Comentário do Pe. José Antonio Pagola sobre o Evangelho de hoje:
O evangelista Mateus tem um interesse especial em dizer aos seus leitores que Jesus há de ser chamado também de “Emmanuel”. Sabe muito bem que pode resultar chocante e estranho. A quem se lhe pode chamar um nome que significa “Deus conosco”? No entanto, este nome encerra o núcleo da fé cristã e é o centro da celebração do Natal.
Esse mistério último que nos rodeia por todas as partes e que os crentes chamamos “Deus” não é algo longínquo e distante. Está com todos e cada um de nós. Como o pode saber? É possível acreditar de forma razoável que Deus está comigo, se eu não tenha alguma experiência pessoal por pequena que seja?
Habitualmente, a nós cristãos, não foi ensinado perceber a presença do mistério de Deus no nosso interior. Por isso, muitos o imaginam em algum lugar indefinido e abstrato do Universo. Outros procuram-no adorando Cristo presente na eucaristia. Muitos tratam de escutá-Lo na Bíblia. Para outros, o melhor caminho é Jesus.
O mistério de Deus tem, sem dúvida, os seus caminhos para fazer-se presente em cada vida. Mas pode-se dizer que, na cultura atual, se não o experimentamos de alguma forma dentro de nós, dificilmente o encontraremos fora. Pelo contrário, se percebemos a Sua presença no nosso interior, será mais fácil rastrear o Seu mistério à nossa volta.
É possível? O segredo consiste, sobre tudo, em saber estar com os olhos fechados e em silêncio aprazível, acolhendo com um coração simples essa presença misteriosa que nos está alentando e sustendo. Não se trata de pensar nisso, mas de estar “acolhendo” a paz, a vida, o amor, o perdão… que nos chega desde o mais íntimo do nosso ser.
É normal que, ao aprofundarmos no nosso próprio mistério, nos encontremos com os nossos medos e preocupações, as nossas feridas e tristezas, a nossa mediocridade e o nosso pecado. Não temos de inquietarnos, mas de permanecer no silêncio. A presença amistosa que está no fundo mais íntimo de nós nos irá apaziguando, libertando e sarando.
Karl Rahner, um dos teólogos mais importantes do século vinte, afirma que, no meio da sociedade secular dos nossos dias, “esta experiência do coração é a única com a que se pode compreender a mensagem de fé do Natal: Deus fez-se homem”. O mistério último da vida é um mistério de bondade, de perdão e salvação, que está conosco: dentro de todos e cada um de nós. Se o acolhemos em silêncio, conheceremos a alegria do Natal. Tweet
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