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sábado, 7 de abril de 2012

Pesach 5772/2012: Entre a liberdade e a escravidão



No deserto, toda a comunidade de Israel reclamou a Moisés e Arão. Disseram-lhes os israelitas: "Quem dera a mão de Deus não nos tivesse matado no Egito! Lá nos sentávamos ao redor das panelas de carne e comíamos pão à vontade, mas você nos trouxeram a este deserto para fazer morrer de fome toda esta multidão! " (Êxodo 16)

Porque viver é uma luta constante entre liberdade e escravidão, entre a liberdade que nos deixa inseguros, e o desejo de segurança que limita nossa liberdade, Pesach nos lembra de que a vida é uma travessia:

Entre o medo ao desconhecido que pode nos mudar e a curiosidade e a coragem de abrirmos para novos pensamentos e experiências.
Entre as expectativas dos outros e agir de acordo com o que consideramos certo e errado.
Entre a insegurança que não nos permitem reconhecer nossos limitações e a ironia que nos permite rir de nossa forma de ser.
Entre a fixação no trauma e sua superação.
Entre as vitrines externas e a vida interior.
Entre se queixar e agir.
Entre o dogmatismo e a abertura á opinião dos outros.
Entre ter e ser.
Entre contemplar e possuir.
Entre querer tudo e estar satisfeito com o que se tem.
Entre o supérfluo e o essencial.
Entre impor e dialogar.
Entre falar e ouvir.
Entre um passado que nos oprime e um passado que nos ensina.

Em Pesach aprendemos que o opressor tem delírios de onipotência, e para impor sua vontade quer dominar e controlar os outros para que se ajustem a seu desejo. Mas os seres humanos somos finitos e mortais.

E porque somos finitos e mortais, não controlamos o mundo.
E porque somos finitos e mortais, vivemos na incerteza.
E porque somos finitos e mortais, temos medos, inseguranças e carências afetivas.
E porque somos finitos e mortais, o outro é uma fonte de aprendizagem, apoio e alteridade.

E, como judeus, devemos sempre lembrar que Pesach nos ensina:
Que fomos perseguidos e nunca devemos perseguir.
Que fomos humilhados e não devemos humilhar.
Que fomos estigmatizados e não devemos estigmatizar.
Que fomos oprimidos e não devemos oprimir.
Que fomos confinados em guetos e ninguém deve viver em favelas.
Que toda escravidão termina em luta pela liberdade.

Por isso, em Pesach festejamos nossa disposição a sermos livres sem ocultar nem negar nossos medos, inseguranças e carências, e afirmamos nossa vontade de amar e aprender, e os valores da liberdade e da justiça.

Shehechyanu, ve´quimanau ve’higuianu lazman haze.
Que vivemos, que existimos, que chegamos, a este momento.

Bernardo Sorj
Reproduzido via Amai-vos

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