segunda-feira, 15 de julho de 2013

Os Gays e a Igreja do Papa Francisco


A Igreja Católica vive um momento de novos ares e de renovação com o papa Francisco. Ele tem um estilo despojado e faz um apelo para que a Igreja vá às “periferias existenciais”, ao encontro dos pobres e dos que sofrem com as injustiças e os diversos tipos de conflitos. Francisco critica uma Igreja ensimesmada, entrincheirada em estruturas caducas incapazes de acolhimento, e fechada aos novos caminhos que Deus apresenta. A novidade que Deus traz à nossa vida, diz o papa, é verdadeiramente o que nos realiza e nos dá a verdadeira alegria e serenidade, porque Deus nos ama e quer apenas o nosso bem. Francisco defende as mães solteiras que querem batizar seus filhos, e enfrentam a “alfândega pastoral” criada por religiosos moralistas. Será que estes novos ares vão beneficiar as relações da Igreja com o mundo gay?

É preciso considerar a história recente de Bergoglio nesta questão. Como arcebispo de Buenos Aires e presidente da conferência dos bispos argentinos, ele fez um pronunciamento bastante veemente contra ao projeto de lei do casamento gay. No entanto, manifestou-se a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo, na qual se reconhecem direitos, mas não há equiparação à união heterossexual. Bergoglio também declarou que um ministro religioso não tem o direito de forçar nada na vida privada de ninguém. E condenou o “assédio espiritual”, que ocorre quando um ministro impõe normas, condutas e exigências privando a liberdade do fiel.

Como papa, ele segue os seus antecessores afirmando o valor fundamental da família formada pela união entre um homem e uma mulher. Em um encontro com parlamentares franceses, Francisco mencionou a visão da Igreja a respeito da pessoa humana na perspectiva do bem comum. E declarou que na tarefa de se propor leis, emendá-las ou revogá-las, deve-se procurar infundir nestas leis uma alma que eleve e enobreça a pessoa. Sem dúvida, há uma referência indireta ao ensinamento da Igreja contrário ao casamento gay, que recentemente foi aprovado na França em meio a ondas de protestos.

Neste país, entretanto, quarenta por cento dos católicos são favoráveis ao casamento gay. Entre eles está o respeitado jornal Témoignage Chrétien e o deputado socialista Erwann Binet, autor do projeto que legalizou esta forma de união. Binet é católico praticante, e não vê contradição entre a tradição cristã e os ideais humanitários do seu partido. Como ele, muitos estão convencidos de que o casamento gay em nada ameaça o casamento heterossexual ou a família tradicional. E nem prejudica o bem comum. Pelo contrário, eleva e enobrece a pessoa humana por contemplar uma diversidade legítima existente na sociedade. As considerações do papa podem divergir deles quanto aos meios, não quanto aos fins. Ninguém deveria abandonar a Igreja por causa disso.

As mudanças estão em curso, dentro e fora da Igreja. A CNBB lançou neste ano o esboço de um documento sobre as paróquias, com o título: “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”. Ele foi amplamente distribuído para receber sugestões e depois se tornar um texto oficial. As novas situações familiares são tratadas com realismo e abertura:

“[101] Em nossas paróquias participam pessoas unidas sem o vínculo sacramental, outras estão numa segunda união, e há aquelas que vivem sozinhas sustentando os filhos. Outras configurações também aparecem, como avós que criam netos ou tios que sustentam sobrinhos. Crianças são adotadas por pessoas solteiras ou por pessoas do mesmo sexo que vivem em união estável”.

“[102] A Igreja, família de Cristo, precisa acolher com amor todos os seus filhos. Sem esquecer os ensinamentos cristãos sobre a família, é preciso usar de misericórdia. É hora de recordar que o Senhor não abandona ninguém, e que também a Igreja quer ser solidária nas dificuldades da família. Muitos se afastaram e continuam se afastando de nossas comunidades porque se sentiram rejeitados, porque a primeira orientação que receberam fundamentava-se em proibições e não em uma proposta de viver a fé em meio à dificuldade. Na renovação paroquial, a questão familiar exige conversão pastoral para não perder nada do que a Igreja ensina e, igualmente, não deixar de atender, pastoralmente, as novas situações familiares”.

Esta proposta da CNBB se alinha às grandes aspirações do papa Francisco: ir ao encontro do outro nas suas mais diversas situações, romper as estruturas caducas e os moralismos opressivos, fazer resplandecer a face do Deus amoroso que quer apenas o nosso bem. As mudanças, porém, não dependem só da hierarquia, ainda que haja alguns sinais favoráveis. Elas dependem muito dos fiéis leigos e dos que prezam a cidadania LGBT. Não se pode aceitar o assédio espiritual feito aos gays. É preciso protegê-los, seja afastando-os dos ambientes onde isto acontece, seja encaminhando-os aonde haja acolhida. A Igreja, em grande parte, são os fiéis que fazem nas comunidades locais e nas práticas cotidianas. É hora de a cidadania LGBT contagiar a Igreja.



Equipe Diversidade Católica

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