Nossos amigos do Equally Blessed começaram o ano compartilhando um texto do padre americano Gary F. Meier no Huffington Post, do qual traduzimos e compartilhamos parte com vocês (para ler o artigo original, na íntegra, clique aqui). O Pe. Meier lançou em 2013 o livro Hidden Voices, Reflections of a Gay Catholic Priest ("Vozes Ocultas - Reflexões de um padre católico gay"), a princípio anonimamente, para depois assumir que era o autor do livro. Seu testemunho é rico e significativo, e coincide em muitos pontos com a carta que enviamos aos Bispos da Igreja Católica (saiba mais aqui. Ainda não assinou a petição on-line? Clique aqui!). Suas palavras sobre a verdade e a necessidade premente de mudança, especialmente, encontram eco em nosso pedido:
"Pedimos, então, não como mera questão acadêmica, mas como urgente exercício de responsabilidade pastoral, que os Senhores busquem a maneira de entrar pública e honestamente no processo de elucidar conosco aquilo que realmente é neste campo. Sem medo da verdade, pois sem ela, nenhuma Pastoral Católica é possível. O medo da verdade, além de pouco eficaz para a ação pastoral, também é inútil, pois, como lemos na Declaração Dignitatis Humanae, n.1, do Concílio Vaticano II, 'A verdade não se impõe de outro modo senão pela força da própria verdade'".
Segue o texto.
(...) Faz pouco mais de seis meses que anunciei que sou o autor de Hidden Voices, Reflections of a Gay Catholic Priest, e muita coisa aconteceu . O livro foi lançado no dia 23 de maio de 2013, e levou a uma série de entrevistas de televisão, rádio e jornais. Muitas dessas entrevistas podem ser encontradas no meu site (...).
Meu livro tem gerado muito interesse e, literalmente, milhares de e-mails e cartas de pessoas de todo o mundo. De tudo que recebi, apenas alguns foram negativos. O resto são um misto de e-mails de apoio e mensagens afirmativas daqueles que foram feridos pelos ensinamentos da Igreja Católica sobre a homossexualidade. Entristece-me que uma igreja que eu amo possa ser tão prejudicial para muitos de seus membros " - pessoas boas e amorosas . São seminaristas, sacerdotes, bispos, alguns jovens LGBT e seus pais, e aliados LGBT - todos eles estão desesperadamente tentando conciliar o que eles acreditam sobre a homossexualidade com o que a Igreja ensina. Se aprendi alguma coisa em 2013, é que o nível de dor que causamos é mais profundo do que eu poderia ter imaginado.
Recebi um e-mail de uma mãe cujo filho estuda em uma escola primária católica. Ela está tentando conciliar suas crenças com a decisão de sua escola de expulsar os escoteiros por causa de sua "nova política pró-gay". Ela me escreveu: "Será que realmente quero pertencer a uma instituição que não vai permitir gays em suas instalações?". Um homem hétero escreveu: "É cada vez mais difícil para mim continuar indo à missa sabendo que meus amigos gays e seus cônjuges não são bem-vindos no altar". Uma avó escreveu: "O meu neto é gay e vai se casar em poucos meses, e não sei o que fazer. Amo meu neto e amo seu parceiro. E amo a minha igreja. Será que os bispos percebem a posição em que estão nos colocando?". Um padre gay, de seus 60 anos, escreveu: "Um pedaço de mim morre cada vez que pego o jornal e leio mais falas anti-gays vindas de bispos católicos. Sinto-me encurralado entre permanecer em silêncio ou perder meus rendimentos, minha aposentadoria, meu plano de saúde - tudo".
Recentemente, almocei com a Irmã Jeannine Gramick, SL, co-fundadora do New Ways Ministry, e Mathew Myers, seu diretor-adjunto. Eles perguntaram: "O que podemos fazer para incentivar outros padres gays a sair do armário?" Respondi: "Os padres não saem do armário por medo. Mas desconfio de que seu medo é mais de perder seus meios de subsistência (renda, aposentadoria, moradia, alimentação etc.) do que de ser rejeitados. Se minha história pode servir de exemplo do que as pessoas acreditam, parece que elas estão dispostas a aceitar padres gays. É o medo de perder tudo que é assustador".
Os e-mails mais perturbadores vêm de adolescentes anônimos que falam em "acabar com tudo" e se dizem dilacerados por se acreditarem falhos, desordenados, doentes ou, de alguma forma, traidores. Só posso imaginar a coragem que um adolescente precisa ter para escrever em segredo um e-mail e enviá-lo para mim. Eles estão em minhas orações todos os dias.
Em meados de novembro, recebi uma carta da arquidiocese de Saint Louis, afirmando que o arcebispo gostaria que eu "solicitasse voluntariamente minha demissão do estado clerical". A carta chegou a dizer que, se eu não "solicitasse voluntariamente minha demissão, a diocese dará início a um processo involuntário para me retirar do estado clerical". De um jeito ou de outro, seguir sendo um clérigo não é uma opção para mim.
Afirmei desde o começo que nunca duvidei da minha vocação ao sacerdócio e retornaria ao ministério ativo se pudesse falar a verdade sobre a homossexualidade. Para que isso aconteça, a igreja teria de mudar ou ampliar seus ensinamentos sobre a homossexualidade. Nosso novo Papa nos dá a esperança de estarmos em um bom caminho. Costumo dizer que sinto-me "cautelosamente otimista" a respeito do novo tom adotado pelo Papa. Otimista com relação à possibilidade de que, um dia, os ensinamentos da igreja vão mudar; e cauteloso, porque os ensinamentos da igreja ainda não mudaram. Nesse meio tempo, católicos continuam perdendo seus empregos e a ter os sacramentos negados em nossa igreja simplesmente por causa de quem eles amam.
Então, aonde é que isto me leva? Isso me leva a seguir em frente e continuar a falar a verdade - a verdade de Deus - a verdade sobre a homossexualidade. A verdade de que a homossexualidade não é uma cruz, não é uma doença, não um transtorno, mas um belo presente de Deus. A verdade de que fomos criados por amor, com amor - e a verdade que reconhece a dignidade e a igualdade inerentes a todas as pessoas, independentemente de quem eles amam. Santa Catarina de Siena disse: "Fale a verdade com mil vozes; é o silêncio que mata o mundo". 2013 chega ao fim, eu estou ansioso por um novo ano e um novas oportunidades para falar a verdade. (...)
- Pe. Gary M. Meier
(Fonte) Tweet
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