quarta-feira, 20 de novembro de 2013
A Igreja Católica e a Aids
No verão de 2010, o jornalista alemão Peter Seewald se sentou com o Papa Bento XVI por vários dias para uma entrevista. Eles falaram sobre várias questões, mas a que mais chamou atenção do público foi a conversa que tiveram sobre Aids.
Seewald perguntou ao papa sobre os esforços da Igreja em combater a Aids, especialmente à luz de sua rígida oposição à contracepção. "Há críticos", disse Seewald francamente, "que argumentam que é loucura proibir uma população de alto risco de usar camisinhas." O papa Bento deu uma longa resposta. No final, ele parecia fazer o que militantes da Aids vinham pedindo desde que a doença se tornou conhecida; ele parecia reverter a posição da igreja sobre camisinhas:
"Pode haver uma razão no caso de alguns indivíduos, como talvez quando um prostituto usa uma camisinha, em que isso pode ser um primeiro passo na direção de uma moralização, uma primeira presunção de responsabilidade, na direção de recuperar uma consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer qualquer coisa que se queira."
Sewald ficou surpreso com a resposta do papa. "Então você está dizendo", ele perguntou, "que a Igreja Católica na verdade não é contra o uso de camisinhas, em princípio?" Mais uma vez, uma supreendente reversão do papa:
"É claro que ela não vê como uma solução real ou moral, mas, em um caso ou outro, ainda assim pode haver, na intenção de reduzir o risco de infecção, um primeiro passo em um movimento na direção de um caminho diferente, mais humano de viver a sexualidade."
Esse papa ferrenhamente conservador deu um primeiro passo na direção da posição da Igreja sobre as camisinhas - um passo que poucos achavam que ele daria, em um caminho que poderia levar à erradicação da Aids, se assim o Vaticano decidisse.
Se não podemos fazer isso sem o governo do nosso lado, certamente não podemos fazê-lo sem as instituições religiosas. Sim, isso significa ajudar os necessitados, dar tratamento e apoio - o que, para sermos justos, a Igreja Católica já faz bastante. Mas isso significa ainda mais. Significa incentivar a prevenção com base na lógica e na ciência. Significa rejeitar o estigma em vez de reforçá-lo. Significa acabar, de uma vez por todas, com a campanha de desinformação.
Isso vale especialmente para a Igreja Católica, tanto por sua história quanto pelo seu extraordinário alcance de cerca de 1 bilhão de fiéis.
Não existe religião que acredite que devemos dar as costas aos doentes. Nenhum deus poderia aprovar a inação e a desinformação que resultem em morte. Nenhum deus amoroso poderia concebivelmente aceitar essa consequências.
É essencial observar que inúmeros católicos, especialmente freiras e padres que cuidam de pessoas que vivem com HIV/Aids, optaram por rejeitar o dogma da Igreja. Eles incentivam as pessoas com quem trabalham a usar camisinha. Eles consideram a posição da Igreja impossível de se justificar diante da morte e do sofrimento.
Passar algum tempo ao lado desses padres e freiras dedicados é saber que eles são a verdadeira igreja. Eles são pessoas que realmente obedecem e representam os ensinamentos de Cristo.
O amor é a cura: Sobre vida, perdas e o fim da Aids de Elton John. Amarylis, 2013. pp. 188-197.
Resumo: Hugo Nogueira Tweet
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