Porque viver é uma luta constante entre liberdade e escravidão, entre a liberdade que nos deixa inseguros, e o desejo de segurança que limita nossa liberdade, Pesach nos lembra de que a vida é uma travessia:
Entre o medo ao desconhecido que pode nos mudar e a curiosidade e a coragem de abrirmos para novos pensamentos e experiências.
Entre as expectativas dos outros e agir de acordo com o que consideramos certo e errado.
Entre a insegurança que não nos permitem reconhecer nossos limitações e a ironia que nos permite rir de nossa forma de ser.
Entre a fixação no trauma e sua superação.
Entre as vitrines externas e a vida interior.
Entre se queixar e agir.
Entre o dogmatismo e a abertura á opinião dos outros.
Entre ter e ser.
Entre contemplar e possuir.
Entre querer tudo e estar satisfeito com o que se tem.
Entre o supérfluo e o essencial.
Entre impor e dialogar.
Entre falar e ouvir.
Entre um passado que nos oprime e um passado que nos ensina.
Em Pesach aprendemos que o opressor tem delírios de onipotência, e para impor sua vontade quer dominar e controlar os outros para que se ajustem a seu desejo. Mas os seres humanos somos finitos e mortais.
E porque somos finitos e mortais, não controlamos o mundo.
E porque somos finitos e mortais, vivemos na incerteza.
E porque somos finitos e mortais, temos medos, inseguranças e carências afetivas.
E porque somos finitos e mortais, o outro é uma fonte de aprendizagem, apoio e alteridade.
E, como judeus, devemos sempre lembrar que Pesach nos ensina:
Que fomos perseguidos e nunca devemos perseguir.
Que fomos humilhados e não devemos humilhar.
Que fomos estigmatizados e não devemos estigmatizar.
Que fomos oprimidos e não devemos oprimir.
Que fomos confinados em guetos e ninguém deve viver em favelas.
Que toda escravidão termina em luta pela liberdade.
Por isso, em Pesach festejamos nossa disposição a sermos livres sem ocultar nem negar nossos medos, inseguranças e carências, e afirmamos nossa vontade de amar e aprender, e os valores da liberdade e da justiça.
Shehechyanu, ve´quimanau ve’higuianu lazman haze.
Que vivemos, que existimos, que chegamos, a este momento.
- Bernardo Sorj
Reproduzido via Amai-vos
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Caros leitores,
todos os comentários, dúvidas, sugestões ou críticas são bem-vindos; serão lidos com carinho e atenção e respondidos o mais rápido possível. Respeitamos o ponto de vista de cada um, mesmo quando diferente do nosso; porém, gostaríamos de esclarecer que, em respeito aos colaboradores e demais leitores deste blog, a equipe se reserva o direito de retirar comentários ofensivos ou que estejam em desacordo com o tema do post. Quem insistir em desrespeitar as boas normas de convivência deste blog poderá ser bloqueado.
Para que possamos identificar nossos interlocutores e facilitar o diálogo, não há a possibilidade de comentários anônimos. Pedimos que utilizem uma ID Google ou uma das IDs da opção OpenID - há uma lista de possibilidades e instruções para adquirir uma ID aqui.
Um abraço afetuoso.
Equipe Diversidade Católica