terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Os oceanos de Deus


Nossa vida é uma unidade porque está centrada no mistério de Deus. Mas para conhecer essa unidade temos que olhar para além de nós mesmos e, com uma perspectiva maior do que aquela com a qual geralmente olhamos, quando nossa principal preocupação é o interesse por nós mesmos. Apenas quando começamos a abandonar o auto-interesse e a auto-consciência, é que essa perspectiva maior começa a se abrir. Uma outra forma de dizer que nossa visão se expande, é dizer que nós conseguimos ver além das meras aparências, em direção à profundidade e ao significado das coisas (...) não apenas (...) em relação a nós mesmos mas (...) ao todo do qual fazemos parte. Esse é o caminho do verdadeiro auto-conhecimento e, é por isso que o verdadeiro auto-conhecimento é idêntico à verdadeira humildade. A meditação nos revela essa preciosa forma de conhecimento, [e] esse conhecimento se transforma em sabedoria... uma vez que conheçamos, não mais por análise e definições, mas por participação na vida e no espírito de Cristo. [...]

A maior dificuldade é começar, dar o primeiro passo, lançar-se na profundidade e na realidade de Deus, tal como revelada em Cristo. Uma vez que tenhamos deixado para trás as praias do nosso próprio eu, rapidamente, navegamos nas correntes da realidade que nos dão direção e impulso. Quanto mais quietos e atentos estivermos, mais sensivelmente responderemos a essas correntes. E, então, nossa fé se torna mais absoluta e, verdadeiramente, espiritual. Pela quietude no espírito, nos movemos em direção ao oceano de Deus. Se tivermos a coragem de sairmos das praias, não fracassaremos em encontrar essa direção e energia. Quanto mais nos distanciamos, mais fortes se tornam as correntes e mais profunda a nossa fé. Por algum tempo, o paradoxo de que o horizonte ao qual nos destinamos está sempre recuando, desafia a profundidade da nossa fé. Para onde estamos indo com essa fé mais profunda? Gradualmente reconhecemos o significado da corrente que nos guia, e compreendemos que o oceano é infinito.
Deixar as praias é o primeiro grande desafio, mas é necessário apenas começar, para encarar o desafio. Ainda que, depois, os desafios possam se tornar maiores, nos é assegurado que tudo o que é necessário para encará-los, nos será dado. Começamos repetindo o mantra. Recitar o mantra é estar sempre começando, retornando ao primeiro passo. Com o tempo aprendemos que há apenas um passo entre nós e Deus...Cristo deu este passo. Ele mesmo é o passo (...) A única forma de conhecer Cristo é entrar no seu mistério pessoal, deixando idéias e palavras para trás. Nós as deixamos para trás, de modo a entrar no silêncio do pleno conhecimento e amor, para os quais a meditação nos está conduzindo, a cada um de nós.

- John Main OSB
In THE PRESENT CHRIST (NY: Crossroad, 1991), pgs. 111-112, 116-117.
Reproduzido via site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil

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