Nós rezamos em silêncio sentados a seu lado, nós nos sentamos na mesa à sua frente e mantivemos conversas cordiais durante jantares, nós educamos nossos filhos e cumprimentamos você no final do serviço religioso de sexta-feira (shabat). Nós desfrutamos da maioria dos sucessos que você desfrutou e sofremos boa parte de suas derrotas. E, fizemos isso tudo mantendo um segredo, um segredo tão impressionante e abrangente quanto nosso próprio ser. E então, quando o fardo do segredo foi demais para suportar, nós saímos. Nós saímos cedo ou saímos tarde, mas, invariavelmente, nos tornamos fofoca naqueles jantares e no final daqueles serviços religiosos, segredo que só podia ser mencionado a baixa-voz ou em sussurros.
Nosso Judaísmo foi duplamente – triplamente – exílico. Nós fomos primeiramente forçados para fora de nossa identidade sexual e, a seguir, fomos forçados para fora do Judaísmo. E a única alternativa era esconder uma das duas identidades, para poder preservar a outra.
Eis que chegou o tempo perfeito para que nossas vozes sejam ouvidas e para que o rumor de nosso silêncio se torne uma conversa honesta. A conversa de uma comunidade – das comunidades – que devem se reconhecer diferentes do que acreditam ser. É chegada a hora para que as comunidades deixem de ser comunidades de sussurros e silêncio. No espírito da tradição judaica, permitam-nos dizer que estamos aqui – Hinenu – para que o silêncio possa ser quebrado, o fardo possa ser aliviado e a responsabilidade pelo outro possa ser plenamente assumida.
Nós não buscamos um espaço vazio para preencher com nossas peculiaridades, que podem muito bem ficar longe da indignação e da aversão daqueles que preferem nossa invisibilidade e silêncio. Nós não buscamos nos tornar uma curiosidade para exploração antropológica ou sociológica. Nós não buscamos uma separação que relegue nossa diversidade em algum consenso estranho. O que almejamos é nosso lugar de direito entre nossos amigos e familiares. O que almejamos é nosso lugar de direito em nossas comunidades. E fazemos isso integralmente, enquanto judeus e sexualmente diferentes.
E então, naquelas comunidades, deixaremos de ser um sussurro, para que a menção de nosso nome e a dúvida sobre nossa identidade esqueça seu passado de vergonha; esqueça a vergonha de ter que se silenciar e esqueça a vergonha de não ser mencionado. Esta é nossa missão, enquanto missão assumida no espírito do Judaísmo, que não é tolerância mas integração. Esta é a volta do exílio.
A missão pode parecer simples, mas é imensa. A realização de nossas aspirações exige um reconhecimento coletivo de nossas existências entre nossas comunidades; exige educação, conversa, reflexão e consideração dos comentários.
E é este o trabalho que se nos apresenta. O que é mais necessário agora é uma conversa aberta.
- Grupo Keshet Ga'avah (ou aqui)
Fonte: Espiritualidade Inclusiva
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Equipe Diversidade Católica