terça-feira, 13 de agosto de 2013
Papa e homossexualidade: por que nos admiramos?
Por que se admirar com uma aberta manifestação de simpatia e de respeito do papa, respondendo de improviso, no avião que o trazia de volta a Roma de retorno do Brasil, sobre o tema muito vivo dos gays? O papa não queria fazer uma reflexão complicada sobre o modo de ser da nossa sexualidade; mas, como grande pai espiritual, sabe como algumas pessoas, adolescentes, jovens, homens e mulheres, sentem amor sincero por pessoas do mesmo sexo e alimentam, ao mesmo tempo, um profundo amor por Deus.
Certamente, no conformismo moralista que perdura há séculos no mundo e na Igreja, a resposta do papa parece revolucionária: finalmente, com espírito evangélico, o papa olha para uma realidade que já nos é conhecida sem usar palavras de condenação .
E, como sempre, quem fingiu se escandalizar não foram aqueles que são "puros de coração" (Mt 5, 8), mas sim aqueles que, não tendo em si mesmos a pureza do coração e a caridade, gritam o escândalo pelo delineamento de uma "nova moral"; estes, como muitas vezes acontece, olham para fora de si mesmos, antes de avaliar a si mesmos e os seus comportamentos.
O que disse o papa? "Se uma pessoa é gay e busca o Senhor com boa vontade, quem sou eu para julgá-la?". Quero lembrar que, no Evangelho de João, o verbo "julgar" também significa "condenar". Por isso, o papa diz: "Quem sou eu para condenar?". Há séculos, a Igreja tem visto a sexualidade como fonte de problemas, apesar do fato de existirmos enquanto produtos de fatores naturais sexuais.
Quase como se o Evangelho não tivesse feito nada mais do que falar de sexo! O Evangelho, creio eu, é uma síntese de graça, de esperança, de bem-aventurança, porque, nas palavras de Jesus, há a suprema tentativa de nos falar de Deus que é Pai. Assim também era no primeiro Testamento da bíblia hebraica. O que foi, na história, essa tentativa de obrigar a Palavra a ser insuportável e inaceitável?
O tema do sexo que se refere aos gays deve ser considerado à luz do valor irrepetível de cada pessoa, da própria dignidade, sem julgar uma parte da pessoa humana. Cada um de nós é sexualidade, é pensamento, é vontade, é criatividade e é sobretudo pessoa única e irrepetível na história do mundo.
É o mistério da nossa existência que importa, e não uma parte do nosso ser que conta pelo todo. O papa, portanto, "não julga". Finalmente, cada um de nós está diante de Deus com a sua liberdade e com o valor da própria consciência. E isso mesmo quando fazemos parte da Igreja, a "nossa mãe".
- Enrico Ghezzi, pároco romano e especialista no Evangelho de João. Artigo publicado no jornal L'Unità, 07-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto, via IHU. Tweet
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