Em entrevista à revista jesuíta italiana 'La Civiltà Cattolica', Francisco disse que a Igreja deve encontrar um 'novo equilíbrio'
19 de setembro de 2013
Trecho da Entrevista:
Homossexuais, divorciados e aborto. Devemos anunciar o Evangelho em todos os caminhos, predicando a boa nova do Reino de Deus e curando com a nossa predicação todo tipo de ferida e de doença. Em Buenos Aires, recebia cartas de pessoas homossexuais, que são ‘feridas sociais’ porque me dizem que sentem como se a Igreja os tenha condenado para sempre. Mas a Igreja não quer fazer isso. Durante o voo de retorno do Rio de Janeiro eu disse o que diz o Catecismo. A religião tem o direito de exprimir sua opinião própria a serviço das pessoas, mas Deus na criação nos fez livres: a ingerência espiritual na vida das pessoas não é possível. Uma vez uma pessoa, de forma provocadora, me perguntou se eu aprovava a homossexualidade. Eu então respondi-lhe com uma outra pergunta: ‘Diga-me: Deus quando olha uma pessoa homossexual aprova a sua existência com afeto ou a repele condenando-a?’ É preciso sempre considerar a pessoa. Aqui entramos no mistério do homem. Na vida, Deus acompanha as pessoas e nós devemos acompanhá-las a partir da sua condição. É preciso acompanhá-las na misericórdia. Quando isso acontece, o Espírito Santo inspira o sacerdote a dizer coisas mais justas.
Esta é a grandeza da Confissão: o fato de avaliar caso a caso e poder discernir qual é a melhor coisa a fazer para uma pessoa que procura Deus e a sua graça. O confessionário não é uma sala de tortura, mas o lugar da misericórdia no qual o Senhor nos estimula a fazer o melhor que podemos. Penso também na situação das mulheres que tiveram sobre os ombros um matrimônio falido no qual até mesmo tenham abortado. Pois essa mulher se casou novamente e agora está serena, com cinco filhos. O aborto pesa sobre ela enormemente e ela está sinceramente arrependida. Ela gostaria de ir adiante na vida cristã. O que faz o confessor?
Não podemos insistir somente sobre as questões ligadas ao aborto, matrimônio homossexual e ao uso de contraceptivos. Isso não é possível. Eu não falei muito dessas coisas e isso me foi recriminado. Mas quando se fala disso, é necessário falar em um contexto. O parecer da Igreja, de resto, todos conhecem, e eu sou filho da Igreja, mas não é possível falar disso continuamente.
Os ensinamentos, tanto dogmáticos quanto morais, não são todos equivalentes. Uma pastoral missionária não é obcecada da transmissão desarticulada de uma multidão de doutrinas que se quer impor com insistência. O anúncio de tipo missionário se concentra sobre o essencial, sobre o necessário, que é também o que apaixona e atrai mais, que faz arder o nosso coração, como aos discípulos de Emaús. Devemos, pois, encontrar uma novo equilíbrio, de outra forma até o edifício moral da Igreja corre risco de cair como uma castelo de cartas, de perder a sua frescura e o perfume do Evangelho. A proposta evangélica deve ser mais simples, profunda e irradiante. E é dessa proposta que depois devem vir os ensinamentos morais.
Digo isso pensando à predicação e aos conteúdos da nossa predicação. Uma bela homilia deve começar com o primeiro anúncio, com o anúncio da salvação. Não há nada de mais sólido, profundo e seguro nesse anúncio. Depois se deve fazer a catequese. E, no fim, pode-se chegar a uma consequência moral. Mas o anúncio do amor salvífico de Cristo é prévio à obrigação moral e religiosa. Na maioria das vezes parece prevalecer o inverso. A homilia deve calibrar o avizinhar-se e a capacidade de encontro de um pastor com seu povo porque quem predica deve reconhecer o coração da sua comunidade para procurar onde é vivo e ardente o desejo de Deus. A mensagem evangélica não se pode reduzir, pois, a alguns de seus aspectos. Ainda que importantes, mas que sozinhos não manifestam o coração do ensinamento de Cristo.
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