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segunda-feira, 9 de abril de 2012

O que está por trás (ui!) do Império Homossexual?


Semana passada, o Senador Magno Malta denunciou (conforme visto aqui) um suposto plano para a implementação de um Império Homossexual (sic).

Os ataques dos políticos contrários ao PLC 122 são perigosos e risíveis. Fico me perguntando se alguém, de fato, concorda que há orquestrado um plano para a criação de um Império homossexual no Brasil. E para além do desgosto com estes tais políticos, na minha humilde posição de quase-sociólogo e gay, tento entender a lógica simbólica que sustenta tais devaneios.

A polêmica em torno da homossexualidade, todos os ódios e mobilizações que suscita me instiga; por que alguém se dá ao trabalho de agredir pessoas que nada tem a ver consigo em plena rua, por estarem de mãos dadas com outra? Pegar um carro, uma arma e no meio de uma madrugada escura e fria atirar numa travesti que nem se conhece, perdida num local ermo de uma rodovia brutal em qualquer saída de grande cidade do país?

Apesar de ridícula, a expressão usada pelo senador em questão nos dá uma pista. "Império" é um símbolo de poder; que para além da dimensão política pertence, ainda hoje, ao homem branco, de classe média, heterossexual. O poder simbólico de um mundo construído para ele, o poder de acessar como naturais e simplesmente dadas, todas as lógicas que governam as relações, todos os mecanismos que localizam um ser humano na cultura, na história, na sociedade. É para conservar o homem branco heterossexual de classe média no topo dos tipos sociais que existe a homofobia, o racismo e o machismo. Já chega o que se perdeu com a liberação feminina e a nova consciência negra. Além disto agora, não se poderá mais afirmar o privilégio da própria identidade a partir do viado desviante? Sobre o que se afirmar superior senão em relação ao mais fraco?

E aqui reside a astúcia atual na lógica discursiva heterocêntrica: negar o desnível social, o privilégio heterossexual. Todas as atitudes ridículas do "Dia do orgulho hétero", da denúncia do "império homossexual" partem da falácia de que as identidades hétero e homo se dão nas mesmas condições de igualdade. Se assim fosse, reconhecer legislações específicas para os gays, seria, de fato, privilégio, um plus em relação à identidade hetero. Mas o fato é que legislações se fazem necessárias justamente porque há um desnível social entre gays e héteros, uma redução absurda no acesso a recursos próprios da cidadania para os primeiros. Desenvolve-se políticas específicas para grupos no sentido de possibilitar a estes iguais condições em relação ao restante dos cidadãos, isto é próprio da democracia já que a igualdade de todos perante a lei não é algo de fato dado, mas um objetivo a ser conquistado, também pela política.

A mesma falsa ideologia da igualdade de condições como pressuposto é usada, por exemplo, para explicar porque certos setores da sociedade avançam e outros nãos, ou porque países se desenvolvem e outros permanecem miseráveis. Negar as posições específicas dos atores sociais em relação à possibilidade de acessar os recursos democráticos é criar a base para se enxergar em qualquer tentativa de inclusão gay na cidadania plena um privilégio e não uma reparação devida. Estejamos atentos.

Leia também: O Império Homossexual (porque o riso é uma arma fundamental :-)))

* * *

Atualização em 10/04/12:
E o Tony Goes, em seu blog, entrega: fomos descobertos.
"O reverendo americano Louis P. Sheldon acaba de lançar no Brasil seu best-seller 'A Estratégia', que narra com volúpia de detalhes o nosso projeto de impor o homossexualismo satânico como religião obrigatória. O livro já está à venda no site do pastor Silas Malafaia, aquele que não gosta de ser chamado de homofóbico nem de intolerante. Fomos sumariamente desmascarados, mas também não tomamos o devido cuidado: afinal, estamos lidando com gênios de incrível perspicácia." Aqui.

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