"Todos" significa "todos"
Tenho refletido sobre as várias mensagens que recebemos do papa esta semana: "viva a sua verdade", "faça uma bagunça", e "quem sou eu para julgar". Esta semana tem sido incrível e eu sei que novas ideias surgirão a cada vez que olharmos em retrospecto para este momento, seja na próxima semana, daqui a dois meses ou daqui a 10 anos.
(...) Foram as suas últimas palavras, "quem eu sou para julgar", que me marcaram mais. Ele está apenas reafirmando a posição tradicional da Igreja, mas mudando o foco da "desordem" para "nenhuma marginalização"? Ou é um vislumbre, ainda que vago, de uma transformação esperançosa que está acontecendo em todos os níveis da igreja? (...)
Talvez não seja a afirmação radical pela qual muitos de nós ansiamos, mas nem por isso deixa de oferecer a este peregrino cansado alguma esperança de que estejam acontecendo certas oscilações e transformações. O trabalho feito por nós, peregrinos LGBTs do Equally Blessed, assim como o trabalho de milhões de pessoas ao redor do mundo que vivem na interseção da fé e da sexualidade, vem de fato tendo um impacto; sementes estão sendo plantadas e vão florescer de formas que ainda não podemos imaginar. É um processo lento, sim, mas as palavras do papa mostram que o processo está se dando. Este processo foi e é muito vivo tanto nas pessoas que encontramos como naquelas que tocamos mesmo sem saber (pessoas que nos viram ou que receberam nossas fitas e adesivos do arco-íris através de sua família e amigos). Os polegares para cima, os pedidos de mais etiquetas, conversas que criaram um espaço seguro para falar e fazer perguntas, os comentários no Facebook e no blog... tudo isso revela que o processo está florescendo e que a transformação está se dando por toda a igreja.
Olhando para essas três expressões que mais mexeram comigo, percebo que o papa talvez tenha subversivamente nos abençoado e convidado para viver "a nossa verdade", "fazendo uma bagunça" para que mais e mais pessoas possam viver uma vida livre de julgamentos. A declaração em si causou uma bagunça nas pessoas, lutando para decifrar a verdade contida nessas palavras. Se realmente acreditamos que somos igreja, todos nós juntos devemos continuar tendo a certeza de que ninguém é marginalizado e que todas as pessoas são integradas ao Corpo de Cristo como igualmente abençoadas. Não podemos proclamar que somos igreja e depois esperar que o papa faça e diga tudo sozinho. É preciso criar na nossa igreja espaços onde se viva de formas novas e íntegras de celebrar a todos. Devemos continuar a viver nossas verdades bagunçadas. Sua declaração pode não ser o pronunciamento radical que estamos esperando da boca de um papa, mas para todos nós que foram feridos pela doutrina da Igreja sobre homossexualidade ou a pela falta de reconhecimento das pessoas trans, espero que esta dica de Francisco funcione como uma pequena dose de esperança com que nos curarmos. Pessoalmente, vou tirar daí o máximo que eu puder!
A radicalidade não está nas suas palavras em si sobre homossexualidade e sacerdócio, mas no fato de ele ter dito algo que sacudiu a todos nós. Temos de continuar fazendo a nossa parte... sair em peregrinação na JMJ, escrever cartas, conversar com membros do Magistério da Igreja em todos os níveis, educar os outros e a nós mesmos, criar espaços seguros... confiar que o Espírito irá agitar as águas por toda a Igreja. Somos Igreja e juntos, como Igreja, devemos encarar o desafio de compartilhar a mensagem de que "todos são igualmente abençoados" realmente significa que todos são igualmente abençoados. Com esta nova verdadeira bagunça nascida na JMJ, devemos permanecer comprometidos em agitar as águas, fazer perguntas nas sessões de catequese, conversar, propor orações que celebrem todas as pessoas... tudo isso sabendo, ao mesmo tempo, que Deus está fazendo a sua parte com e através do papa, dos bispos, dos sacerdotes, dos religiosos e de cada um de NÓS.,
As palavras do papa, todas juntas... "fazer uma bagunça", "viva a sua verdade" e "quem sou eu para julgar"... constituem um sinal de que talvez, na próxima Jornada Mundial da Juventude na Polônia, os peregrinos do Equally Blessed possamos compartilhar suas verdades bagunçadas sem ter de justificar quem somos e por que estamos lá e, assim, possamos simplesmente ser. Dou graças a Deus por que, por mais ínfima que seja a possibilidade de esperança que podemos encontrar nas palavras do Papa, a integridade que renasceu nesta JMJ deriva não só das palavras do papa, mas permeou e prosperou em todas as interações, abraços, elogios, sorrisos e conversas. Somos Igreja e, como Igreja, vamos continuar a fazer bagunças criadores de verdade, e a viver as verdades bagunçadas que proclamam que ninguém deve ser julgado, porque somos todos igualmente abençoados! Amém!
- Delfin Bautista, no blog do Equally Blessed Tweet
Nenhum comentário:
Postar um comentário