quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

“O que seria um ‘Sínodo da Família’ sem incluir aqueles que vivem em família?”


"Em nossa opinião, seria muito positivo se o estudo, que está em processo inicial, pudesse ampliar-se mediante a expressão do Espírito Santo, através das vozes dos fiéis que participarão ao longo de todo o processo previsto”, escreve em carta a Rede mundial de católicos e organizações católicas, publicada por Religión Digital, 05-02-2014. A tradução é do Cepat.

Eis a carta.

Querido Papa Francisco:

Esperamos que tenham sido úteis nossas propostas incluídas nas cartas de 19 de setembro e de 27 de novembro de 2013, assinadas tanto por organizações católicas como por pessoas, de maneira individual, de todo o mundo. Antes de se reunir pela terceira vez com o Conselho Assessor, te enviamos agora esta carta sobre o Sínodo Extraordinário dos Bispos, previsto para outubro de 2014. [Leia a carta que os grupos de LGBTs católicos brasileiros enviamos aos bispos aqui, e assine a petição online que a apoia aqui]

Alegramo-nos com tua decisão de convocar este Sínodo e com o compromisso para os desafios pastorais urgentes em relação à família no contexto do Evangelho. Em uma homilia recente fizeste a seguinte pergunta: “Como manter nossa fé no âmbito da família?”. Confrontamo-nos com essa questão precisamente por nos parecer como um aspecto crucial para nossa própria vida, assim como para a de tantas pessoas em nossas próprias comunidades eclesiais. Vemos hoje a nossa Igreja em uma encruzilhada de caminhos, em que você oferece uma esperança, numa renovação misericordiosa.

Alegramo-nos especialmente também com sua convocação, sem precedentes, para obter “contribuições das fontes locais”, mediante a distribuição dos questionários pelo Arcebispo Baldisseri, reconhecendo assim a importância do sensus fidelium para a autoridade magisterial da Igreja universal. Esta iniciativa é um início para o enfrentamento da necessidade, identificada na exortação Evangelii Gaudium, da promoção do crescimento da responsabilidade dos leigos, recorrentemente excluídos “das tomadas de decisões”, por um “clericalismo excessivo”. Em nossa opinião, seria muito positivo se o estudo, que está em processo inicial, pudesse ampliar-se mediante a expressão do Espírito Santo, através das vozes dos fiéis que participarão ao longo de todo o processo previsto.

Sem dúvidas, és consciente de que há muitas reações distintas por parte dos bispos e suas conferências episcopais, em relação ao requerimento de repostas das Igrejas locais mediante as 39 perguntas do questionário sobre a temática do Sínodo. Enquanto algumas conferências têm facilitado à participação dos fiéis neste estudo, que representa tantos desafios, a maioria têm feito mínimas tentativas para compreender as comunidades das paróquias neste diálogo tão importante.

Mantemos nossa convicção profunda de que, além da informação que possa ser obtida mediante os questionários, um Sínodo eficaz sobre a Família requer a participação de mulheres e homens católicos comprometidos, de diferentes regiões da igreja universal, em todas as etapas do Sínodo. Por exemplo, para que seja possível investigar, intercambiar opiniões, debater e fazer recomendações, sugerimos que peça a cada diocese do mundo que organize um sínodo diocesano em 2014, para discutir o tema, e que incite a cada bispo diocesano a animar a todos os católicos de sua diocese para que deem suas contribuições.

Nestes sínodos os debates devem ser abertos e respeitosos. As conclusões e recomendações de cada sínodo diocesano seriam então enviadas, ou diretamente para a comissão preparatória do Sínodo dos Bispos, ou, preferivelmente, a um Sínodo Nacional ou Plenário, especialmente convocado, com uma participação leiga de, ao menos, metade de todos os membros sinodais, com uma alta proporção de mulheres para compensar a sua carência no governo da Igreja.

Antecipamos que este processo levaria, de uma maneira natural, a uma representação significativa dos leigos no Sínodo da Família. Afinal de contas, o que seria um “Sínodo da Família” sem incluir aqueles que vivem em uma família?

Papa Francisco, respeitosamente oferecemos nosso assessoramento e experiência, obtidos ao viver nossas vidas cristãs em famílias de todos os tipos.

Esperamos ansiosos a confirmação de que tenhas recebido esta carta e, em seu devido tempo, sua resposta a nossas propostas, que envolve católicos e católicas comprometidos com o Sínodo Extraordinário e em seus preparativos formais. Mais uma vez, asseguramos-lhe que você está em nossas orações e temos um profundo desejo de fazer visível a missão de Cristo, de amor e justiça nas famílias de todo mundo.

Contigo em Cristo.

Rede mundial de católicos e organizações católicas.

Carta com cópia para:

Cardeal Giuseppe Bertello, Presidente da administração do estado da Cidade do Vaticano
Cardeal Francisco Javier Errázuriz Ossa, Arcebispo Emérito de Santiago do Chile
Cardeal Reinhard Marx, Arcebispo de Monique e Frisinga , Alemanha.
Cardeal Laurent Monsengwo Pasinya, Arcebispo de Kinshasa, Congo
Cardeal Sean Patrick O Malley, Arcebispo de Boston, EUA.
Cardeal George Pell, Arcebispo de Sydney, Austrália
Cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, Arcebispo de Tegucigalpa, Honduras

Fonte

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