terça-feira, 27 de agosto de 2013

Uma Religião Humana


Nenhum entusiasmo é suficiente para recomendar a exposição "A Herança do Sagrado: Obras-primas do Vaticano e de Museus Italianos" que está no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro até o dia 13 de outubro, parte dos eventos da Jornada Mundial da Juventude.

Do ponto de vista estético todas as obras são de valor inestimável, destacamos o São Sebastião de Guido Reni, fonte de inspiração de tantos artistas, capaz de sozinho justificar a visita.

Para quem é católico é difícil desvencilhar a perspectiva estética da devoção que as imagens suscitam, ou ainda, verificar as evidências do Jesus Histórico e dos seus apóstolos. Aliás, um dos sentimentos que a exposição desperta é justamente o de que a religião católica é extremamente humana, sua base é o homem, o homem no mundo, situado historicamente e espacialmente no mundo que vivemos.

O primeiro módulo da exposição dedicada a Jesus Cristo é especialmente tocante, desde as primeiras imagens, a emoção de constatar que Deus foi capaz de enviar seu próprio filho, de se fazer carne através de Jesus, tão humano quanto divino, Jesus homem aqui na terra, mensageiro de Deus, vindo para salvar todos os homens. Prova maior do amor de Deus.

Parábolas marcantes da Bíblia também aparecem em quadros magníficos como "A volta do filho pródigo", "O bom samaritano" e "Jesus com a adúltera", este é particularmente relevante para todos aqueles que de alguma forma são perseguidos, Jesus a protege, Jesus nos protege. Nesta parte também encontramos um crucifixo de Bernini, um dos artistas mais importantes do Renascimento.

O segundo módulo da exposição é dedicado aos apóstolos com um destaque especial a São Pedro. A presença de dois mosaicos com o seu colorido e vivacidade trazendo para os dias de hoje com toda a força imagens tão antigas dos apóstolos é radiante, essas imagens tão antigas também nos mostram que eles eram homens, homens como nós, que foram chamados por Jesus para acompanhá-lo.

Depois temos o módulo dedicado a Virgem Maria, a mãe de Jesus e nossa mãe, também ela uma mulher, não uma mulher como as outras, mas uma mulher, uma mãe que sofreu a perda do seu filho, que o criou, o acompanhou durante toda a sua vida para depois encontrá-lo no céu. Para os brasileiros, a imagem de Nossa Senhora Aparecida é especial, principalmente porque na representação que temos dela, o seu colorido foi apagado pelas águas do rio, mas no quadro, o colorido está lá e podemos conhecer, reconhecer sua aparência de uma forma diferente. Também é nesta seção que temos a única obra de autoria de uma mulher, a pintora Artemísia Gentileschi.

Finalmente temos a seção dedicada aos santos. Lembrando o que já foi dito em uma homilia na Igreja Santa Cruz de Copacabana: "Os santos são os pecadores de quem Deus teve misericórdia." Aqui também nos deparamos com a extrema humanidade da nossa religião, esses homens e mulheres com suas histórias de vida, histórias que poderiam ser as nossas histórias, que refletem as nossas histórias e nas quais buscamos inspiração para nossas vidas, pelo encontro com Deus que elas revelam.

Comentário: Hugo Nogueira

Imagem: São Sebastião - Guido Reni


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