum preconceito e pouca racionalidade. O Estado precisa proteger o cidadão quando este se encontra em situação de vulnerabilidade. É isso o que diz o Artigo VII:
"Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, à igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação."
Ou seja, o governo e a sociedade precisam coibir qualquer cidadão ou instituição de incitar outras pessoas a discriminar ou agredir, física ou verbalmente, quem quer que seja, inclusive os cidadãos homoafetivos.
Artigo XII Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Desnecessário dizer que quando alguém calunia o amor entre pessoas iguais, está interferindo na vida privada de milhões de brasileiros. A difamação da homoafetividade, especialmente por motivação religiosa fundamentalista, afeta casais homossexuais, famílias homoparentais, e constitui uma violação clara e gratuita contra o artigo XII, citado acima. Ninguém – mesmo que sob o pretexto da liberdade religiosa – tem o direito de interferir na vida privada das pessoas e de suas famílias e nem de transtornar suas interações públicas.

Vale relembrar que a Constituição Brasileira em seu artigo 3º diz o seguinte:
Art. 3º: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (...):IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Infelizmente, depois de centenas de anos de propaganda anti-gay promovida por igrejas preconceituosas, por políticos apenas interessados em manter o status quo, e por famílias viciadas em preconceitos perpetuados por tradições mantidas sem o menor questionamento, os cidadãos LGBTI têm despertado para a luta democrática pela garantia de seus direitos civis.

Esforços corajosos de pessoas que não suportam mais a privação de seus direitos e liberdades, porque simplesmente amam alguém do mesmo sexo, têm conquistado avanços nos campos político e jurídico, desenvolvendo políticas de inclusão e de reparação de injustiças.

Além disso, uma parcela cada vez maior da sociedade tem visto que não existem “fantasmas atrás do armário” e tem apoiado os homossexuais em sua luta pelo reconhecimento de seus direitos civis, a despeito das estratégias de manipulação de alguns reacionários políticos e religiosos.

Uma sociedade justa é uma sociedade comprometida com a garantia de direitos básicos iguais para todos. Por isso, entendemos que o Estado democrático de direito nunca poderá ser considerado como uma coisa acabada, pronta, finalizada. Ele estará sempre em processo.

É inaceitável que se admita qualquer tipo de ação ou pregação que ameace os cidadãos ou o próprio Estado de Direito – o que não impede de modo algum o funcionamento de qualquer agremiação religiosa. Pelo contrário, inúmeras igrejas e associações religiosas já se abriram para a isonomia dos cidadãos LGBTI, sem qualquer prejuízo para seu bom funcionamento e para o bem-estar de suas comunidades. Seria estranho se ocorresse o contrário, uma vez que isso só deporia contra o próprio cristianismo, ficando estabelecida uma relação entre preconceito e subsistência. Entretanto, se o cristianismo realmente tem no amor sua essência, ele naturalmente se alinhará a todas as formas de combate à injustiça, inclusive aquelas praticadas contra os cidadãos homoafetivos.

Por isso, outras formas de injustiça supostamente baseadas na fé foram abolidas (ou tem sido) na sociedade, apesar de não se ter mudado um til das escrituras cristãs, e sem que isso impedisse o funcionamento das igrejas. Vale lembrar que práticas como a escravidão, a xenofobia, e a dominação da mulher foram abolidas, graças a ideais humanistas, mesmo sob protestos por parte de alguns setores do cristianismo. O mesmo ocorre atualmente com relação aos direitos civis dos indivíduos LGBTI.

Felizmente, muitas denominações e outras organizações cristãs têm revisto os conteúdos homofóbicos de suas prédicas e práticas. Entre elas, citamos os seguites:

Episcopais Americanos
Em março de 2010, a igreja Episcopal aprovou a eleição de uma bispa-assistente lésbica na Diocese de Los Angeles. Ela é, portanto, o segundo bispo homossexual assumido na comunhão anglicana global. O primeiro foi o bispo Gene Robinson, episcopal americano.

Anglicanos Ingleses
Em fevereiro de 2010, a Igreja da Inglaterra tomou uma atitude progressista: votou por estender os mesmos direitos previdenciários aos parceiros gays do clero assim como são garantidos a esposas e maridos heterossexuais.

Essa atitude da Igreja da Inglaterra deve inspirar outras da mesma comunhão em diversos países do mundo.

Presbiterianos Americanos
Em outubro de 2010, a Igreja Presbiteriana dos EUA ordenou ao pastorado Scott Anderson, primeiro ministro abertamente gay daquela denominação. Ele havia servido como ministro em Sacramento, na Califórnia, de 1983 a 1990, quando teve de se afastar da igreja por causa de chantagem de um casal da congregação que ameaçou revelar sua orientação sexual. Ele, porém, reuniu a igreja e falou abertamente sobre sua orientação sexual, renunciando o ministério, porque a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos não permitia que homossexuais servissem como pastores. Isso mudou em outubro desse ano, e o pastor que pregou na cerimônia de ordenação dele foi, em outros tempos, um dos mais ferrenhos perseguidores dos homossexuais. Tudo isso só foi possível, porque em 2009, uma assembleia nacional da igreja votou pela revogação da regra, permitindo da ordenação de Anderson.

Santos dos Últimos Dias
A Igreja dos Santos dos Últimos Dias (ISUD) ou igreja dos mórmons, como alguns a conhecem, é considerada ultraconservadora, no que diz respeito às suas doutrinas e práticas, mas em 2010, pela primeira vez em sua história, mostrou apoio à causa gay ao defender uma série de textos contra a discriminação aos homossexuais que tramitaram no conselho municipal de Salt Lake City, no estado de Utah, nos Estados Unidos.

A ISUD considerou a lei "justa, razoável e não violenta a instituição do matrimônio", conforme disse seu porta-voz. Utah é onde fica a sede da Igreja Mórmon, que possui cerca de 14 milhões de fiéis em todo o mundo.

Igrejas no Brasil
Além das diversas igrejas chamadas inclusivas (um movimento recente no país que abraça e celebra a diversidade sexual), um fato chamou a atenção. A Aliança de Batistas do Brasil aplaudiu a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que concede direitos civis a pessoas do mesmo sexo vivendo em união estável.

No entanto, o casamento gay não é uma questão religiosa, diga-se de passagem. É um direito civil, efetivado em cartório, envolvendo o sistema jurídico do país. As cerimônias nesta ou naquela comunidade de fé dependem da crença dos nubentes e da abertura de seus sacerdotes e/ou associações religiosas. O propósito da citação das igrejas acima é apenas o de demonstrar que celebrar a diversidade sexual não depõe em nada contra a espiritualidade dessas comunidades religiosas.

É necessário que os reacionários a esses avanços no campo do direito e contra seus desdobramentos políticos, sociais e econômicos abandonem palavras e expressões que incitem o ódio e o medo. Basta de violência física e verbal.

Neste mês (abril/04), a Igreja Anglicana do Brasil, na pessoa de seu Arcebispo Primaz Dom Ricardo Loritte de Lima, manifestou seu apoio à ABGLT quanto ao processo em andamento no judiciário, por causa da insistente difamação contra as pessoas homoafetivas em programa de TV mantido por um pastor evangélico do Rio de Janeiro. Ele diz literalmente o seguinte: “Querido Toni, receba o apoio integral da Igreja Anglicana do Brasil, que fiel ao ensinamento do Mestre Jesus, ama e acolhe a todos, sem distinção nenhuma! (...) Os líderes religiosos devem estar a serviço dos direitos humanos e não da discriminação e ódio.” O pensamento e o sentimento de Dom Loritte estão em perfeita consonância com qualquer humanismo mínimo.

Desejamos ver outros líderes e comunidades fazendo o mesmo, pois já existe muita violência em andamento. Tudo o que mais precisamos no momento é de paz e esta não pode ser promovida por meio de pregações acachapantes contra os homossexuais. Não temos dúvida de que o ofício pastoral ou sacerdotal pode ter sua utilidade quando seus representantes usam seu poder de comunicação e mobilização para combater o que mina o progresso do nosso país: questões como as drogas, a violência urbana e doméstica, a corrupção, a desigualdade social, o tráfico de mulheres e crianças, enfim, temas que prejudicam a população brasileira como um todo, porque também violam os direitos individuais e colocam em risco o bem-estar social. Por outro lado, prestam um desserviço quando promovem injustiças e acentuam discriminações. Para realizar seu trabalho, nenhuma igreja ou sacerdote/pastor precisa falar dos homossexuais, nem para bem nem para mal. Basta deixar essas pessoas em paz. Certamente, o ofício pastoral vai muito além dessa estranha e obstinada preocupação com “quem ama quem”.

Sergio Viula
Presidente do Conselho LGBT da LiHS
Publicado originalmente no site da Liga Humanista Secular do Brasil

Notas:
1 - A sigla LGBTI designa lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e intersexuais.


2 - Homofobia:
“Um conjunto de emoções negativas (tais como aversão, desprezo, ódio, desconfiança, desconforto ou medo), que costumam produzir ou vincular-se a preconceitos e mecanismos de discriminação e violência contra pessoas homossexuais, bissexuais e transgêneros (em especial, travestis e transexuais) e, mais genericamente, contra pessoas cuja expressão de gênero não se enquadra nos modelos hegemônicos de masculinidade e feminilidade. A homofobia, portanto, transcende a hostilidade e a violência contra LGBT e associa-se a pensamentos e estruturas hierarquizantes relativas a padrões relacionais e identitários de gênero, a um só tempo sexistas e heteronormativos” (JUNQUEIRA, Roberto Diniz. O Reconhecimento da Diversidade Sexual e a Problematização da Homofobia no Contexto Escolar. Rio Grande do Sul. Editora da FURG, 2007, p. 60-61.)

Casamentos gays na Grã-Bretanha?


A Inglaterra pode se tornar o sétimo país europeu a aprovar o casamento homossexual depois da Holanda, Bélgica, Espanha, Noruega, Portugal e Islândia. Pelo menos, esse é o objetivo do primeiro-ministro David Cameron, que deseja trazer para casa esse resultado até 2015, a dez anos da luz verde ao Civil Partnership Act, que oferece aos casais homossexuais os mesmos direitos dos casais heterossexuais.

A nota é de Giacomo Galeazzi, publicada no blog Oltretevere, 25-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto, aqui reproduzida via IHU.


Isso significaria "formalizar" ainda mais um passo já dado pelo governo trabalhista de Tony Blair, que, com as uniões civis, 'levou ao altar", no dia seguinte à luz verde, 687 casais gays, incluindo o muito famoso entre Reginald Kenneth Dwight, cujo nome artístico é Elton John, e o canadense David Furnish, que celebraram suas núpcias em Windsor Guildhall, o cartório onde, alguns meses antes, haviam se casado o príncipe Charles e Camilla Parker Bowles.

Em sete anos, enquanto isso, na Inglaterra, um casal gay também teve tempo para se separar (depois da união civil) e, no fim de março, um tribunal de Londres emitiu um julgamento sobre aquele que é considerado o primeiro caso legal de divórcio entre gays na Grã-Bretanha. Portanto, uniões civis e divórcios civis.

O que você mudaria, então? Mudaria que, das uniões, se passaria para casamentos civis propriamente ditos, e essa questão não é muito simples, especialmente porque a hierarquia eclesiástica, dos anglicanos aos católicos, se inclinaram amplamente contra a proposta. A Igreja da Inglaterra, no dia 15 de março, dia do início da consulta, publicou uma nota em seu site, na qual que expressa toda a sua contrariedade: "A Igreja da Inglaterra está comprometida com a concepção tradicional da instituição do matrimônio como sendo entre um homem e uma mulher" e "defende o modo pelo qual as uniões civis oferecem a casais do mesmo sexo uma paridade de direitos e de responsabilidades com relação aos casais heterossexuais casados. Uma abertura do matrimônio aos casais do mesmo sexo conferiria pouco ou nenhum novo direito legal àqueles que já estão ligados por uma união civil, mas exigiria muitas modificações na lei, com a mudança da definição de matrimônio que valeria para todos''.

Os católicos também não manifestaram simpatia pela "batalha" de Cameron, tanto que o presidente e vice-presidente da Conferência dos Bispos da Inglaterra e do País de Gales, Dom Vincent Nichols e Dom Peter Smith, arcebispo de Southwark, enviaram uma carta assinada que foi lida em 2.500 paróquias do país, na qual evidenciaram que os católicos "têm a obrigação de fazer todo o possível para assegurar que o verdadeiro significado do matrimônio não se perca para as gerações futuras".

O núcleo da discussão reside no fato de que, se com a "parceria civil" os casais do mesmo sexo têm a possibilidade de se vincular em uma união registrada, ela não é, no entanto, um casamento do ponto de vista jurídico. Aspecto que mudaria com a lei para a qual Cameron iniciou uma consulta pública. Noventa dias a partir de 15 de março. Até a metade de junho, em suma, a opinião pública britânica poderá informar ao governo quais são as suas próprias orientações a respeito.

Na consulta, especifica-se, no entanto, que os casamentos serão apenas e exclusivamente civis, mas se trata de uma "tranquilização" que não bastou para aqueles que não concordam com a escolha. A imprensa também manifestou, mais ou menos veladamente, a sua posição: não exatamente de acordo os conservadores Daily Mail e Daily Telegraph, e não totalmente em desacordo o Guardian e o Independent, que, nos últimos dias, traçou o ponto da situação.

De um lado, a Coalizão para o Casamento, que reúne diversas organizações que se recusam a "redefinir" o matrimônio tradicional, com algumas publicações, como a Country Life Magazine, que conseguiram reunir mais de 400 mil assinaturas contra a proposta de Cameron. De outro lado, a Coalition for Equal Marriage, liderada por um casal gay de Newcastle, apoiada por organizações como a Humanistic Society, Gay Times e a National Secular Society: sua campanha, até agora, trouxe 40 mil signatários para a petição pela igualdade, mas eles sabem que a batalha, apesar do apoio do governo, não será nada fácil.

Especialmente depois do "se" usado por Cameron durante seu discurso aos líderes religiosos para o dia da Páscoa. Um "se" que não passou despercebido por nenhuma das partes (''Se a questão seguir em frente – disse o primeiro-ministro –, mudará o que acontece em um cartório. Não vai mudar o que acontece em uma igreja").

Dom Geoffrey Robinson e a redenção de Eros

Foto: Herb Ritts

Dom Geoffrey Robinson quer que a Igreja, segundo a frase da época de Pentecostes, "fale uma linguagem inteiramente nova" sobre os atos sexuais, mas entende que deve pronunciar o seu convite em um vocabulário de distinções e regulações legais à moda antiga, que se tornou a língua nativa e às vezes bifurcada da instituição.

A opinião é de Eugene Cullen Kennedy, professor emérito de psicologia da Loyola University, Chicago, nos EUA. O artigo foi publicado no sítio National Catholic Reporter, 20-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto, aqui reproduzido via IHU.


O abençoado bispo da Austrália que fala com tão bom senso sobre a sexualidade humana é um Robinson por nome e por mito. Porque ele é um Robinson Crusoé, construindo um barco com a ajuda de Sexta-Feira, avatar de todos nós, que permitirá que a Igreja zarpe até as profundezas da experiência sexual humana.

O bispo quer que a Igreja, segundo a frase da época de Pentecostes, "fale uma linguagem inteiramente nova" sobre os atos sexuais, mas entende que deve pronunciar o seu convite em um vocabulário de distinções e regulações legais à moda antiga, que se tornou a língua nativa e às vezes bifurcada da instituição.

Ele faz isso graciosamente, fazendo uma proposta radical para se reexaminar e renovar os ensinamentos da Igreja sobre os atos heterossexuais, condição necessária para que ela possa olhar de novo para os atos homossexuais. Ele compreende que os saudáveis Sextas-Feiras, os homens e mulheres comuns do catolicismo, ultrapassaram há muito tempo a Igreja institucional em seus esforços para compreender e integrar a sua sexualidade em suas vidas.

O propósito de Dom [Geoffrey] Robinson é, de fato, aquele definido pelo Papa João XXIII como a sua razão para a convocação do Vaticano II: "Tornar a caminhada humana sobre a Terra menos triste".

De fato, ao urgir uma revisão muito necessária do que e de como a Igreja ensina sobre sexualidade humana, Dom Robinson se baseia sobre temas centrais do Vaticano II. O primeiro deles se encontra no fato de colocar a realidade da pessoa humana, em vez da abstração da lei natural, como o ponto de referência central nos ensinamentos da Igreja e nos pronunciamentos papais sobre matrimônio e atividade sexual.

O segundo se encontra na mudança de uma ênfase em atos objetivos para intenções e disposições subjetivas ao fazer julgamentos sobre a maldade ou a bondade de como as pessoas se comportam. Isso enfatiza justamente o impacto que nossas ações ou omissões têm sobre outras pessoas, em vez da ira que se estagnou dentro de tantos líderes da Igreja que têm se preocupado tanto com o pecado.

O bravo bispo também aponta para o trabalho acadêmico, em grande parte com o pioneirismo, nos EUA, do corajoso padre Charles Curran, para modificar o antigo ensino de que, devido à sua natureza especial, todo ato, pensamento, desejo ou mesmo distração sexual permitidos a iluminar por muito tempo na alma sempre foram um pecado grave e mortal.

As convicções de Robinson sobre a necessidade de uma análise aprofundada do ensino da Igreja sobre a sexualidade são importantes em si mesmas, mas também porque ele encontrou uma forma de falar sobre essa questão essencial a partir de dentro da Igreja, mesmo que de uma forma tradicional e afetada, em que o diálogo se move, embora lentamente, em direção a um círculo mais amplo de prelados.

Ele está buscando, por assim dizer, redimir Eros, isto é, reconhecer a natureza fundamentalmente saudável e criativa de Eros, em vez de rotulá-la, como os Padres da Igreja primitiva fizeram em sua incompreensão do mito do Jardim do Éden, como a consequência carregada de concupiscência do Pecado Original.

As apostas são altas nesse esforço de entender Eros como um impulso humano basicamente saudável que assume seu caráter moral de energia positiva em todas as atividades que dão vida e melhoram a vida, da arte verdadeira ao amor verdadeiro. O Papa Bento XVI falou sobre Eros de uma forma positiva em sua primeira encíclica sobre o amor.

Os Padres do Vaticano II, convidados a votar sobre uma proposta para condenar uma ampla variedade de "ismos", do comunismo ao erotismo, se recusaram a incluir este último depois que um bispo se levantou para objetar a esse mal-entendido do Eros que, como ele disse, tem "algo de bom".

Geoffrey Robinson é um bispo apenas também, levantando-se sozinho como seus antecessores do Vaticano II fizeram, para se dirigir aos outros bispos amontoados sobre ele ao falar da sua necessidade de compreender e afirmar novamente o que é bom e criativo, ao invés do que é mau e destrutivo, em toda expressão de amor sexual verdadeiramente humana.

Eu aposto que, contra todas as possibilidades, Dom Robinson irá falar e, finalmente, será ouvido pelo que há de saudável em seus irmãos bispos.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Prece

Foto via Blue Pueblo

Dá-me alma para te servir e alma para te amar.
Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra,
ouvidos para te ouvir no vento e no mar,
e mãos para trabalhar em teu nome.
Torna-me puro como a água e alto como o céu.
Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos
nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos.
Faze com que eu saiba amar os outros como irmãos
e servir-te com a um pai.

- Fernando Pessoa
(Conforme visto aqui)

Uma referência do tempo

Foto: Rodney Smith

Há cinquenta anos a Igreja Católica vivia um dos períodos mais importantes de sua história. Convocado pelo Papa João XXIII na festa de Natal de 1961, o Concílio Vaticano II era inaugurado no dia 11 de outubro de 1962. Realizado em quatro sessões, foi encerrado em 8 de dezembro de 1965, já sob o pontificado de Paulo VI.

O que pretendia o adorável e bondoso Papa João ao convocar em tempo recorde um Concílio Ecumênico com mais de 2000 participantes? Que necessidade pulsava nas entranhas da comunidade eclesial, fazendo sentir como necessária esta convocação? Por que a tradicional e respeitada Igreja Católica assumia o risco de abrir suas portas e situar-se sob os holofotes da opinião pública do mundo inteiro?

Desde Leão XIII, que em 1891 confessara com dor o distanciamento do catolicismo para com a classe operária, tornava-se sempre mais claro para o governo da Igreja que esse distanciamento se dava em relação ao mundo como um todo. No pontificado do Papa Pio XII (1939-1958) já aconteciam dentro mesmo das fronteiras católicas movimentos de renovação fortes e influentes.

Os mais importantes diziam respeito ao estudo da Bíblia e à liturgia. Brilhante intelectual e agudo observador, Pio XII teve que viver um período conturbado em termos políticos, enfrentando a subida do Nazismo e uma guerra mundial que esfacelou a Europa.

Ali se sentiu ainda mais claramente a necessidade imperiosa para a Igreja de reaprender a dialogar com um mundo passado pelo crivo da modernidade, que não se regia mais pelos ditames da religião, mas avançava a passos largos pelos caminhos da secularidade e da autonomia da ciência e da técnica.

Eleito em1958, João XXIII surpreendeu o mundo ao recolher todos esses desejos e expectativas e torná-los realidade com a convocação do Concílio. Seu objetivo era repensar e renovar os costumes do povo cristão e adaptar a disciplina eclesiástica às condições do mundo moderno.

A palavra italiana aggiornamento (atualização) foi cunhada para expressar o que o Concílio pretendia e os frutos que desejava e perseguia.

Na visão profética de João XXIII, o Concílio seria como “um novo Pentecostes”, ou seja, uma profunda e ampla experiência espiritual que reconstituiria a Igreja Católica não somente como instituição, mas como movimento evangélico dinâmico, feito de abertura e renovação. Assim começou o processo que resultou no Concílio Vaticano II e que foi como um divisor de águas para a Igreja. “Sopro de inesperada primavera”, em palavras do próprio Papa, foi marcado pela abertura e pelo olhar reconciliado para o mundo e sua complexa realidade.

Enquanto Concílios anteriores na Igreja tinham como preocupação principal condenar heresias, definir verdades de fé e costumes e corrigir erros que nublavam a clareza da plena verdade, o Vaticano II teve desde o princípio como orientação fundamental a procura de um papel mais positivo e participativo para a fé católica na sociedade, discutindo não apenas definições dogmáticas e teológicas, mas voltando sua atenção igualmente para problemas sociais e econômicos, vendo-os não como ameaças, mas como autênticos desafios pastorais que pediam uma resposta por parte da Igreja.

Ao definir a especificidade do Concílio que convocava, João XXIII declarou enfaticamente, com força e audácia pastoral, não pretender uma vez mais fazer listas de erros e condenações, como tantas vezes havia acontecido no passado. Desejava, sim, a Igreja abrir diante do mundo a beleza e o valor de sua doutrina, usando mais de misericórdia e menos de severidade. Isto, no seu entender, ia mais ao encontro das necessidades dos tempos atuais e dava à mesma Igreja um rosto mais maternal e acolhedor.

João XXIII não pretendia revogar nada do depósito da fé que lhe cabia guardar com zelo de pastor. Mas tampouco desejava corrigir formulações ou proclamar novos dogmas. Sua intenção ao convocar o Concílio era que Igreja e Mundo pudessem finalmente dialogar abertamente, para que a mensagem cristã pudesse ser vivida em toda a sua profundidade e vigor. Hoje, o Vaticano II continua sendo uma referência não apenas para os católicos, e sim para todos aqueles e aquelas que desejam entender melhor o tempo em que vivem.

- Maria Clara Bingemer
Reproduzido via Conteúdo Livre, com grifos nossos.

Deus é gay

Foto daqui

Enquanto um sacerdote anglicano mencionava, em artigo publicado sexta-feira passada no jornal inglês The Guardian, a possibilidade de Jesus ter sido gay - e, mais importante, enfatizava que, gay ou não, isso não faria diferença nenhuma (leia aqui) - uma pichação causava comoção, em Santa Helena, interior do Paraná.

Foram três frases: “Deus é Gay”, “Pequenas Igrejas, Grandes Negócios” e “Fuck the religion”. Os autores foram detidos e o assunto, tratado como um caso de intolerância religiosa. O ato de vandalismo é inaceitável, definitivamente. Porém, chamou-nos muito a atenção o escândalo causado, quase mais que pelo ato em si, pelo conteúdo das frases - sobretudo da primeira. Aliás, não foi incomum que as notas a respeito, sobretudo em veículos religiosos, tendessem a deixar as duas últimas um pouco de lado e dar destaque apenas à primeira. Mas por que dizer que "Deus é gay" chama tanto a atenção?

Ora, "as duas últimas frases são claramente agressivas, independente de você acreditar ou não em alguma religião ou ter suspeitas que certas igrejas são corruptas", comentou o jornalista Vitor Angelo, do Blogay, na Folha de S. Paulo, "mas 'Deus é gay' só é ofensiva de um certo ponto de vista cultural: a que considera ser gay algo ofensivo e/ou a que não crê que Deus criou todas as coisas."

Muito bem observado. Talvez tenha sido justamente esse ponto de vista cultural, aliás, o maior responsável por toda a polêmica em torno do cartaz da Parada LGBT de Maringá (no mesmo estado do Paraná) e a catedral na semana passada (saiba mais aqui). Afinal, se a construção, além de símbolo religioso, é também o símbolo maior da cidade, usado em tantos eventos e com tantos propósitos diferentes, por que a mera associação com um evento gay seria, por si só, ofensiva de algum modo? :-)

Porém, para além da intenção dos autores da pichação de ofender, será mesmo que dizer que alguém é gay é, em si, ofensivo? E será que associar Deus e homossexualidade é necessariamente ofensivo?

Vitor Angelo faz um comentário muito pertinente:
Muitos dizem que Deus é mais, é tudo, é amor ou como São Tomás de Aquino disse em sua “Suma Teológica”: “Deus est in omnibus rebus”, isto é, Deus está em todas as coisas existentes. 
“De duas maneiras se diz que Deus está em uma coisa: Primeiro, como causa eficiente, e nesse sentido ele está em tudo que criou. Segundo, como objeto de uma operação que está naquele que opera, o que é próprio das operações da alma, em que o objeto conhecido está no sujeito que o conhece, e o objeto desejado naquele que o deseja. Por esta segunda modalidade, Deus está de modo especial na criatura racional, que O conhece e que O ama, em ato ou por habitus”, escreveu o filósofo cristão. 
Ora, se os gays fazem parte do mundo criado por Deus, para aqueles que acreditam que Deus criou tudo no mundo, como no caso da Igreja Católica, ela não pode se dizer ofendida, pois se em tudo que Deus criou, ele lá está, o mesmo deve ocorrer com os homossexuais, pois – segundo as crenças da própria igreja - Deus criou tudo que existe. 
Em suma: Deus também é gay.

Dicotomias, lutas, fé e amor: gays versus Igreja?

Foto via Facebook

Certa feita, uma amiga comentava sobre as crises possíveis na cabeça de homossexuais religiosos. Se a sociedade diz que a homossexualidade é anormal, a religião diz que é errado, que é pecado...

Todo mundo pode se sentir no direito de fugir da normalidade, se for esse o caso (não é esse o caso). Mas fugir do que é certo tem efeitos piores. A carga do “anormal” pode até ser suportada (quem disse que estou a fim de ser “normal”?), mas a carga do “errado” pesa.

E enquanto seguem essas dicotomias extremistas, esse jeito limitado mesmo de enxergar as coisas, seguem cristãos e homossexuais massacrados dentro de sua própria consciência, sem liberdade, sem vida, sem fé, sem amor. Os paradigmas ainda atrasados que as igrejas oferecem são um grande desafio para a luta LGBT, para as saídas do armário, para o fim da homofobia.

Mas disso, todo mundo sabe. Preciso falar diferente.Se as igrejas ainda erram ao tratar dos gays, o movimento ainda erra ao tratar da igreja. Vício de tantos grupos que se articulam em torno de várias causas, temos a mania de personificar as lutas em torno de um inimigo só. Muitas vezes, o nosso debate sobre homofobia soa como se desejássemos acabar com as religiões (especialmente com o cristianismo) para ter, enfim, tudo muito resolvido.

A matriz religiosa da formação da nossa sociedade meio que já limitou nossa visão de mundo, nessa coisa de céu e inferno, homem e mulher (opostos completos, sem se misturar ou se confundir). A bagunça já está feita. Assim, simplesmente derrubar a instituição não faz com que derrubemos o pensamento discriminador que anda espalhado por aí, influenciando até mesmo quem está fora das igrejas. A mudança tem que proceder no pensamento do povo, não na estrutura, na hierarquia. Muitas vezes, precisamos até mesmo da estrutura para mudar o pensamento.

Digo isso por visualizar um lado (muito forte, por sinal) da igreja e do cristianismo que enxerga um outro Cristo, um carinha que morava lá pelas periferias da Galiléia, carpinteiro, favelado, sofredor... e que por isso entendeu e defendeu na sua mensagem todo um povo que, como ele, sofreu alguma opressão.

Jesus hoje iria na Parada Gay. Mesmo que não gostasse de homens, estaria lá pela causa política, pelo debate, pela luta por visibilidade de uma galera segregada pela falta de amor e respeito pela diferença. Estaria lá, assim como estaria no acampamento dos sem-terra, na ocupação dos atingidos por barragens, no protesto do movimento estudantil. Foi um preso político do seu tempo, defendendo as causas dos oprimidos, fortalecendo as lutas do povo, e cobrando de seus seguidores (até hoje) um posicionamento transformador.

Lá, na multiplicação dos pães, Jesus pede que as pessoas “se sentem” em grupos de cinquenta. O povo que o seguia era um povo de sofridos, de escravos. Nessa época, escravo não comia sentado. Pedir que se sentem, assim, sutilmente, é pedir que se libertem. As pessoas só precisam entender isso, mudar os pensamentos.

E assim, mais do que segregar e desejar um forte “cala a boca, senhor bispo!”, é preciso fazer entender que há um diálogo possivel, pela compreensão de que o amor tem a função primordial de libertar (assim como Jesus o quis)... A missão é fazer com que as pessoas acreditem é direito de todos sentir essa coisa que é o sentimento, coisa doida que deixa mais vivo, que faz lutar pela vida do outro através do cuidado e da afetividade, que pega a gente sem que possamos escolher o alvo... nem homem, nem mulher...

Faço, sim, uma defesa da religião. Faço por entender que, ao contrário do que se imagina, lá dentro a gente também se livra de alienações. Não se trata de uma evangelização cega, mas de um desabafo de cansaço por ouvir os comentários chatos de quem (dicotomicamente, também) acha que gays não podem estar na igreja, e que tudo o que virá dela será prejudicial. Se ainda precisamos que ela mude, a função de quem quer mudança é se inserir para mudar. É necessário postura de quem quer tranformação.

Pode até não parecer possível, mas é cá na minha fé que eu milito. Mais que por qualquer coisa, é por ser muito religioso que eu repito incessantemente o grito de não à Homofobia!

- Murilo Araújo
Jornalista e professor. Homem feminista, católico homossexual, fã de Beyonce e Bethânia. Sem enxergar nenhuma ambiguidade em nada disso.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

"Porque eu defendo a família. Todas as famílias."



Os mesmos direitos, com os mesmos nomes. :-)

Saiba mais aqui e aqui.

(Dica da amiga Rosilene Luiza. Obrigado! ;-)))

Posicionamento do CFP: tratamento da mídia sobre homossexualidade


A esta altura do campeonato já não é nenhuma novidade esta nota emitida dia 11/04/12 pelo Conselho Federal de Psicologia a respeito da questão da "cura homossexual". Mas, como a gente não tem mesmo como ser mais rápido no gatilho que o Sérgio Viula em seu excelente blog Fora do Armário, que está sempre dando as notícias mais relevantes em primeiríssima mão, reproduzimos, mesmo com atraso, porque vale o registro e nunca é demais divulgar. ;-)

Diante das recorrentes discussões por parte da mídia sobre a questão da orientação sexual e a possibilidade de “cura” dos homossexuais pelas psicólogas e psicólogos, tendo como exemplo o programa "VEJAM SÓ" da Rede Internacional de Televisão (RIT TV), transmitido dia 19/03/2012 e que levantou o tema “você concorda que os psicólogos sejam proibidos de ajudar os gays que desejem mudar sua orientação sexual?”, o CFP tem o seguinte posicionamento:

Primeiramente, já foi esclarecido anteriormente em nota publicada dia 28/03 que a Resolução do CFP nº 001/99 referenda a posição internacional frente ao tema, pois em 1993, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade do rol de doenças e patologias da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID 10).

Da leitura da Resolução nº 001/99, constata-se que, bem ao contrário do que sustenta o autor do PDC 234/2011, o CFP em momento algum veda a prestação de orientação psicológica profissional aos que pretendam voluntariamente alterar sua orientação sexual. O que se veda é que a psicóloga (o) preste os seus serviços de modo a tratar ou a prometer a cura da homossexualidade, pois a homossexualidade não é uma doença.

A (o) psicóloga (o) deve acolher o sujeito em sofrimento psíquico, seja ele proveniente de sua orientação sexual ou qualquer outro, entendendo que cabe ao indivíduo expressar-se livremente em suas demandas para a construção de um projeto terapêutico singular.

Deverá a (o) psicóloga (o) ter como princípio o respeito à livre orientação sexual dos indivíduos, e conforme o artigo 2º item b de nosso Código de Ética, é vedado à/ao Psicóloga(o) induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito quando no exercício de suas funções profissionais.

A questão da orientação sexual como expressão do direito humano, distancia-se radicalmente de conceitos de cura e doença. O objetivo terapêutico não será a reversão da homossexualidade porque esta não é uma demanda passível de tratamento, já que não se configura como distúrbio ou transtorno. O projeto terapêutico proposto estará direcionado para o bem-estar daqueles que procuram auxílio psicológico, contribuindo para a universalização do acesso da população as informações, ao conhecimento da ciência psicológica e aos padrões éticos da profissão.

Mas uma segunda questão vem à tona, relativa ao papel da mídia brasileira na discussão de tais questões, que têm sido muitas vezes debatidas de forma rasa e tendenciosa, sem entrar no mérito de um assunto tão sério, que acaba guiado por paradigmas religiosos.

Muitas das discussões desencadeadas pelos referidos meios ferem a Democracia e substituem o necessário embate de ideias políticas por denúncias unilaterais e, de modo geral, sem comprovação informativa, e sem o livre exercício do direito ao contraditório.

Acreditamos que fatos como estes mostram, mais uma vez, que a ausência de mecanismos de regulação democrática capazes de apurar e providenciar ações imediatas para lidar com as infrações cometidas pelas emissoras demandam uma das políticas públicas que necessitam ser construídas no Brasil como um Conselho Nacional de Comunicação, com participação dos diversos segmentos da sociedade, assim como já ocorre nos países democráticos.

Esta é uma das políticas em que o CFP atua no Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), onde o Conselho ocupa a Secretaria-Geral da coordenação executiva no biênio 2012-2013. A coordenação executiva do FNDC é composta atualmente por nove entidades que trabalham juntas na luta por uma Comunicação Democrática no Brasil.

É fundamental que o Ministério das Comunicações coloque em discussão, imediatamente, propostas para um novo marco regulatório das comunicações, com mecanismos que contemplem órgãos reguladores democráticos capazes de atuar sobre estas questões.

Acesse: http://www.comunicacaodemocratica.org.br/

Assista a seguir debate transmitido no dia 22/01 no programa Ver TV, da TV Brasil, com a participação da conselheira do CFP Roseli Goffman. O programa organizou debate sobre os excessos na programação da TV brasileira. Veja a seguir os blocos do Programa:

Parte 1:
Para assistir ao vídeo, você precisa ter instalado o Windows Media Player (ou VLC).
Ao baixar e usar o vídeo, você automaticamente declara estar de acordo com o Termo de Uso.

Parte 2:
Para assistir ao vídeo, você precisa ter instalado o Windows Media Player (ou VLC).
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Parte 3:
Para assistir ao vídeo, você precisa ter instalado o Windows Media Player (ou VLC).
Ao baixar e usar o vídeo, você automaticamente declara estar de acordo com o Termo de Uso.

Não se esconda


Numa das peças da nova campanha global da Ray-Ban, cujo slogan é "Never Hide" (Nunca se esconda), veem-se dois homens de mãos dadas num ambiente que sugere os anos 40 do século passado.

O anúncio é uma homenagem ao escritor Taylor Mead. "Na década de 40, ser homossexual era ilegal. A polícia vivia tentando nos apanhar e colocar na prisão. Mas eu era quem era. Não iria mudar. E, sabe do que mais? Ser homossexual nunca me incomodou minimamente; era apenas um pouco assustador. Porque não era possível ter a certeza, uma vez que todo ser humano tem duas caras", conta o próprio escritor na página da marca. "Ler Shaw, Kerouac e Ginsberg ajudou-me a descobrir quem eu realmente era: um escritor. Por isso, escrevi tal como vivia: apenas para meu prazer, sem qualquer vergonha ou receio. Rapidamente ganhei muitos fãs leitores. Em suma, tenho sido amado e lido por pessoas que nunca me falariam na rua", completa Mead, que também participou de vários filmes de Andy Warhol como ator.

(Fonte: Dezanove.pt)

Outra espiritualidade possível

Escultura: Karen Cusolito

Lindo, este artigo de Ricardo Gondim. Duro, mas belo e verdadeiro.

Como a cigarra que só deixou uma casca, chegou a hora de algumas instituições religiosas se verem mero registro histórico de boas intenções. E deixem suas suntuosas catedrais como recordação da religião imponente, guerreira, voluntariosa, que um dia foram.

Passou o tempo da religião especializada em doutrinar. Ficou para trás o sistema obcecado por pensamentos lineares; intransigente nas leituras literais; inflexível nos pressupostos. O projeto de incutir salvação como anuência acabou. Aprender o catecismo para ser considerado um discípulo mostrou-se incapaz de promover um bem social. A religião que privilegiou o individualismo se esvaziou. O bem coletivo nasce do diálogo, da abertura para o diferente, nunca de decorebas. Para ressurgir, o movimento, que se pretendia evangélico, deve abandonar sua casca dogmática e legalista – que teve pertinência, mas hoje exige a alma de muitos.

No desmonte desse esqueleto religioso, é preciso denunciar também o eleicionismo teológico. Nada mais patético do que considerar-se preferido entre bilhões. Saber-se eleito significa acreditar que em alguma época passada, numa eternidade remotíssima, Deus distinguiu alguns e preteriu a maioria. Indica afirmar que os benefícios divinos foram seletivamente distribuídos – sem que se saiba por quais critérios. Essa convicção só pode gerar uma segurança ilusória – que não só enche de empáfia, como ajuda a distanciar o punhado sortudo do drama que os demais sofrem. Vaidade espiritual vem daí.

Há de repensar-se a função do sacerdote. Não pode existir uma elite representante de Deus. Como aceitar que o acesso ao Divino seja complicado ao ponto de exigir burocratas? Peritos, especialistas em divindade, não passam de sicofantas – carreiristas, alpinistas amarrados ao sagrado.

Espiritualidade não se reduz à técnica; ela prescinde de traquejos. Um “Deus que funciona” não passa de um autômato. As relações com ele não dependem de se aprender o jeito de fazê-lo responder a estímulos corretos.
 O clericalismo, detentor dos mistérios da divindade, abriu a porteira do estrelismo. E religião que reforça vedetismo, robustece ego e desmerece a simplicidade, não é digna de ser chamada “seguimento de Jesus”. Na mensagem do Nazareno, benignidade triunfa sobre teoria e a busca da justiça se concretiza em ações transformadoras.

Longe da mentalidade gerencial, outra espiritualidade florescerá nas fissuras das estradas de terra. Ali, na poeira do dia a dia, virtude desprezará gestos ocasionais para grudar na pele de pessoas comuns.

O percurso que separa o cristianismo da cristoformidade parece longo e difícil. Todavia, não vai demorar os seguidores de Jesus aprenderem que: “Religião de verdade, que agrada a Deus, o Pai, é esta: cuidem dos necessitados e desamparados que sofrem e não entrem no esquema de corrupção do mundo”. [Tiago 1.27]

Soli Deo Gloria

- Ricardo Gondim
Reproduzido do site do autor

terça-feira, 24 de abril de 2012

Fundamentalismo: que a lei de meu Deus valha para todos


Da coluna de Contardo Calligaris na Folha de S. Paulo em 05/04/12, comentando a escolha do candidato republicano à presidência dos EUA nas próximas eleições:

"(...) Mas o sucesso da campanha do maior concorrente de Romney, o senador Rick Santorum, mostra que a tentação extremista republicana é forte. De que se trata?

Santorum, por exemplo, declarou que ele teve vontade de vomitar quando ouviu o presidente Kennedy defender a separação da igreja e do Estado. É óbvio que a união de Estado e igreja leva qualquer governo a atropelar a liberdade privada de seus cidadãos, ou seja, é óbvio que a frase de Santorum é oposta aos ideais libertários do centro americano.

Por que ele se engajou neste caminho? De onde lhe veio essa ideia? Costuma-se pensar (e dizer) que o sonho americano começa com os puritanos, que saíram da Inglaterra a procura de liberdade religiosa. Mas os puritanos estavam interessados só na sua própria liberdade religiosa, não na dos outros.
 
Como projetava John Winthrop em 1630, ainda no barco que o levava para a nova terra, eles construiriam "uma cidade que brilharia nas alturas", exemplo para mundo, mas uma cidade fechada (na qual quem não concordasse seria enforcado como as bruxas de Salem e a mulher que pecasse por adultério seria marcada com uma letra escarlate).

Por sorte, em 1631, Roger Williams começou a pregar a separação de Estado e igreja e o direito de qualquer um de venerar o deus que bem entendesse.

Williams foi expulso e fundou Providence, outra cidade "nas alturas", mas aberta, onde ele inventou a liberdade de professar sua fé sem impô-la aos outros -ao contrário, com a ideia de que defender a liberdade dos outros é a melhor maneira de proteger a nossa própria liberdade.

Pois bem, o centro moderado norte-americano acredita em Roger Williams. Mas é preciso constatar que Rick Santorum e os republicanos extremistas não são uma invenção recente: como John Winthrop, eles sonham com a paz simplória de um vilarejo onde não se leia nada além da Bíblia e onde sempre seja possível dizer o que é certo e errado - e, claro, proibir o que seria 'errado'.

É curioso que ninguém repare no óbvio: os sonhos deles não são diferentes dos sonhos do Talibã de qualquer vilarejo do Afeganistão.

Os fundamentalistas são todos iguais: 'apenas' querem que a lei de seu deus seja mandatória para todos os demais.

Por sorte nossa, não é esse o sonho daquele centro moderado norte-americano que, em geral, escolhe os presidentes."

(Reproduzido via Conteúdo Livre)

Mórmons que amam os gays


O Tony Goes recentemente divulgou em seu blog o vídeo acima, feito para a campanha It Gets Better por alunos da Brigham Young University, a maior entidade de ensino americana ligada ao mormonismo, também tida como um dos piores ambientes acadêmicos para jovens LGTB, onde o “comportamento homossexual” é estritamente proibido (saiba mais sobre o projeto do vídeo e sa história aqui).

"O vídeo causou um estrago porque mostra que gays e lésbicas são pessoas perfeitamente normais, que vêm de famílias normais e levam vidas normais", diz Tony; ou seja, "tudo o que soa como heresia" para os conservadores. O melhor é que muitas destas famílias estão começando a aceitar seus filhos homossexuais; pais e mães mórmons, por exemplo, fizeram o vídeo a seguir,  lamentando as décadas de discriminação e preconceito contra gays e garantindo que vai melhorar (infelizmente, este não conseguimos com legendas em português legendado em português - obrigado pela super dica, Leonel! :-))).



De fato, constata o blog Vozes Mórmons, "apesar da discriminação oficial por parte d'A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, há muitos Mórmons que amam e apoiam os seus amigos e familiares que são gays, lésbicas, ou transgêneros. Muitos membros da Igreja dos Santos dos Últimos Dias apoiam a legalização do casamento homosexual, e alguns até defendem a mudança das doutrinas da Igreja para permitir casamento homossexual no templo. (...) Outros Mórmons, como a Comunidade de Cristo, já aceitam plenamente seus irmãos e irmãs na comunidade glbt." 

Nas palavras de uma das participantes do vídeo acima: “Eu apenas oro para que, quem quer que assista isso, aprenda a se amar e se apreciar como pessoa, e enxergar a sua própria divindade, seu eu interior, seu espírito, assim como você realmente é. Eu digo isso em nome de Jesus Cristo, amém.”

Que assim seja. :-)

As crianças e os gêneros

Foto via Facebook

Causou furor na rede há umas duas semanas a divulgação de um catálogo de brinquedos sueco que inverteu os papéis tradicionais de gênero, mostrando um Homem-Aranha (um menino ou uma menina?) empurrando um carrinho de bebê e cercado de outros brinquedos cor-de-rosa, enquanto uma menina de calça comprida e tênis pedalava um carrinho. A esse propósito, reproduzimos aqui o belo texto da Debora Regina, publicado no Blog Mamíferas na semana passada.

Entro em casa e, na sala, vejo a seguinte cena: Naná vestida de princesa, com os pés descalços e encardidos, jogando futebol de botão com Pedrinho, o irmão mais velho.

Essas situações são comuns aqui em casa. Outro dia, João Felipe brincava de casinha com as meninas, ajudava a carregar o bebê e cuidar da casa. Vantagens de quem tem meninos e meninas em casa: eles têm oportunidade de brincar com todos os tipos de brinquedos. Fico feliz em ver que, pelo menos nas brincadeiras, para meus filhos, a questão de gênero não faz diferença, pelo menos para eles homens e mulheres são iguais e fazem o que lhes der na veneta.

Eu nunca disse para eles que tal atitude/roupa/brinquedo eram para menino ou menina, eles podem brincar com tudo, vestir o que quiserem. Lembro que quando o João era pequeno, me pediu uma pia e panelinhas pois ele queria brincar de cozinheiro, eu comprei uma roxa e amarela. Fico muito brava ao ver que, hoje em dia, não fazem mais geladeira ou fogão brancos, tudo, absolutamente tudo, é rosa, ou seja, além de reforçar que o serviço doméstico só pertencem às mulheres, ainda por cima temos que aceitar o rosa como a única cor possível.

Por outro lado, não há como fugir de alguns estereótipos: Ana Cecília adora rosa, fru-frus, coroas, vestidos, enquanto os meninos curtem brincar de luta, futebol, além de algumas “ogrices” típicas de meninos como arrotar e soltar pum. Isso me faz refletir onde está sendo repetido um padrão social e onde esses gostos e atitudes pertencem às naturezas feminina e masculina. Ainda não cheguei a uma conclusão definitiva, mas, algo me diz que há sim maior influência social.

Para mim, o problema maior quando o assunto é gênero, são as informações vindas de fora, porque as crianças sempre trazem os preconceitos proferidos pelos próprios coleguinhas. Ultimamente, a grande dúvida deles é sobre o que é ser gay, visto que alguns coleguinhas já tacharam que meninos não podem ter algumas atitudes porque são considerados gays. Eu, muito calmamente, explico para eles que o amor pode acontecer com pessoas de todos os sexos: homens que amam mulheres, homens que amam homens e mulheres que amam mulheres. Explico também que isso é algo que só acontece com pessoas mais velhas, então eles não precisam se preocupar com isso. Ponto final.

De minha parte, faço o possível para não reforçar esses estereótipos. Desejo sinceramente que meus filhos sintam-se, acima de tudo, indivíduos livres e sem preconceitos.

- Debora Regina, para o Blog Mamíferas

A Lola publicou ontem no seu blog um texto excelente sobre o assunto. E tudo isso nos lembrou, aliás, este post aqui... e o vídeo aí embaixo. ;-)

Uma teologia pastoral que nasça de um ''convite para almoçar''



Talvez devêssemos pôr uma ênfase muito maior no desenvolvimento do "convite para almoçar" como parte integrante dos programas de teologia pastoral, como fizeram o Cardeal de Viena e, mais recentemente, o Arcebispo de Maringá.

Publicamos aqui o editorial do jornal
National Catholic Reporter, 09-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto, aqui reproduzido via IHU.


Seria, talvez, apenas um sinal dos tempos que os católicos ficassem abalados ao ler que um cardeal, enfrentando uma situação pastoral difícil, reconhecesse publicamente que se perguntou "Como Jesus agiria"?

Essa é a pergunta que o cardeal Christoph Schönborn, de Viena, Áustria, fez ao considerar se ele deveria manter uma decisão de um pároco de proibir um homem gay, em uma união doméstica registrada, servir em um conselho paroquial.

Em março, Florian Stangl, 26 anos, foi eleito com ampla maioria para o cargo, recebendo 96 dos 142 votos expressos pelos membros da paróquia. O pároco, Pe. Gerhard Swierzek, líder da pequena paróquia, interveio e, sustentando a lei da Igreja contra as uniões homossexuais, pediu-lhe para renunciar à posição e também, de acordo com as reportagens, pediu que Stangl não recebesse a Eucaristia.

A arquidiocese, no início, sustentou a regra. Então, Schönborn fez a si mesmo aquela pergunta. E Stangl pediu para falar com o cardeal.

Schönborn aparentemente decidiu que uma coisa que Jesus faria, seria convidar Stangl e seu parceiro para almoçar.

O que ele descobriu durante o almoço, disse ele mais tarde, é que ele ficou "profundamente impressionado com a disposição fiel [de Stangl], com a sua humildade e com a forma pela qual ele vive o seu compromisso com o serviço. Por isso, eu posso entender", disse o cardeal, "porque os moradores de Stützenhofen votaram tão decididamente pela sua participação no conselho paroquial".

E então Schönborn indicou que a arquidiocese iria tentar refazer as regras para as eleições pastorais, que atualmente exigem que os candidatos assinem uma declaração de que eles apoiam todos os ensinamentos da Igreja.

Em uma declaração explicando a sua decisão, Schönborn disse: "Há muitos conselheiros paroquiais cujo estilo de vida não está completamente em conformidade com os ideais da Igreja. Em vista do testemunho de vida que cada um deles dá, tomados em conjunto, e o seu compromisso com a tentativa de viver uma vida de fé, a Igreja se alegra com os seus esforços".

É interessante que, na mesma semana, circularam notícias amplamente na Internet e em outros lugares sobre a opinião do cardeal Carlo Maria Martini, expressas no livro "Crer e conhecer", de que, embora a sociedade deva defender e apoiar a vida familiar, "não é ruim que duas pessoas tenham alguma estabilidade ao invés de relações homossexuais ocasionais, e, nesse contexto, o Estado também poderia favorecê-las".

Seria demais sugerir que Martini e Schönborn poderiam ser a vanguarda de uma mudança no pensamento hierárquico? Afinal, essa é a primeira geração de prelados que tiveram que se confrontar com a realidade de que gays e lésbicas não continuarão mais sendo um "problema" oculto. Eles abertamente fazem parte das nossas vidas, das nossas culturas, das nossas comunidades de fé e continuarão sendo. Eles já não são uma abstração sobre a qual se pronunciar, sem desafio, como alguma curiosidade teológica ou ética.

A outra coisa que Schönborn fez, foi falar publicamente sobre a sua luta com essa questão, discutindo a respeito durante uma entrevista de uma hora na televisão austríaca na noite do Domingo de Ramos. Essas questões fazem parte do discurso público, e ele demonstrou que a Igreja pode fazer parte desse discurso.

Schönborn revisitou essa questão em uma homilia dirigida aos padres da arquidiocese durante a Missa do Crisma na Terça-Feira Santa e a situou na questão mais ampla do cuidado pastoral para os católicos cujos estilos de vida não "estão em plena conformidade com os ideiais da Igreja". Ao invés de lançar invectivas contra pessoas em uniões homossexuais, contra católicos heterossexuais coabitantes e contra divorciados católicos em segunda união, Schönborn disse que a Igreja precisa abraçá-los em sua jornada de fé.

A abordagem de Schönborn atraiu muitas notícias, é claro, porque ela é muito notavelmente diferente de grande parte do policiamento confrontacional de fronteiras que existe na Igreja nos dias de hoje. Ela não sobrecarrega os leigos com uma exigência diante da qual a hierarquia, como sabemos, falharia miseravelmente enquanto classe – que todos sejam perfeitos em todos os detalhes.

E se, por exemplo, os bispos norte-americanos decidissem convidar a teóloga e irmã de São José Elizabeth Johnson para um almoço – ou mesmo para um jantar – para discutir a sua obra antes de condená-la imediatamente? E se Dom Robert McManus, de Worcester, Massachusetts, tivesse convidado Victoria Kennedy para almoçar e para conversar sobre qualquer objeção que ele pudesse ter contra ela como paraninfa do Anna Maria College? E se essas lideranças dos Estados Unidos tivessem levado em consideração o "testemunho de vida" dessas mulheres como um todo? Ambos os episódios poderiam ter tido finais mais civis, ou mesmo racionais.

Passar o tempo com alguém, especialmente partindo o pão com esse alguém, tende a suavizar as arestas duras. Isso não nega o princípio, mas pode fazer com que hesitemos, ou mesmo repensemos, antes de condenar alguém publicamente.

Os guerreiros da cultura entre nós podem recusar essa estratégia. À distância, as linhas sempre parecem mais nítidas e mais definidas. É difícil continuar guerreando contra alguém que você conhece um pouco mais e contra quem você percebe como alguém razoável e bem intencionado.

Talvez os seminários devessem levar em consideração o fato de pôr uma ênfase muito maior no desenvolvimento do "convite para almoçar" como parte integrante dos programas de teologia pastoral.
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