Foto: Pawel Swinarsky
Outra "práxis" da Quaresma - na verdade, de um estilo de vida do Evangelho - é a esmola. Geralmente, associamos a palavra a doar dinheiro para boas causas, mas isso é apenas parte de seu significado. Como Jesus ilustrou na sua reação para com a pobre mulher que entregou sua pequena doação no templo (deu mais do que os ricos, porque doou com mais generosidade do que eles), o significado espiritual de "dar" não é definido pelo número de zeros. Doar "pouco" em termos quantitativos pode ser doar tudo em termos espirituais.
Podemos doar para nos sentirmos melhores, ou parecermos melhores. Ou porque a necessidade de outra pessoa nos toca com tamanha intensidade que nosso ego se desmancha numa onda de compaixão. Ou por vermos algo que nos inspira a querer ser parte daquilo. Doar é é relativamente fácil. Apenas raramente, porém, chegamos ao ponto de doar sem levar em conta o custo, de nos entregarmos verdadeiramente a nós mesmos na doação.
É possível doar sem que nos custe nem que nos doa. Mas é do desapego, do soltar, que vem a dádiva mais difícil. Podemos impor condições ou exigências para a doação, o que nos poupa de efetivamente abdicar da posse. Como certas pessoas que se oferecem para integrar uma comunidade e chegam alardeando todo o talento e experiência que têm - tanto que a comunidade deveria sentir-se muito grata por ser digna de seus dons.
A esmola, porém, envolve mais do que dinheiro. É também o dom do tempo, ou da atenção, a partilha de nossos dons, ou simplesmente partilhar a luta ou o sofrimento pelos quais o outro está passando. Doar-se e desapegar-se são os segredos da vida espiritual, aos quais se chega pela quietude - o silêncio que é ponto de concentração de energia - e pela pobreza de espírito, que é movimento de desapego e desapropriação.
- Laurence Freeman, OSB
Publicado originalmente no site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil.
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