Existem muitas histórias
na Bíblia sobre chamamentos, sobre “nomear” ou dar um nome. São histórias
poderosas que nos falam da jornada espiritual de alguém ou sobre uma decisão
tomada por pessoas ou grupos. Uma dessas histórias é a de Agar. Em meio à
adversidade, a escrava Agar encontra a Deus, vê Deus, confronta a divindade com
valentia. Às vezes não há outra saída a não ser confrontar Deus ou a noção de
Deus que recebemos de terceiros. Como escrava, Agar não detém o controle de seu
corpo e Sarai a oferece a Abraão como corpo e matriz para gerar um herdeiro.
Quando Agar engravida, Sarai a trata com crueldade e Agar foge da casa de seus
senhores. Deus a encontra em frente a um manancial e pede a ela que volte à
casa de sua patroa e se submeta à sua vontade. Por que Deus lhe pede tamanho
sacrifício? Talvez porque a história é narrada do ponto de vista dos senhores.
Não há dúvida de que a coragem de Agar não desaparece da história: Agar
confronta Deus, recebe uma benção e oferece um novo nome a Deus: “o Deus que
vê”, pois Agar diz: ”Deus tem me visto e eu ainda estou viva”. Agar descobre um
novo Deus, que se comunica diretamente com ela, uma escrava. Um Deus que não
pertence aos poderosos.
De certa forma, a história
de Agar é também a nossa história. Todos e todas nós, enquanto grupo
marginalizado, necessitamos encontrar um Deus diferente; também confrontamos Deus,
ou certa noção de Deus que recebemos de dogmas, tradições e igrejas. Chamamos
Deus de diferentes maneiras: amigo, queer, amante, mãe, arco-íris. E ao
fazê-lo, descobrimos que ninguém é dono de Deus; Deus é nosso também. Nós somos
queer hispânico-latinos e aliados. Somos hispânicos ou latinos/latinas? Somos porto-riquenhos, mexicanos,
salvadorenhos, dominicanos, argentinos, guatemaltecos e outros? Sim, somos tudo
isto e também somos a Raça, o Sangue e a Aliança.
Muitos e muitas de nós viemos a esta
terra como uma opção, em busca de possibilidades, outros estão aqui como
resultado da falta de opção, Sem dúvida, como Agar, encontramos Deus em meio à
adversidade, recebemos bênçãos e agora somos chamados por Deus para sermos
fortes na ICM, para construir uma igreja com muitos rostos, muitas cores,
muitas línguas, orientações sexuais diferentes, sexos e idades diferentes.
Somos chamados a construir a nova igreja com muitos nomes e com diferentes
formas de nomear a Deus.
Rev. Carmen Margarita
Sánchez De León
Tradução: Priscila Galvão
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