A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 06-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Não há mais excomunhões com Bergoglio, "o papa que já era um Francisco em Buenos Aires", como disse aoL'Osservatore Romano o seu amigo cardeal brasileiro Claudio Hummes. Em suma, um problema sério para o mundo tradicionalista que, sobre as condenações, construiu parte da sua própria fortuna.
Um dos posts mais determinados é do Blog.messainlatino.it, que se declara "pela renovação da Igreja no rastro da tradição". Ele fala abertamente da "crise de identidade do bispo de Roma, Francisco". Ele bate duro na pergunta que o papa se fez no avião, na segunda-feira, 29 de julho, no retorno do Brasil: "Se uma pessoa é gay e busca o Senhor e tem boa vontade, mas quem sou eu para julgá-la?".
Palavras que são "uma verdadeira crise de identidade" e que, diz o blog convicto, "valem muito mais do que os miseráveis episódios do báculo de Lampedusa, do samba episcopal do Rio, da rejeição das insígnias pontifícias...". Porque são "o sinal tangível de uma confusão existencial que literalmente faz tremer os pulsos e o coração dos fiéis".
Mas, Santidade, pergunta ainda o Blog.messainlatino.it, "perdoe o atrevimento, vós não sois, talvez, o 'papa'? Não tendes, talvez, as chaves para abrir e fechar o Reino dos Céus?".
O submundo é extenso e ultrapassa as fronteiras nacionais. O site Traditioninaction.org – "A mais bela aventura do mundo é a nossa", declaram os moderadores – é um grupo tradicionalista com sede em Los Angeles. Para eles, Francisco é um "burlador", que, em vez de tirar o solidéu diante de Deus, prefere "colocá-lo na cabeça de uma menina [o papa faz isso frequentemente quando encontra os fiéis, assumindo como própria um costume que também era de seus antecessores] para brincar com ela e fazer as pessoas rirem. Desse modo, ele tenta parecer um velho avô que entretém a sua neta e, ao mesmo tempo, demonstra que os símbolos do papado são inúteis". E ainda: "Trata-se de mais um passo voltado a dessacralizar os símbolos do papado, a fim de desprezá-los e depois aboli-los".
Em suma, para os tradicionalistas norte-americanos, aqueles giros pela Praça de São Pedro entre a multidão, que paraFrancisco não são tempo perdido, mas sim missão, são "turnês democráticas/demagógicas", sinal de um estilo "miserabilista".
O recente comissariamento dos "Franciscanos da Imaculada" por parte da Congregação para os Religiosos, uma ordem tradicionalista que celebra a missa com o rito antigo, provocou a rejeição do site conservadorCorrispondenzaromana.it. Dizem eles: "Em uma única medida, não só foram desautorizados o fundador de uma ordem florescente e os líderes que o assistem, mas também o motu proprio de Bento XVI que liberalizou a celebração da missa no rito gregoriano, o pontífice que o emitiu e, em última análise, a própria massa".
E ainda: "Ocorre que, em nome do papa", o governo do Instituto é transmitido "a uma minoria de frades rebeldes, de orientação progressista, nos quais o neocomissário irá se apoiar" para "conduzi-lo ao desastre do qual até agora ele tinha escapado graças à sua fidelidade às leis eclesiásticas e do Magistério".
A galáxia tradicionalista que, na web, contesta o papa não está toda em comunhão com Roma, mas também está fora dela, tendo saído, em parte, no rastro do cisma lefebvriano, em parte, da divisão interna dos Legionários de Cristo depois da expulsão do padre Marcial Maciel Degollado. Dois mundos que sopram contra o pontificado e que, desde os tempos deRatzinger, boicotam todo impulso ecumênico.
A aversão tem raízes profundas. E nasceu quando, dentro do Celam – o Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho –, o futuro papa tinha estimulado uma purificação da galáxia Legionários-Regnum Christi que, nas duasAméricas, tem seguidores e simpatizantes.
Não por acaso, foi o conservador National Catholic Register que pronunciou palavras duras contra Francisco. Na sua opinião, a eleição ao sólio de Pedro foi "mais um acréscimo à pilha das recentes novidades e mediocridade católicas".
Entre essas mediocridades, para o site Una Fides, estão as missas celebradas no Brasil, onde os sacerdotes distribuíram a Eucaristia em copos de plástico: "O Senhor, um dia, pedirá contas pelos inumeráveis sacrilégios cometidos por milhões de crentes, milhares de sacerdotes, centenas de bispos, dezenas de cardeais e talvez até por alguns papas".
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