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(Continuação do post de hoje de manhã. Se você não leu, dê uma olhada aqui primeiro. :-))
São duas e meia da manhã e eu estou olhando para a tela do computador. Dentro de cerca de quatro horas eu preciso estar acordada pra levar meu filho pra escola e ir pro trabalho. Ao invés disso, estou quebrando a cabeça tentando descobrir o que dizer para um adolescente cujos pais estão fazendo de sua vida um inferno.
Minha vida não foi sempre assim.
Eu escrevi o que eu achava que era uma pequena história fofa e inocente sobre meu filho mais velho e seu amor por um personagem de um programa popular de televisão, e como isso acabou o levando a me contar que ele queria beijar meninos e não meninas. Eu, ingenuamente, coloquei isso na Internet, pensando que talvez alguns fãs da série ou do ator achariam fofo também.
12 horas depois, essa história foi “curtida” e reblogada mais de 20 mil vez.
24 horas depois, foi colocada na página inicial do Out.com.
36 horas depois, Dan Savage estava blogando sobre ela.
48 depois, o Trevor Project posta sobre ela no Facebook.
Foi impressionante. Mais que isso, foi de quebrar o coração. Por causa de toda a exposição, vieram comentários e uma caixa de entrada cheia.
Eu consigo lidar com comentários negativos. Pessoas dizem que meu filho é muito novo para assistir à série. Que eu não deveria estar escrevendo sobre meu filho sendo ele tão novo. Que minhas piadas são ruins. Eu consigo olhar pra tudo isso imparcialmente e concordar que eles tem alguma razão (ainda que eu nem sempre concorde).
O que eu não consigo lidar é com centenas de pessoas dizendo que gostariam que eu fosse a mãe deles. Centenas de pessoas me dizendo que eu mereço prêmios. E, pior, pessoas dizendo que eu sou uma mãe perfeita.
Eu simplesmente não sou tão legal assim.
Eu me esforço pra ser uma boa mãe, mas eu não estou nem entre as 25 melhores mães que conheço. Eu sou aquela mãe que fala irritantemente alto. Eu nunca nem tentei ler um livro sobre bebês. Eu danço ska com meu marido no meio de lojas quando estou entediada e faço meus filhos desejarem morrer de tanta vergonha. E isso é só o começo.
Mas aí estão todas essas pessoas online dizendo quão boa eu sou. E o que eu fiz? Eu disse que amava meu filho incondicionalmente. Isso é algo tão raro que as pessoas precisam parar pra falar sobre? Eu não pensava assim, mas agora começo a me perguntar.
Porque a parte que realmente quebra meu coração são as mensagens na minha caixa de entrada. Aquelas que vêm de crianças cujos pais evidentemente falharam na parte mais importante de ser pai ou mãe: de fato amar seu filho. Os comentários são simples e devastadores, e quase sempre terminam da mesma forma: me agradecendo por amar meu próprio filho.
Eu respondo a todos, no escritório enquanto deveria estar trabalhando, e tarde da noite no sofá quando eu deveria ter ido dormir há horas. Não responder não é uma opção para mim. Eu preciso fazê-lo. Eu preciso que essas crianças saibam que eu li suas palavras. Que eles merecem o melhor. Que eles significam algo pra mim.
Não é tudo ruim. Um garoto de 14 anos me disse que acabou de sair do armário para os pais. Eu respondi parabenizando-o e perguntei como foi. E então eu sentei, ansiosa, esperando que ele respondesse, e ele apareceu um minuto depois dizendo que “tudo correu muito bem!”.
Mas infelizmente, os comentários que me fazem sorrir e rir são uma minoria. A maioria deles são como o que eu estou vendo nesse momento. Uma criança de coração partido que deseja desesperadamente que sua mãe pare de lhe dizer coisas horríveis. Um menino que deseja que sua mãe ainda o ame.
Eu vou achar alguma coisa pra dizer pra ele, mas eu sei que não vai ser o suficiente.
Eu quero viver em um mundo onde aquela histórinha boba que eu escrevi não tem nada de especial, é apenas uma bobagem sobre um garotinho e seu amor por um garoto de blazer.
(Postado em agosto)
* * *
No dia 16 de agosto eu aprendi o significado de “viral”.
Eu escrevi um texto sobre meu filho mais velho e seu amor por um popular personagem gay da televisão, o Blaine de Glee, e como sua paixonite o levou a me contar que ele queria beijar garotos e não garotas. Eu, ingenuamente, postei isso em meu blog, achando que alguns fãs da série achariam fofo.
Dentro de 24 horas ele havia sido repostado e “curtido” mais de 30 mil vezes no site do blog. Não demorou muito até que as mensagens começassem a lotar a caixa de entrada, outros sites começarem a postar e as pessoas a comentarem. A recepção pela esmagadora maioria foi positiva. O que eu pensei que era uma simples história sobre meu filho e minha família claramente tocou fundo em muitas pessoas.
Também deixou muitas pessoas desconfortáveis. Das críticas, a mais comum é que meu filho tem seis anos de idade e não sabe nada sobre sexo. Ainda que eu tenha certeza de que isso não diz nada de definitivo a respeito da orientação sexual do meu filho, eu rejeito a ideia de que ser gay diz respeito apenas a atos sexuais. Nossas emoções e sentimentos, nossas atrações e compulsões, tudo contribui, não apenas as partes do nosso corpo. Se meu filho estivesse apaixonado pela atriz principal de iCarly, eu duvido que as pessoas diriam que ele é muito jovem pra ter sentimentos sexuais por uma garota. Eu acredito que pensariam que é apenas uma paixonite inocente de menino, o que é exatamente o que isso é. Além disso, pra cada comentário que eu lia dizendo que meu filho era muito novo, havia vários outros de adultos dizendo “eu também sabia quando era pequeno”.
Isso tudo me fez pensar e depois de um tempo eu comcei a sentir como se eu soubesse um grande segredo que não deveria de maneira alguma ser um segredo: todo adulto gay foi uma criança gay. Não é como se todas as crianças começassem héteros até que algum tempo depois alguém ligasse o “botão gay”.
As palavras horríveis e cheias de ódio das Michelle Bachmann da vida são levadas a um novo nível de repugnância quando as imaginamos sendo gritadas a um grupo de crianças na pré-escola ou primeira série. Eles são anti-naturais. Eles são pecadores. Eles vão pro inferno. Eles são sujos, errados e doentes.
Essas pessoas diriam para o meu garotinho inocente (que no momento quer ser um bombeiro-ninja quando crescer) que ele é a maior ameaça existente para a família americana… porque ele quer beijar meninos e não meninas.
A realidade é que eles estão enfiando essas palavras de ignorância e ódio na cabeça de crianças gays todos os dias. E essas crianças estão ouvindo isso. Eu sei porque muitas dessas crianças agora estão me escrevendo. Crianças de 14 anos me mandaram mensagens. Tantas delas são crianças assustadas, que obviamente não escolheram isso pra si mesmas, vivendo com medo de que suas famílias descubram porque sabem o que seu pai e sua mãe vão dizer. E eles me dizem que gostariam que eu fosse a mãe deles.
Eu quero deixar toda essa conversa, todas essas mentiras, todo esse ódio, longe dessas crianças. Claro, há um problema inerente nisso. Nós não podemos saber quem são as crianças gays só de olhar, e comportamento não é um indicador preciso (algumas meninas héteros são “moleques” e alguns meninos gays adoram brincar de carrinho). A única maneira de saber a orientação sexual de alguém é a pessoa nos contando, o que para alguns não acontece até a vida adulta.
Então, a solução é óbvia pra mim. Manter isso longe de todas as nossas crianças. É minha responsabilidade como mãe, como ser humano, levantar e dizer “basta”. Não, você não pode dizer essas coisas na frente dos meus filhos, a menos que você queira lidar comigo. Porque eu não vou permitir que nenhum dos meus filhos seja maldosmente atacado sem que eu os defenda. Eles nunca terão que duvidar sequer por um segundo pelo quê seus pais lutam, e nunca terão que viver com medo de quem são.
Porque desde 16 de agosto, eu aprendi que o ódio é o vírus com qual temos que nos preocupar.
(Postado em 3/10/11, aqui; grifo do Jack.
E sabem o que é mais fofo? É que a própria autora desses textos, a Amelia, acabou sabendo da postagem do pessoal do Minoria é a Mãe e entrou em contato com eles. Maravilhas da internet neste mundo globalizado - veja aqui.) Tweet
7 comentários:
" Se meu filho estivesse apaixonado pela atriz principal de iCarly, eu duvido que as pessoas diriam que ele é muito jovem pra ter sentimentos sexuais por uma garota.".
Essa ponderação mais uma vez mostra o inadequado do contexto. iCarly é programa para adolescente, cenas de beijo, filhos que moram sozinhos, blog show de devaneios sem importância. Nada adequado para um garotinho de seis anos, tanto quanto programas de personagens homosexxuais. Essa mãe erra tremendamente.
Bom, Alex... são maneiras diferentes de encarar as "paixonites" infantis. Respeitamos seu ponto de vista, mesmo sendo diferente do nosso. Grande abraço! :-)
E enquanto a mãe se preocupa com uma suposta "mensagem odiosa" futura, uma criança inocente está sendo erotizada por esse tipo de programação. Enquanto eu me escandalizo e me preocupo com a criança, a "catolicidade" do Diversidade aplaude o amor amoroso de uma mãe que não liga se seu filho for submetido e manipulado.
Alex,
eu concordo contigo que essa criança não deveria assistir programas de adolescentes, porém, você esquece que ele é uma criança inserida em um mundo erotizado. Mesmo que ele não assistisse em casa (sendo que lendo o blog da Amelia descobri que ela e o marido sempre editam o conteúdo dos programas para os filhos assistirem) fora de casa ele sofreria essas influências. Eu pretendo não deixar minha filha assistir esse tipo de coisa, mas tenho consciência de que fora de casa ela estará sujeita a tudo isso. E que, mesmo que eu não permita em casa, ela vai ter acesso ao conteúdo dos programas, se não por mim, pelos amiguinhos. É desde a mais tenra idade que ela vai começar a formar sua identidade sexual e de gênero. Mesmo que ela nunca assista nada assim em casa, e mesmo que na rua ela não seja exposta a erotização, é bem antes da puberdade que começa a surgir a identidade sexual de uma pessoa.
Você está perdendo o foco do texto que é mostrar o menino e focando no fato da mãe deixá-lo assistir o programa. Se ela não o deixasse assistir iria gerar uma série de situações em que ele ouviria o que acontece no programa pelos coleguinhas da escola, e ouviria o ódio pelos homossexuais.
Não tem como fugir da TV hoje em dia, então o melhor é fazer como Amelia faz, assistir o programa sem os filhos, editar e deixar passar. Melhor que simplesmente proibir algo que o filho terá contato fora de casa e sem supervisão.
Obrigado por colocar de forma tão clara um ponto de vista que é tão próximo do nosso, Rebeca. Não teríamos como nos expressar melhor.
:-)
Beijo carinhoso.
:-)
Encontrei seu blog casualmente e foi com muito prazer que li suas postagens. Infelizmente ultimamente tenho lido em muitos blogs temas e posts homofóbicos e é horrível pensar em como estas pessoas se sentem.
Eu sou gay, a minha família sabe que sou gay. E na verdade foi minha mãe que veio me perguntar se eu era gay, pois ela viu uma mensagem em meu celular de meu namorado, e ele vem a minha casa, minha mãe e meu gostam muito dele, se preocupam com ele e ela até esta dizendo que como vamos vamos morar juntos é como estarmos casados.
Então ver como muitos são tratados é doloroso, doloroso ver como a ignorância ainda toma conta do mundo.
A maioria dos homossexuais, meus grandes amigos, posso dizer que são sim mais sensíveis, mesmos os mais "machões" e ouvir, ver tantas coisas homofóbicas por aí machuca muito.
Eu não sou católico, mas não tenho nada contra a religião, todos nós ouvimos o chamado divino de diversas formas, mas me orgulho que haja pessoas focadas na espiritualidade e não em picuinhas homofóbicas atuais. Parabéns a vocês.
Oi, Pallas, que legal o seu comentário! É sempre bom saber que nem todos nós temos uma experiência tão dolorosa ou mesmo devastadora. Experiências como a sua e a da sua família é que nos levam a acreditar que o mundo está mudando, e mudará; e que as coisas estão melhorando, vão melhorar. ;-) Esse é um dos nossos objetivos: disseminar o diálogo, espalhar a mudança, difundir o respeito e uma lógica não-violenta de lidar com as diferenças.
Um beijo imenso pra ti!
:-)
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