Arte: Anthony Burrill
"O que vocês acham disto? Certo homem tinha dois filhos. Ele foi ao mais velho, e disse: ‘Filho, vá trabalhar hoje na vinha’. O filho respondeu: 'Não quero'. Mas depois arrependeu-se, e foi. O pai dirigiu-se ao outro filho, e disse a mesma coisa. Esse respondeu: 'Sim, senhor, eu vou'. Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?" Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: "O filho mais velho." Então Jesus lhes disse: "Pois eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino do Céu. Porque João veio até vocês para mostrar o caminho da justiça, e vocês não acreditaram nele. Os cobradores de impostos e as prostitutas acreditaram nele. Vocês, porém, mesmo vendo isso, não se arrependeram para acreditar nele".
- Mt 21, 28-32
Esse texto de Mateus é parte de um longo diálogo entre Jesus e as autoridades religiosas do Templo (Mt 21, 23ss). O Templo era o centro da vida dos judeus, mas dele, por força da Lei, eram excluídos, não podendo participar dos sacrifícios, os pobres, os deficientes...
Jesus inicia o diálogo, dirigindo aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo e, hoje, a cada um de nós, uma pergunta: “Que acham vocês disto?” A seguir, relata uma parábola, ou seja, uma história verdadeira ou fictícia que visa ensinar uma verdade.
O emprego contínuo de parábolas por Jesus sintonizava plenamente com o método de ensino utilizado no Templo e nas sinagogas. Os escribas e os doutores da Lei faziam um grande uso das parábolas e da linguagem figurada para ilustrar suas homilias.
A parábola dos dois filhos aqui citada visa esclarecer o tema do cumprimento da vontade de Deus: “Qual dos dois fez a vontade do pai?”.
Inteiramente opostas foram as respostas dos dois filhos ao convite do pai de trabalhar em sua vinha – que podemos considerar como sendo o mundo. A resposta à pergunta que encerra a parábola é de uma clareza meridiana: palavras proferidas, mas não corroboradas por ações, carecem totalmente de valor. Disso se dão logo conta os interlocutores de Jesus, ao responderem prontamente: “O filho mais velho”.
Fazer a vontade de Deus já constituía, segundo a Torá (Lei), o eixo em torno do qual girava toda a religião da Primeira (Antiga) Aliança. Mas, na Segunda (Nova) Aliança, a revelação plena e perfeita da vontade de Deus é feita por Jesus, que anuncia a vinda do Reino e chama todos à conversão (Mt 4,17).
Para cada um de nós, pessoalmente, que significa “fazer a vontade de Deus?".
O texto apresenta, em seguida, uma afirmação muito forte de Jesus: “Pois eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino dos céus”. Ora, os sacerdotes e os anciãos eram as autoridades máximas do povo judeu, os que conheciam a Lei, os peritos nas coisas de Deus.
Os cobradores de impostos e as prostitutas, considerados por eles como pecadores, seres desprezíveis a serem evitados, representam bem os marginalizados e os excluídos: são os “fora da Lei”, proibidos de entrar no Templo. Como explicar que estes últimos, tenham preferência em relação aos primeiros no Reino de Deus? Voltemos aos dois filhos da parábola.
O que cumpre a vontade de Deus – o filho mais velho - representa cada um/a dos/as marginalizados/as e excluídos/as, ao passo que o mais novo corresponde aos chefes do povo.
Com efeito, ao responderem a Jesus, reconhecendo no mais velho aquele que faz a vontade do pai, os interlocutores delatam-se a si mesmos: conhecem a verdade, mas não a põem em prática. Seu agir não corresponde ao que dizem e ensinam.
A parábola denuncia, portanto, a má conduta dos que não acolhem Jesus e sua proposta, dos que falam de Deus com os lábios, mas não com a vida.
Tanto João Batista quanto Jesus experimentaram a rejeição obstinada dos sacerdotes, dos fariseus, dos escribas e dos anciãos do povo, fiéis observantes, todos eles, da Lei mosaica.
E, ao contrário, tiveram também a experiência de serem bem acolhidos pelos/as excluídos/as do seu tempo: as mulheres de rua e os fraudulentos cobradores de impostos que, uma vez convertidos/as, acolheram o anúncio do Reino e mudaram de vida, tornando-se discípulos/as por palavras e por obras.
Transformaram, assim, a experiência pessoalmente vivida da Misericórdia de Deus em instrumento eficaz de sua Justiça em favor dos pequeninos e dos pobres.
Quando e como experimentamos, em nossa pequenez, a Misericórdia de Deus? Seguimos a Jesus somente de boca ou também com nossas vidas? Demonstramos por nossas atitudes, por nosso relacionamento com os/as demais, por nosso trabalho cotidiano, estarmos realmente comprometidos com o espírito do Evangelho e engajados na construção do Reino?
(Reproduzido via IHU, com grifos nossos.)
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